Cortejos e Colagens

  Um privilégio para Sergipe, mais diretamente para Aracaju, estar incluído pelo segundo ano consecutivo no circuito do Instituto Música Brasilis, que

Lucio, Rosana, Stela e Eduardo Garcia, após o espetáculo no Teatro Tobias Barreto

 resgata preciosidades da música erudita e popular brasileira e mescla, num mesmo espetáculo, talentos consagrados nacionalmente com a chamada “prata da casa”.
  Ano passado, tivemos a oportunidade de participar do VII Circuito, no teatro Tobias Barreto, em comemoração ao sesquicentenário de nascimento do compositor Carlos Gomes, com a nossa ORSSE cumprindo magistral desempenho da ópera O Guarani, peça baseada na obra literária de José de Alencar. 
  Dessa vez, o VIII Circuito, ocorrido nesta quarta-feira, 27 de setembro,  encerrou a sua programação anual em Aracaju, com uma notável homenagem ao maior compositor brasileiro do período colonial, o padre José Maurício Nunes Garcia, festejado em 2017 pelos 250 anos de seu nascimento. Mulato, filho de escravo, pobre, Garcia recorreu à batina e à música para fugir do seu destino. Morreu em 1830, com 63 anos. Com a chegada da corte portuguesa ao Brasil em 1808, o compositor brasileiro foi designado por Dom João VI como mestre da Real Capela. Produziu peças sacras e dramáticas, destacando-se a Missa Santa Cecília, a sua derradeira e mais importante composição.
  O repertório executado com maestria pela nossa Sinfônica, sob a regência do maestro Guilherme Mannis, foi impecável. Já disse em outra oportunidade e repito aqui que nada mais escapa à sensibilidade e à maturidade da nossa ORSSE, ao mostrar peças desconhecidas do grande público e que, nem por isso, deixa de empolgar e arrebatar aplausos apaixonados. Acrescente-se ao conjunto, o Coro Sinfônico, regida pelo talentoso Daniel Freire, as solistas Marília Vargas (em magnífico desempenho) e Nalini Menezes, com a narração do ator Andresson Dias, no papel do padre compositor.
  Rosana Lanzelotte, do Instituto Musica Brasilis, responsável pela concepção desse magnífico projeto, morou em Aracaju ainda jovem, quando a sua família se transferiu para a nossa cidade em função do trabalho de seu pai numa repartição federal. O seu carinho por esta terra e a competência da nossa ORSSE conjugaram o mesmo verbo e essa junção de fatores, creio, colocou Aracaju no circuito. Espero que esse vínculo não se quebre, para que os sergipanos, que lotaram o Teatro Tobias Barreto na noite desta quarta-feira, possam continuar usufruindo desses momentos mágicos, tão bem concebidos e executados. A sua honrosa presença no Teatro nesses dois espetáculos é prova cabal que isso de fato vai acontecer.
  O padre e compositor José Maurício Nunes Garcia, que carregava nas costas o “defeito da cor”, termo usado na época para designar os descendentes da raça africana, vai do reconhecimento imperial ao esquecimento “republicano”, e tem assim a sua obra revisitada no Século XXI, graças ao magnífico e elogiável trabalho do Musica Brasilis,  que propicia aos amantes da música um panorama abrangente de mais de cinco séculos de música.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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