Lula vira alvo de críticas e ataques de adversários na TV
29/09/2006


A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição pelo PT, no último debate entre candidatos à Presidência na televisão, foi aproveitada por seus adversários para fazer ataques à corrupção em seu governo. "Faltar a um debate como este é uma forma de corrupção (...) Não é uma corrupção de roubar dinheiro, mas uma corrupção de roubar esperança", disse Cristovam Buarque (PDT), ao responder a uma pergunta feita pelo candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, sobre os escândalos no governo.

 

Pouco antes, usando o direito de fazer uma única pergunta a quem estivesse ausente no debate da TV Globo, Cristovam direcionou sua metralhadora para Lula e disse que a candidatura dele está sob suspeição por causa do suposto uso de recursos públicos em casos de corrupção.

 

O pedetista emendou com uma contundente pergunta: "Se o senhor for eleito, apesar disso (das denúncias de corrupção), e depois se comprovam todas essas suspeitas, o senhor renunciará ao cargo? E diante disso, estamos votando no senhor, ou no vice-presidente José Alencar?"

 

As quase duas horas do programa serviram mais para atacar Lula e para a apresentação de algumas propostas de governo, do que para um debate mais acalorado entre os três candidatos, que tinham a estratégia clara de usar o programa para tentar levar a disputa eleitoral para o segundo turno.

 

Cristovam considerou, após o debate, que não houve confronto entre os candidatos e que o programa esteve muito próximo do diálogo.

 

Durante as considerações finais, Alckmin lamentou a ausência de Lula e disse que a atitude do presidente poderia ser interpretada como uma falta de respeito com o eleitorado.

 

"O Lula, com a sua ausência aqui, nesse debate, mandou um recado aos brasileiros e às brasileiras: 'eu não estou interessado na sua opinião, eu não preciso prestar contas para ninguém"', discursou o tucano. "Domingo, mande um recado para ele (Lula), mude de presidente", completou.

 

Ao final do debate, quando indagado por jornalistas se a ausência de Lula não era uma repetição do que havia feito o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Alckmin respondeu: "Um erro não justifica o outro".

 

Cristovam também aproveitou seus dois minutos de considerações finais para pedir que aqueles que votaram em Lula há quatro anos e se sentiram defraudados levem o pleito deste domingo para o segundo turno.

 

"Façam com que o Brasil tenha um segundo turno (...) Vote em um daqueles que vai permitir que haja segundo turno. Gostaria muito que fosse na minha proposta, na minha causa, mas se não for, que seja em outro, mas que haja segundo turno", disse.

 

Já a senadora Heloísa Helena, candidata do PSOL, se mostrou emocionada ao agradecer aos eleitores que participaram de sua campanha. "(Quero agradecer) aos idosos que pareciam e que estavam substituindo o pai, que eu não tive, que morreu quando eu era muito bebêzinha. Eu sei que honrei a minha mãe, ao meu irmão que está aqui, ao meu irmão que morreu, ao meu pai que está no céu, aos meus filhos", disse com voz embargada.

 

Regras rígidas

 

Apesar das rígidas regras definidas pela TV Globo para o debate, os candidatos desrespeitaram, por várias vezes, os temas escolhidos para atacar incansavelmente o presidente.

 

"Gostaria de lamentar a ausência do Lula, que é um desrespeito não a nós candidatos, não a mim, mas é um desrespeito ao eleitor, que quer informação para poder decidir seu voto no domingo", afirmou Alckmin ao iniciar uma resposta que deveria tratar de impostos.

 

Além dos ataques a Lula e da apresentação de propostas, Heloísa Helena acrescentou mais um ingrediente em suas participações em quatro dos cinco blocos do programa: os ataques ao governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, colega de partido de Alckmin.

 

"Em relação aos problemas de desemprego, esses problemas, governador Alckmin, foram inclusive iniciados no governo Fernando Henrique, do partido de vossa excelência", disse a senadora alagoana.

 

Antes, no entanto, ela atirou no presidente-candidato, que não foi ao debate. "Quero repudiar a ausência do candidato Lula. Ele tinha obrigação de descer de seu trono de corrupção, arrogância e covardia política. Tinha de estar aqui."

 

Fonte: Reuters