O Projeto Verão de Aracaju, que integra a programação do Verão Sergipe, foi encerrado na madrugada desta terça-feira com a apresentação da Banda Reação, na Rua da Cultura. No palco oficial passaram também, integrando a sergipanidade, Carol Prudente e Pífanos Zen e ainda o Grupo Cataluzes, que comemora o seu 30º aniversário neste 2011. A noite foi marcada pela diversidade cultural, reunida, segundo o idealizador da Rua da Cultura, Lindemberg Monteiro, “num projeto que une as células rítmicas do folclore sergipano aos amplificadores valvulados, numa sonoridade única”.
Show marcou o último dia do projeto Verão (Fotos: Zeca Oliveira)
Nos bastidores, os fãs se espremeram para um encontro fortuito com seus ídolos. “Com todo respeito a Leci Brandão, mas estou aqui para ver o Cataluzes”, desabafou o funcionário público Antonio Ribeiro. “Minha geração foi embalada com o som do Cataluzes”, justificou. Mas a grande maioria da plateia estava mesmo a fim de vivenciar um grande encontro com a diversidade musical que a noite proporcionou.
Passaram pelo palco da Rua da Cultura, as características do folclore sergipano na voz e performance de Carol Prudente e os Pífanos Zen, a sergipanidade pop traduzida no Cataluzes e também o reagge raiz na ação da Banda Reação. E, contrastando com este cenário, a presença da face multicultural de Leci Brandão, que encantou ao sintetizar homenagens diversificadas, primeiro à escola de samba de sua paixão, a Mangueira carioca – na qual se tornou a primeira mulher a participar da ala de compositores - aos professores, aos negros, aos escritores... à arte, conforme enfatizou. “Encerrar este projeto em Aracaju é o presente que eu tinha que ganhar neste início de ano”, comentou Leci Brandão, poucos minutos antes de subir ao palco, em entrevista concedia ao Portal Verão Infonet.
A plateia retribuiu na mesma sintonia. “Apesar de não ser meu gênero musical, tenho grande admiração por Leci Brandão por seu estilo e pelo trabalho que ela desenvolve”, considerou a jornalista Alice Nou, que já está se preparando para lançar seu primeiro CD “À Noite”, em ritmo pop rock.
Durante o show, Leci Brandão foi interrompida para uma homenagem especial do grupo Unegro (União de Negros pela Igualdade de Sergipe) dedicada à carioca. Um grupo de representantes do Movimento invadiu o palco e entregou a Leci Brandão uma camiseta na cor amarela e com a frase “Rebele-se contra o racismo”. Leci Brandão agradeceu a homenagem e retribuiu com um repertório afro. “Foi um ato simbólico pela força dela (de Leci Brandão) em lutar em favor da liberdade. Ela é uma artista que contribui bastante para dar visibilidade a nossa etnia”, justificou Andrey Lemos, coordenador geral da Unegro.
Pela Cidadania
A identidade de Leci Brandão não se resume à história artística e ao ativismo em defesa pela redemocratização do país. Eleita deputada estadual em São Paulo pelo PC do B, com 86.298 votos, a artista promete ser voz ativa na luta contra o preconceito racial, contra a homofobia, como também se dispõe a se caracterizar como uma ativista no movimento pela cidadania, além de ser tornar uma ressonância para combater a violência contra mulher, conforme confessou em entrevista concedida, com exclusividade, para o Portal Verão Infonet.
Entre os projetos que pretende apresentar na Assembleia Legislativa de São Paulo, Leci Brandão destaca prioridades quanto ao acesso à cultura, defesa da religião com matriz africana, ações de combate à homofobia, que ela classifica como um dos maiores problemas da capital paulista e, entre outras ideias, incentivo à prática obrigatória de atividades esportivas nas escolas de forma a atender crianças e adolescentes. Apesar de eleita titular da vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo, Leci Brandão, assim como os demais deputados estaduais eleitos em São Paulo, só tomará posse no dia 15 de março deste ano.
Leci Brandão elogiou a iniciativa da coordenação da Rua Cultura em propor eventos culturais que priorizam a participação do artista sergipano. Para Leci Brandão, a proposta da Rua da Cultura se assemelha ao Projeto Pixinguinha que, segundo analisou, proporcionou a integração dos artistas brasileiros. “Eu conheci o Brasil através do Projeto Pixinguinha”, confessou a compositora. Além de ter a oportunidade de conhecer o Brasil, Leci Brandão destaca como mérito do Pixinguinha, o entrosamento de artistas que se destacaram no cenário nacional e as atrações locais que tiveram oportunidade de interagir durante os shows realizados em cada cidade brasileira. Leci Brandão lamentou a extinção deste projeto, mas deu ênfase à sua reconstrução, em território sergipano, a partir da coordenação da Rua Cultura.
Apesar de não ter intimidade com a musicalidade sergipana, Leci Brandão acredita que os talentos de Sergipe sejam uma reprodução da inspiração artística da Região Nordeste. “Tenho o conceito melhor possível da musicalidade do Nordeste. As letras no Nordeste são repletas de poesia, não é apenas uma apelação, é lirismo total”, considera a artista, classificada entre as melhores sambistas do país.
Por Cássia Santana