País do Forró





Tradição ameaçada


05/06/2003, 10:52


Se os festejos juninos são a marca de Sergipe, as quadrilhas juninas, sem dúvida, são co-responsáveis pelo fortalecimento desta tradição no Estado. Apesar da importância, um dado alarmante, fornecido pela Liga de Quadrilhas Juninas de Sergipe – Liquajus -, de que o número de quadrilhas existentes em Sergipe caiu de 200 para 67, mostra que esta manifestação folclórica está definhando. O presidente da Liquajus, Célio Torres, concedeu entrevista ao Portal InfoNet, e falou a respeito das dificuldades enfrentada pelos grupos.

Por Valnísia Mangueira

PORTAL INFONET – Quais as expectativas da Liquajus para os Festejos Juninos de 2003?
CÉLIO TORRES –
Esperamos que em 2003 a situação das quadrilhas juninas melhorem, visto que 2002 deixou muito a desejar. Como estamos com um novo Governo do Estado – que em gestões anteriores mostrou que valorizava a cultura das quadrilhas juninas – esperamos receber o apoio necessário, ainda maia agora, que as quadrilhas juninas estão acabando. E acabando mesmo. Basta observar que a Liquajus chegou a ter mais de 200 quadrilhas juninas no Estado, e hoje temos menos de 70. Isso é conseqüência da falta de incentivo. A coisa é mais grave se comparada com a situação de outros Estados do Nordeste, que até alguns anos atrás, não tinham muita tradição com quadrilhas juninas. Por exemplo, hoje, Pernambuco tem mais de 150 quadrilhas. Em Fortaleza, Ceará, existem mais de 400 quadrilhas, enquanto as nossas estão definhando.

INFONET – Como isto poderia ser solucionado?
CT –
Uma saída é que tivéssemos um local destinado para as nossas apresentações, assim conseguiríamos levantar recursos. Não precisaríamos estar atrás, nem do Governo do Estado, nem das Prefeituras. Seria um modelo parecido com o das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, onde cada uma teria seu galpão. Atualmente, para se manter, muitas quadrilhas vão para os sinais, pedir doações, fazem pedágios, rifas, festas, bingos, enfim, tentam driblar a situação da melhor maneira possível. Mas seria muito mais digno se as autoridades nos apoiassem na realização de um calendário permanente de apresentações, que durasse o ano inteiro. Nós vamos apresentar ao secretário José Carlos Teixeira uma proposta para que o Gonzagão nos seja cedido, um dia na semana, para que façamos festas, como em um calendário permanente. Esperamos uma resposta positiva. Se isto acontecer, será uma recriação do antigo Forró do turista, que fazíamos no Parque dos Cajueiros, todas as quintas-feiras. O turista vinha para cidade sabendo quando e onde tinha festa.

INFONET – Este ano não deve acontecer o concurso no Gonzagão.
CT –
É verdade. Além de não ter um local fixo para realizar apresentações, infelizmente também ficamos sabendo que não vai existir concurso em 2003. No ano passado a Liga fez concurso lá, com a casa cheia. Já este ano, tudo está em aberto. Outro problema também é que, apesar da realização do concurso em 2002, o compromisso financeiro da Secretaria de Cultura e Turismo, assumido pelo governo passado, não foi cumprido. E é uma pena. Todos os concursos que fazemos no Gonzagão têm casa cheia. A comunidade e turistas comparecem. A única proposta que recebemos da casa foi que das 19h às 20h, existiria um espaço na pauta e, se as quadrilhas quiserem dançar, sem cachê, sem transporte, sem nada, podem ir. Então um grupo investe em uma quadrilha, R$ 10 a 15 mil, para ser tratado dessa forma? Eu acho que a equipe que está trabalhando na Secretaria da Cultura deveria ter um pensamento melhor, ou então dessa forma vai ser difícil trabalhar.

INFONET – Além do Gonzagão, estão programados outros concursos pelo Estado?
CT –
Sim. Nós já temos a tabela pronta. Na sexta, dia 6 de junho, acontece o concurso de quadrilhas do Hiper Bom Preço, já pelo terceiro ano consecutivo. Eles todo ano o estacionamento, dão toda estrutura, é uma coisa muito boa. Gostaríamos que outras empresas fizessem o mesmo. No interior acontecem concursos em Estância, Tobias Barreto, Ribeirópolis, Cristinápolis e Rosário do Catete. Tem, então, vários concursos. Nestes casos, a liga apenas fornece o regulamento e os contatos com as quadrilhas. Agora, com relação aos concursos, nós vamos estar fazendo uma assembléia, nesta semana ainda, para saber que rumo seguir. Não vamos fazer como no ano passado, que até o último dia de Governo fomos enganados. Eu espero que este ano, antes de começar o concurso que está programado para a rua de São João, dia 9, tenhamos garantias de que receberemos o cachê. Só vamos realmente dançar se existir esta garantia. No dia 13, também estão programadas apresentações no Centro de Criatividade, se até lá não recebermos uma posição do governo garantindo o pagamento do cachê, não terá quadrilha lá, o que é um fato lamentável. Mas realmente essa é a nossa maneira de protestar.

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