Forrozão
da Rua Siriri
Aglaé Fontes de Alencar
Colocar a rua de Siriri no roteiro junino de Aracaju, pode ate causar estranheza para alguns.
É que lá pelos idos de 1930 a rua tinha uma história marcada pelo drama social, com um foco de prostituição muito forte, o que atraiu o escritor Amando Fontes a escrever um livro sobre ela, que recebeu o nome de Rua de Siriri.
Mas os tempos mudaram e mudaram para melhor. De areial para pavimentação. De casas de palha para alvenaria. De drama social para alegria.
É que agora a rua de Siriri virou palco de um festejo junino muito especial: o forrozão. Este não acontece no mês de junho mas no de julho, numa espécie de ressaca dos festejos acontecidos em junho. É um matar a saudade gostoso, com forró a noite toda, shows, comida típica, brincadeira, uma grande festa popular.
A idéia surgida a seis anos veio da imaginação de um grande artista plástico sergipano, Félix Mendes, que também na sua pintura projeta o folclore em suas diversas manifestações.
No início a festa nem ocupava a rua toda. Era uma realização meio de vizinho, de amigo, dos moradores do quarteirão entre Laranjeiras e São Cristovão. Dessa forma passou quatro anos acontecendo e crescendo. Quem estava ainda no requebro do forró, quem ainda cantava Luiz Gonzaga, ia pra lá. Ressaca de forró, de pinga gostosa, de comida com cheiro de milho.
Não é um festejo organizado por instituições oficiais. É do povo mesmo, na sua forma espontânea e comprometida. A decoração da rua com bandeirolas, palha de coqueiros, balões é feita por seus moradores mesmos, que também colocam barracas de comida típica, dando à rua ar festivo característico das comemorações populares.
Nos últimos dois anos o Forrozão da Siriri, como é chamado, cresceu muito. Não só para os que moram em Aracaju mas contando também com a presença de visitantes que têm esse São João fora da época, uma festa que transcorre num clima de alegria contagiante.
Agora, o espaço do forrozão já teve que ser ampliado e as barracas e bandeirolas cobrem a rua desde o encontro da rua São Cristóvão até Propriá. Uma comissão, criada com participação da própria comunidade,
cuida de tudo e durante 4 dias o forró é animado com trios e cantores sergipanos.
Mas a programação conta também com um espaço dedicado à criança, revivendo as brincadeiras tradicionais da cultura popular e do folclore sergipano. Quebra pote, corrida de saco, corrida de jegue e apresentações de quadrilhas, bacamarteiro, samba de coco e pisa pólvora animam as tardes e as noites até a madrugada.
A segurança e o clima cordial são tônicas dessa festa que em cada ano escolhe uma instituição filantrópica para entregar o lucro vindo de pagamento voluntário de ingresses e a doação de alimentos.
Um dos pontos altos da festa é a apresentação do Fogo da Estância, a cidade que faz em Sergipe o São João mais iluminado.
Os fogueteiros vêm para a rua de Siriri trazendo seu show pirotécnico e a rua cantada por Amando Fontes se ilumina com espadas, com pára-quedas luminosos e com a famosa corrida de barco de fogo.
A luz se enriquece com o som do Pisa-Pólvora que de Estância traz a energia e o canto, deixando no chão a marca dos tamancos no ritmo da batucada.
Valorizando as tradições da cultura junina a rua de Siriri, começa a contar uma outra história. A de uma comunidade que unida demonstra a força da sua ação.
A prova disso é que é a primeira no Brasil que teve a coragem de gravar um disco, comemorando esse forrozão-ressaca que se constitui um evento especial na cultura sergipana.
Que outros discos venham, pela graça do povo e a benção de São João.