Ataques marcam o primeiro debate entre Alckmin e Lula
09/10/2006


O primeiro debate do segundo turno colocou frente a frente os dois candidatos à Presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na sede da Rede Bandeirantes, no Morumbi, zona sul de São Paulo. Durante os cinco blocos do programa, os candidatos não pouparam críticas mútuas e apresentaram denúncias de corrupção em seus governos.

Alckmin atacou o caso da compra do dossiê que seria usado pelo PT para comprovar o envolvimento de tucanos com a máfia das ambulâncias e exigiu a apuração da origem do R$ 1,7 milhão que seria pago pelo documento. Lula, por sua vez, questionou o arquivamento de 69 CPIs no governo de Alckmin em São Paulo.

Primeiro bloco
No primeiro bloco do debate, os dois candidatos responderam a uma pergunta do jornalista Ricardo Boechat sobre cortes no gasto público para a próxima gestão. Alckmin prometeu cortar despesas com a corrupção e reduzir o número de ministérios. "Vou cortar gastos nas compras superfaturadas. Economizei em 3 anos e meio R$ 4 bilhões só com compras. Teremos eficiência e combate ao desperdício. O Brasil tem que ser o primeiro entre os países emergentes. Esse é o meu compromisso."

O candidato Lula rebateu: "eles (PSDB) já governaram antes e ficou claro que o que eles sabem fazer é cortar onde não deve cortar, que é no salário dos servidores. Me parece que o governador não esteve no Brasil nos últimos quatro anos, senão ele iria começar esse debate me agradecendo pelas mudanças neste País", disse.

Alckmin citou o caso dossiê logo na primeira pergunta que fez ao petista e exigiu a descoberta da origem do dinheiro que seria usado para a compra do "dossiê fajuto". Os documentos comprovariam o envolvimento de candidatos tucanos com a máfia das ambulâncias.

"Eu não sou policial. Sou presidente da República. Hoje, a polícia tem regras para investigar, e a investigação é demorada. O que é pertinente ao presidente nós fizemos, afastamos todas as pessoas envolvidas. Agora cabe à polícia investigar", respondeu Lula.

O petista questionou o arquivamento de 69 CPIs no governo tucano em São Paulo e relacionou Barjas Negri (PSDB), ex-ministro da Saúde, com a máfia das ambulâncias. "A máfia começou no governo do PSDB", disse.

Alckmin negou a afirmação do petista e prometeu investigação caso as denúncias fossem comprovadas. "No meu governo, se alguém errar, fui eu que errei", afirmou o candidato, cobrando que o presidente assumisse sua responsabilidade no caso. Alckmin citou os ministros de Lula que precisaram sair do governo por conta das denúncias, e Lula afirmou que eles foram punidos.

O tucano rebateu dizendo que os ministros não foram punidos e, sim, "derrubados" pelas circunstâncias insustentáveis. E declarou que o governo só é "violento" com o caseiro Francenildo Costa, que teve seu sigilo fiscal quebrado após denúncias contra o ex-ministro Antônio Palocci (Fazenda).

Segundo bloco
No segundo bloco do primeiro debate entre os candidatos à Presidência, o Lula perguntou a Alckmin por que ele não apurou, quando governador, os pedidos de CPIs instaurados em sua administração. "Acho que a obrigação de um presidente é apurar, doa a quem doer", afirmou Lula. O presidente afirmou que o tucano "soube de fatos graves" em sua gestão e não deixou que fossem investigados. Alckmin rebateu dizendo que todas as comissões precisam ser aprovadas pelo plenário da Assembléia Legislativa de São Paulo.

O tucano se manteve no ataque e disse que o Brasil não vai crescer mais porque o governo não tem mais "equipe" e defendeu o governo de FHC. Afirmou que as privatizações foram processos de leilão público, o que é muito diferente de "dinheiro na cueca".

Ao questionar os gastos do governo federal, Alckmin citou o uso do cartão de crédito corporativo da Presidência que, segundo ele, teria tido um aumento "exponencial". O tucano ainda desafiou Lula a abrir o sigilo deste cartão. O presidente rebateu chamando Alckmin de "leviano" e lembrando que o cartão havia sido criado no governo FHC. E questionou, apontando para a platéia: "aliás, não o trouxeram por quê?".

No fim do segundo bloco, Lula e Alckmin abandonaram o tema corrupção e partiram para a cobrança de obras e projetos em ambos os governos. Alckmin falou sobre o programa Renda Cidadã e ironizou o presidente por dizer que ele atendia apenas 170 famílias, quando são 170 mil. Ao que Lula respondeu que era uma diferença muito pequena perto das 11 milhões de famílias beneficiadas pelo programa federal Bolsa-Famlia.

