Cordel: tradição em rima e verso
22/06/2011













Seu Firmino, cordelista há 55 anos (Fotos: Michel Oliveira)


Entre rimas e estrofes, João Firmino Cabral - o Seu Firmino como é mais conhecido - recebe os turistas e sergipanos que passam pelo Box do Cordel no Mercado Municipal Antônio Franco, em Aracaju. Cordelista há 55 anos, com mais de 180 publicações, Seu Firmino conta os causos e histórias na métrica da poesia. “Ser poeta não é só saber rimar. Tem que ter inspiração. Digo que ser cordelista é um dom. A inspiração vem da natureza, do próprio Deus”, defende.



Em meio aos livretos coloridos, Seu Firmino encontra um de sua autoria inspirado nos santos juninos. Intitulado ‘A palestra dos três santos: Santo Antônio, São Pedro e São João’, o cordel relata uma peleja de rimas para ver quem é o mais festejado. Nas páginas impressas artesanalmente, os leitores conhecem a história de cada santo além das tradições e crenças populares que envolvem seus festejos.



O servidor aposentado Adrian Santos aproveitou a ida ao mercado para comprar alguns cordeis para dar de presente. “Vou passar o São João no interior, na casa de um amigo. Como sei que ele gosta muito de literatura de cordel, decidi comprar alguns para presenteá-lo”, relata. Adrian confessa que deveria ter o hábito de ler mais esse tipo de literatura. “Aprecio bastante, mas costumo ler menos do que deveria. Enquanto estiver com os cordeis em casa vou aproveitar para lê-los e apresentá-los para meu filho que ainda não conhece”, afirma.













Adrian Santos comprou alguns cordeis para presentear um amigo do interior


Valor imaterial



De acordo com Seu Firmino, existe um número considerável de cordelistas, incluindo profissionais como médicos e advogados. Mas produzindo ativamente, apenas oito - contando com ele. Esse pequeno grupo de poetas populares produz a maior parte das publicações que ele comercializa. O restante vem de outros estados nordestinos. “Na literatura de cordel se conta de tudo, desde os causos populares, aos fatos históricos. Tem até esse aqui de plantas medicinais”, diz apontando para um dos cordeis.



O preço de cada livreto varia de R$ 1,00 a R$ 5,00, a depender do tamanho. O preço popular é uma das características desta tradição que se sustenta ao longo dos séculos. Tradição esta que atravessou o oceano Atlântico nas caravelas portuguesas e se manteve viva pelas feiras e mercados do Nordeste brasileiro. “Hoje a literatura de cordel tem espaço nas escolas e nas faculdades. Já teve professor que fez tese de doutorado baseado no cordel. Virou até tema de novela. Mas meu cordel não é encantado não, é concreto”, enfatiza Seu Firmino.













Poeta recita cordel sobre os santos juninos


Leia abaixo uma estrofe do cordel ‘A palestra dos três santos’, de autoria do Seu Firmino:



Vamos falar nas novenas

Nas festas e nas fogueiras

Nos forrós, nos sanfoneiros

Nos bailes, nas brincadeiras

Nos velhos bacamarteiros

Nos casais pelos terreiros

Dançando noites inteiras



Por Michel Oliveira