Luiz Gonzaga: ícone cultural do nordeste
Com o fechamento de mais um ciclo junino, é inevitável se remeter a importância deste festejo a um músico e ícone da cultura nordestina...
29/06/2009 - 14:02

Luiz Gonzaga jovem (acervo MLG/Recife - PE).
Com o fechamento de mais um ciclo junino, é inevitável se remeter a importância deste festejo tão conhecido e difundido, a um músico e ícone da cultura nordestina que no próximo dia dois de agosto completa 20 anos de falecido: Luiz Gonzaga.

Ele, que teve um legado produtivo de mais de 40 anos, exerceu e ainda hoje exerce uma influência absoluta sobre a cultura nordestina, por ter sido o catalisador de um povo altamente religioso e carente de exemplos positivos a serem seguidos.

Para a funcionária pública Maria da Glória Santos, duas músicas de Luiz Gonzaga tem valor cativo.  ‘Assum Preto’ e ‘Paraíba’, pois ambas a lembra de situações vivenciadas com a já falecido pai.

Maria da Glória relembra o pai, ao ouvir 'Assum Preto' e 'Paraíba'.
“Meu pai trabalhava como fiscal de imposto de renda no interior e ele dizia que essas músicas retratavam bem a vida daquele povo; o sofrimento que eles passavam, a luta que eles tinham no campo pela sobrevivência.  Meu pai dizia que eles tinham muita dificuldade, porém eram pessoas alegres; eles tinham aceitação muito grande da sua realidade”, relembra.

Quem também tem uma história sobre a música de Gonzaga é o massoterapeuta Igor Lima, cuja distância com o pai fez surgir um carinho paternal pelo tio.  “A música ‘A Vida do Viajante’.

“Esta música me marca muito porque me lembra muito meu tio de consideração, casado com minha tia.  Ele separou dela e morou um tempo em Itabaiana, um tempo em Tobias Barreto e depois mudou pra Santa Catarina.  Em toda festa da família ele tocava essa música na viola.  Ele era uma pessoa muito querida da família, mas em 2005 ele decidiu morar de vez aqui em Sergipe no mês de junho, ia abrir um negócio, mas quando foi em abril, ele faleceu; foi atropelado por uma moto lá em Santa Catarina”, relembra Igor, informando lembrar do tio toda vez que ouve ‘A Vida do Viajante’.

Diego Gonzaga: Vida dos avós é retratada na música 'Asa Branca'.
O contador Diego Carvalho também guarda com emoção uma música em especial do Gonzagão.  ‘Asa Branca’ por retratar a vida das pessoas simples da roça, relembra-lhe a vida difícil dos avós, que durante toda a vida tiraram o sustento da própria terra com muito trabalho.  “A família do meu pai até hoje vive na roça”, acrescentou.

O ícone Luiz Gonzaga

De acordo com o pesquisador do Memorial Luiz Gonzaga (MLG), em Recife, José Mauro de Alencar, o Luiz Gonzaga teve a importância de ser ícone para o nordeste porque se dedicou durante toda a vida ao trabalho de cantar com simplicidade as coisas típicas do nordeste.

Igor Lima lembra do tio ao ouvir 'A Vida do Viajante'.
“Ele começou a lapidar a cultura nordestina”.  Segundo Alencar, a estética do cangaço com o chapéu de aba quebrada, a sanfona – de forte significado para o sertanejo – até então não tinha uma aparição artística à altura.  Outro detalhe estético acrescentado por Gonzaga à apresentação artística foi o uso do gibão, como forma de incorporar à música, o aspecto do vaqueiro, figura presente e indispensável à vida no sertão.

Quanto a ligação de Luiz Gonzaga à festividade junina, Alencar explica que o músico nasceu numa região cujo padroeiro é São João (Exu, sertão de Pernambuco).  Por conta disto, as pessoas daquele local, em sua maioria, são devotas do santo.

O conterrâneo de Luiz Gonzaga, José Mauro Alencar, é pesquisador do MLG em Recife, PE. 
Luiz Gonzaga nasceu e se criou neste contexto religioso de devoção ao santo, tanto que na igrejinha da cidade – erguida em homenagem ao Santo – ainda hoje acontece uma tradicionalíssima novena.  Além do fator religioso, o ciclo junino é o da colheita do milho, que possibilita de o sertanejo ter um dinheiro extra.

“Deve-se também a popularidade de São João, ao fator climático da safra do milho, planta-se no mês de março pra colher no mês de junho por causa da chuva.  Uma coisa que Valter [uma pessoa que trabalha no MLG] estava comentando é que quando mais novo, o São João não era tão popular; era uma festa, mas não tão popular como é hoje.  Com certeza quem deu essa grande levantada na popularidade do São João foi Luiz Gonzaga”, acredita o pesquisador.

Ainda de acordo com Alencar, Luiz Gonzaga cantou em quase todas as cidades do interior do nordeste, algo em torno de 90% das cidades do interior, pois ele trabalhava muito por amor mesmo, ao que fazia.  “Trabalhava muito e não perdia tempo com farras como outros artistas”, definiu, informando que na verdade, a obra grandiosa de Luiz Gonzaga fortalecia aquilo em que o povo nordestino já tinha: religiosidade, prazer na colheita e por isto a razão da celebração.

Por Carlos Augusto

 


 

parabéns a todos voçês que trouxeram testemunhas influenciadas pelo O nosso querido Luiz Gonzaga
Edivaldo, 11/10/2009 às 18:49

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