Terceiro Bloco
Na abertura do terceiro bloco, Lula questionou Alckmin sobre segurança pública e citou os ataques do PCC em São Paulo. "O Lula se comporta como comentarista, se omite e se esconde do problema. Tiramos da rua 90 mil bandidos", respondeu. "Todas as grandes cidades do País têm problemas de segurança pública e eu não vou me omitir. Não vou dizer que esse é um problema dos governadores", completou.

O tucano citou os problemas nas rodovias federais do País e criticou a Operação Tapa-Buracos realizada pelo governo federal neste ano. "Terminamos a BR-116, a BR-381. Estamos restaurando 26 mil quilômetros de rodovias em todo País, porque no governo passado o dinheiro foi passado e nada foi feito. Vocês pensavam pequeno", rebateu o petista.

Ao entrarem na questão da política externa, Lula afirmou que seu governo é "ousado" e parou de depender apenas dos Estados Unidos para ampliar o relacionamento comercial com outros países. Sobre a questão da Bolívia, o presidente declarou que o governo daquele País "fez com o gás o que todos os países do mundo fizeram com o petróleo". Disse ainda que é preciso negociar porque o gás é o único patrimônio que a Bolívia tem.

Alckmin voltou a chamar o presidente de "fraco" e "omisso" por não defender os interesses do Brasil na questão. Citou ainda a invasão de produtos chineses no País, que está "quebrando" a indústria nacional de calçados. Ao que Lula respondeu que é preciso bom-senso para lidar com outros países e que se o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, tivesse esse mesmo "bom-senso" não haveria guerra no Iraque.

Na área da energia, Alckmin acusou o governo de "enfraquecer e politizar" as agências reguladoras, além de não investir na construção de hidrelétricas. Lula respondeu citando investimentos em energias alternativas, como a eólica, o biodiesel e lembrou a auto-suficiência da Petrobras. Na tréplica, o tucano declarou que o Brasil vai ter problemas de falta de energia em pouco tempo.

Quarto bloco
No quarto bloco, os candidatos responderam a questões de jornalistas da Bandeirantes. Questionado pelo jornalista Franklin Martins sobre as denúncias de corrupção em seu governo, Lula respondeu reiterando que, quando souber, vai punir e que essa é "a lógica da ética". Alckmin, por sua vez, chamou Lula de "arrogante" por não responder a questões referentes à ética em seu governo.

Respondendo a uma acusação do bloco anterior, de que viajaria num avião "caríssimo", Lula afirmou que Alckmin foi governador e "andou de avião para cima e para baixo, com um avião pago pelo povo de São Paulo". O tucano replicou prometendo vender o chamado "Aerolula" para construir cinco hospitais.

Ao ser questionado sobre as medidas a serem tomadas para alavancar o crescimento do Brasil, Alckmin voltou a criticar os gastos do governo. Afirmou que é preciso cortar os maus gastos e acusou a União de investir mais em publicidade do que em saneamento básico.

Na réplica, Lula declarou que "de gastos em publicidade o Alckmin conhece, é só investigar a Nossa Caixa". O petista afirmou que o Brasil vai crescer porque seu governo deu as bases para que isso aconteça.

Quinto bloco
No último bloco do debate, Alckmin negou que privatizará as estatais brasileiras. "O que foi privatizado o foi porque era necessário", justificou o tucano. Lula, por sua vez, citou a educação e criticou a redução de 131 mil vagas no Ensino Médio e mostrou dados que comprovaram a alta da reprovação. "No Estado de São Paulo ainda existem escolas de lata. Ainda tem 179 escolas do Estado que são prejudicadas porque estudam na hora do almoço", criticou o presidente.

Na tréplica, Alckmin negou a existência de escolas de lata e acusou o governo federal de tirar dinheiro da cota de educação aos municípios, chamando o ato de "manobra vergonhosa". "Ele mais uma vez se omite, porque essa é a marca dele", rebateu Alckmin.

Nas considerações finais, Lula se disse convencido de que poderá fazer "muito mais e muito melhor pelo Brasil", em um eventual segundo governo, porque "o alicerce está pronto". O petista prometeu geração de empregos e "exportação de conhecimento", que gerará o crescimento do País. Lula assegurou participação nos próximos debates na TV.

Alckmin, por sua vez, voltou a destacar sua presença em todos os debates e prometeu compromisso com o desenvolvimento. "O Brasil está perdendo oportunidades. O PT já teve sua chance e deixou passar sua chance", disse. "O Brasil não pode continuar do jeito que está. O Brasil precisa ter valores, ética e responsabilidade. Essa é a palavra de um governante para o Brasil avançar". 

Fonte: Redação Terra