“Lula tem que morrer!”

“¡Viva el cáncer!”; assim amanheceram pichadas as ruas de Buenos Ayres quando os argentinos souberam que sua Vice-Presidente, Evita Peron, estava acometida de doença terrível, terminal.

O inimigo nunca trai. Ele é insaciável. Nada o detém; nem o sofrimento, a piedade, a comiseração com o infausto do outro. Menos ainda a solidariedade cristã!

O inimigo, e isso não é abjeto nem desonesto, o inimigo é movido por um motriz desafeto.

Tudo vale a pena para fulminar o antagonista, até mesmo defecar na cova de sua descendência.

Já o amigo, é costume dizer, o amigo trai sempre.

Trai, esquece e justifica.

E se absolve, ora essa!

Quem não o faz, se as circunstâncias definem o desejo e a vontade?

Assim, volta a frase mote impiedosa, qual punhal sicário de uma manifestação sinistra e pusilânime: “¡Viva el cáncer!”

É o que está a acontecer com o Ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no aguardo de um julgamento em prévias de Fla-Flu.

Eis que se aproxima o dia desejado: 24 de Janeiro. Dia em que se espera o justiçamento de Lula, no patíbulo erigido pela nossa democracia.

Ah, Democracia! Quantos crimes são cometidos sob seu pálio!

“O tempora! O mores!” Cada tempo com os seus julgadores e acusadores!

“O rei tem que morrer!”

Não era assim que gritavam os corifeus revolucionários das luzes, quando a Liberdade, fora erguida enquanto palavra maiúscula, igualitária e cidadã, amparando e justificando tantos crimes, com acusadores, julgadores e jurados, tudo sob o escopo da lei, mas açulados pela mídia, em tantos “Arquibaldos e Geraldinos” alucinados, a coagir até a defesa do régio réu? E da rainha? E depois dos valetes e serviçais? Alguns sendo condenados “in absentia”, por necessário!

Não está o julgamento de Lula, adrede preparado assim?

A toque, de caixa, repique de sino, responso de matraca, ansioso para comandar a carreta que execrará o condenado?

Por que tudo isso? Porque Lula o merece! Ora essa! Seu legado infelicita o eleitor que o elegeu.

Ele decepcionou o seu eleitorado, sobretudo aquele que nutriu esperança com um operário iletrado na Presidência da República.

Não foi assim a propaganda vitoriosa, com tanta gente orgulhosa exibindo a estrelinha do PT?

Um operário sendo oferecido ao conjunto descabeçado de bem falantes, segmento que não se felicita no espelho presente, nem aquele retrovisor, afinal para estes bem pensantes, por comichão gostoso de bicho-de-porco, ou pé-de-atleta mal cheiroso, somos um país carente de amor próprio; uma pátria sem santos, sábios, hereges ou heróis, em excesso de bandidos, falando mal da Colônia, do Império, da República Velha ou Nova, da Ditadura Civil ou Militar, dos Réis, Mil-réis, Cruzeiros, Cruzados e Reais; “nada é bom e nada presta!”

E por conta deste real pensar bem-falante, não nos acusam de ser um deserto de homens e ideias?

Nós, um gigante pigmeu, por escolhas próprias? E até quem o sabe, não nos denunciam as avaliações externas como um outro “país de merda”?

Para estes, bons falantes, pensadores da terra pátria, na ausência de uma escolha pior, um abilolado ou cacareco de pior desejo, não estamos a viver a ressaca de uma noitada ébria que nos desconsola sem nos redimir?

Uma indigestão de náusea injustificável, afinal o Lula teve um grande mérito neste país que deveria gratificar gregos e troianos: pacificou a alma nacional em desconsolos de capital e trabalho, sem necessidade de experimentos totalitários.

Porque nesse país verde anil, branco e amarelo pregando “Ordem e Progresso”, nunca germinou tanto sonho rubro, que nem Lênin veria em demasia ao seu redor, sem desalento.

Desilusão também dos que mourejam na desesperança, porque os famintos sempre estarão preocupados com a própria sobrevivência, enquanto os radicais permanecem enraivecidos contra a oportunidade perdida de um Lula que lhe traiu a luta, por não ser um deles. E ser quase igual a Getúlio Vargas, um conciliador, ou quem o sabe, alguém que cedeu ao canto da sereia do grande capital. Getúlio e seu “mar-de-lama” e Lula com o “lulo-petismo”.

Corrupto Capital, mas necessário, porque sem ele nada funciona, como relata a História dos povos.

E assim Lula tem que ser condenado! Serviu-lhe em demasia. Exige a torcida contrária enraivecida.

Melhor seria, dizem em jocosas mensagens de internet, que morresse com a mesma bala de Vargas, já que o câncer de Evita não lhe foi fatal.

Se pelas vésperas se conhecem as festas, em tantos excessos de prejulgados, contemplo um justiçamento assaz programado.

“É bom que seja assim!” Estão a repetir alguns articulistas da grande imprensa sulista. “Será melhor para o país em prévias eleitorais”.

E quando isso acontece, “Danem-se as provas!”

Depois da entronização do “Domínio do Fato”, vale até o genocídio sem cadáver, com mensuração imensurável.

Assim,“¡Viva el cáncer!” repete o cartaz anônimo, agora, quase igual indecoroso, em louvação ao julgamento programado.

“Que Lula seja condenado ao patíbulo, às galés ou ao calabouço; imaginário ou real. E tenha que ouvir calado a própria paga pelo supremo erro de ter dado, um dia, alguma esperança a nosso povo!”

Não sou PT, nem gosto do PT. Pior do que o PT, só os comuns idiotas e anti-PTs.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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