"A indústria da malandragem", por Luciano Correia
15/10/2002


Num país onde a cidadania só aparece de 2 em 2 anos nos programas eleitorais, foi o Ministério Público quem teve a inspiração de acabar com a pouca vergonha da indústria de multas, perpetrada aqui pelo nefasto consórcio SMTT - Detran. Pouca vergonha é eufemismo: aquilo era uma roubalheira que só a letra da lei foi capaz de acabar.

A fofocagem
Um dia após ser eleito deputado federal, "petista" João Fontes se dedica ao seu esporte predileto: a fofoca. Pois enquanto o PT local pisa em ovos para compor uma aliança ampla e aumentar a votação de Zé Eduardo, o narcisístico deputado eleito pela Igreja se empenha e "denunciar" o que, o seu entendimento, seria o uso da máquina da Secretaria de Saúde do Estado para favorecer um candidato a deputado. Este deputado - pasmem- seria do próprio partido de J.F., o vereador Samarone. A tese do vaidoso deputado eleito é provar que o governador Albano Franco estaria por trás da campanha de Samarone, e, portanto, da candidatura petista. A tese, na verdade, não é de Fontes e sim do ex-governador João Alves, que desde o início do ano passado insiste numa esquisita aliança Deda-Albano. Trata-se, evidentemente, de cena eleitoral, provocação para tentar sair da posição de vitrine e passar a atirador. O estranho é a coincidência entre o falastrão deputado e o líder do PFL, afinal, desde muito se fala abertamente que J.F. estaria cumprindo uma missão pefelista dentro do Partido dos

Trabalhadores
Não é demais acreditar que o barulhento João Fontes serviria de cavalo de tróia, afinal, se há uma coisa que ele jamais foi é militante do PT. Ao contrário, João Fontes e seus apoiadores fazem questão de apresentar-se publicamente como "independentes", livres das amarras ideológicas que, no entender de sua congregação, limitaram as ações dos homens públicos. É falsa a premissa e eles sabem disso. Primeiro, porque militam com dedicação canina a um abstrato "Conal", conselho de não-sei-o-quê e que visa, em última análise, esvaziar o poder e limitar as ações de órgãos institucionais, governos, numa atitude claramente desagregadora. É uma espécie de anarquismo de direita, uma sabotagem ao bom funcionamento da democracia. Segundo, porque como "militantes", não obedecem o chamado "centralismo democrático", o princípio da fidelidade partidária que sobrepõe o coletivo ao pessoal. Fontes e seus apoiadores não obedecem os mandamentos do partido, abrigados numa curiosa zona de sombra na qual não se consideram militantes para seguir o partido, com direito a críticas em público e separação do projeto do coletivo. Ao "denunciar", sem provas nem argumentos, a utilização da máquina do governo do Estado para beneficiar um correligionário, João Fontes não apenas incorreu numa irresponsabilidade, como também atropelou a ética do seu partido e ainda vestiu a roupa de traidor. Em vez de bravatear, o "independente" João Fontes deveria concentrar seus esforços na única tarefa cívica que se apresenta para o momento, que é ajudar Lula a ganhar as eleições e apoiá-lo no Congresso. Fofoca, como se dizia antigamente, é coisa de mulher ruim.


Por Luciano Correia
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