As perguntas que nem os autores sabiam ler
29/10/2006


Seria o escriba muito ingênuo para acreditar que aqueles populares, de voto ainda indeciso, recrutados pela Rede Globo para o debate realizado na noite de sexta-feira, prepararam, eles próprios, as perguntas que estavam nos cartões do programa e que mal sabiam ler. Mas foi justamente essa conotação popular, e a qualidade dos textos das perguntas, que diferenciou o debate da Vênus Platinada das demais.

O melhor debate, sem dúvida, foi o primeiro da Band, aquele que mostrou um Geraldo Alckmin revoltado e irado, partindo como um pit-bull contra um nervoso e surpreso Lula. Os outros, exibidos pela Record e SBT, foram monótonos e até repetitivos. O do SBT só faltou mesmo ser apresentado por Silvio Santos. O da Rede Globo teve a façanha de inovar. Só em um bloco houve um confronto direto entre Alckmin e Lula colocados numa arena, em pé, ambos com os nervos a flor da pele.

Pelo que as câmeras puderam captar, Lula não está contendo os nervos. Aproximava-se demais de Alckmin e a gente até ficava esperando uma cena de pugilato que felizmente, claro, não aconteceu. A primeira pergunta, sobre Educação, surpreendeu Lula que não chegou a completar seu raciocínio no tempo que lhe foi concedido. Alckmin lamentou que 2,5 milhões de crianças estejam fora da escola. O candidato tucano, depois, anunciou um programa de desoneração da folha de pagamento para que seja possível criar novos empregos. 

O mesmo Alckmin propôs um outro programa, este na área de Habitação pelo qual o interessado pagaria mensalmente apenas 15% do que ganhasse. Lula parece não ter gostado muito da pergunta sobre o baixo número de carteiras assinadas. Só faltou dizer que nem todo mundo pode ter carteira assinada. Um reconhecimento histórico: Lula disse que o Plano Real deu certo nos dois anos iniciais, mas, depois, em 1998, “o Brasil quebrou”. 

A eleição deste segundo turno ficará conhecida, no futuro, como a dos debates e das pesquisas. Todo dia saía uma cantando a vitória de Lula. No caso dos debates faltou apenas algo mais criativo para atrair o espectador.

Por Ivan Valença