Instituições trabalham juntas em apoio às prostitutas

“Ninguém perguntou a essas mulheres se elas escolheram ser prostitutas”, Candelária.
Em todo o Brasil, existem diversas instituições que lutam pelos direitos destas mulheres. Salientando que apesar de desenvolverem uma prática considerada ilegal, devem sim, como cidadãs, lutar pelos seus direitos. Em Aracaju, foi fundada oficialmente no dia 5 de agosto de 1990, pela ex-prostituta Candelária, a Associação Sergipana de Prostituição – ASP. Com o objetivo de garantir a cidadania das prostitutas sergipanas além de desenvolver um trabalho de educação, cidadania e cultura da paz.

Antes da fundação da ASP, Candelária ajudou a criar o Grupo de Apoio e Prevenção à Aids em Sergipe – Gapa/SE. À frente da Associação, denunciou a violência e os abusos da polícia contra as profissionais do sexo, que eram obrigadas a transar de graça com os policiais, além de servirem como faxineiras das delegacias. Passou a reivindicar atendimento médico para a categoria, representou a associação na Eco-92 e, no ano seguinte, recebeu do Ministério da Saúde o convite para tocar o Programa de Intervenção Comportamental Junto às Prostitutas. Em vigor desde 1994, o programa custou cerca de 6 000 dólares e atendeu 112 mulheres, que fizeram teste para detecção de HIV e receberam preservativos. Já em 1995, o programa “Previna-se Mulher, Previna-se Menina”, orçado em 65 380 reais, ofereceu atendimento médico às profissionais do sexo.

Oficina de corte e costura na sede da ASP
A segunda edição do Previna-se, iniciada em junho de 1997 e orçada em 41 000 reais, pretendia atingir 450 mulheres, alcançando 600 e se fortificando. Passou a oferecer testes para detectar o HPV, ou papilomavírus – um dos responsáveis pelo câncer de colo de útero – , oficinas de trabalho, treinamento de voluntárias, palestras sobre DST/Aids e higiene pessoal. Em maio de 1999 teve início o “Previna-se III”, que, superando a meta de 1 122 mulheres, atendeu 1 406.

Hoje, contando com uma equipe de cerca de sete voluntários, a Asp já distribuiu cerca de 300 000 preservativos em Aracaju. A sede da associação, no Bairro Industrial, é anexa à casa de Candelária. Lá são realizadas reuniões às quartas-feiras, palestras e oficinas de trabalho. As voluntárias saem às ruas três vezes por semana para distribuir preservativos e cada mulher recebe cerca de dez unidades. A associação pretende acabar com a prostituição. Mas, se alguma prostituta demonstra vontade de mudar de profissão, é possível contar com a ajuda da Pastoral da Mulher Marginalizada, que encaminha as moças para cursos profissionalizantes na Escola João XXIII. Que além disto, oferece cursos gratuitos de corte e costura, cabeleireiro, manicure, secretariado e de culinária, entre outros. 

A ASP também busca ser útil também aos filhos das associadas. Em um concurso com 180 Organizações Não Governamentais – Ongs – para captar verbas do programa Capacitação Solidária, do Governo Federal, foi uma das 61 organizações premiadas e recebeu 30 000 reais para um curso de informática com o intuito de atender trinta adolescentes. “A sociedade não pergunta se alguém escolheu ser menino de rua, viciado em drogas ou prostituta. Mas para criticar, julgar e discriminar, todos apresentam opiniões dignas de sociólogos. Precisamos é nos tornar mais humanos. Ninguém escolhe viver no submundo. Todos temos que ter consciência que essas pessoas que habitam as ruas, são frutos de uma sociedade falida. Ou seja, são vítimas”, desabafa Candelária.

“É necessário uma reformulação no atendimento às prostitutas nos postos de saúde do Estado”, Almir Santana
Uma pesquisa realizada pela Secretaria Municipal de Saúde em parceria com a Asp e Gapa – estima a existência de 2 800 prostitutas com idade a partir de 10 anos em Aracaju. A Asp atende metade delas. Há um único levantamento, informal, sobre o número de prostitutas infectadas com o vírus do HIV no Estado de Sergipe. Segundo o Doutor Almir Santa, Coordenador do Programa de Prevenção a DST/AIDS do Governo do Estado de Sergipe, dentro de 1160 pessoas infectadas com o vírus do HIV no Estado, cerca de 50 são prostitutas. Esses dados são do ano de 1987 e de lá para cá, trimestralmente é feito um levantamento para saber se houve algum alteração nestes números. Ou seja, apesar das falhas existentes tanto dentro do sistema de saúde do Estado como das prostitutas – pelo fato de não freqüentarem regularmente os postos de saúdes, devido ao seu ritmo de vida – o número de “profissionais do sexo” infectadas com o vírus, não vem crescendo.

“Desenvolvemos um trabalho de conscientização a prevenção de DST/AIDS junto à Ongs  como a ASP e o Gapa. Já que as prostitutas não freqüentam os postos de saúde para serem examinadas, vamos aos principais focos de prostituição em Aracaju – na rua Apulcro Mota no centro da cidade, e na Orla de Atalaia – onde as abordamos e cobramos que façam os exames. Além de se prevenirem também. No interior do Estado o mesmo trabalho é feito. Porém, com a municipalização da saúde, cabe às secretarias de cada município o desenvolvimento de suas atividades. Mas formamos uma parceria e ajudamos sempre no que for preciso”, diz Almir Santana.

Contudo, é tangível a necessidade de um tratamento especial dos órgãos de saúde com relação às prostitutas. Já que o ritmo de vida das mesmas fazem com que tenham uma vida sexual extremamente ativa e conseqüentemente, correndo mais riscos de contaminação. “Existe uma falha no sistema de saúde do Estado. É necessário que se desenvolva um trabalho corpo-a-corpo. Onde os médicos vão as ruas e cobrem delas uma maior preocupação com sua saúde. Muitas inclusive, são gestantes que além de não realizarem uma acompanhamento pré-natal, continuam trabalhando. Fazendo com que seus filhos tenham uma maior probabilidade de já nascerem com alguma doença”, explica.

O acesso a postos de saúde tanto na capital quanto no interior do Estado de Sergipe, é gratuito. Em Aracaju, por exemplo, existe o Centro de Testagem e Acompanhamento – CTA – localizado na  Avenida Barão de Maruim, 704 . Segundo Doutor Almir, apesar de ainda não haver uma tratamento diferenciado para as prostitutas, os profissionais da saúde do Estado estão se esforçando e isso está surtindo efeito. Toda essa preocupação que Sergipe vem tendo com relação ao tema, se deve a longa batalha travada pelo “mito” Candelária. Que, sem dúvida nenhuma, é responsável pela maioria dos resultados positivos na luta pela conquista da cidadania para as prostitutas.

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