Sabe aquele carnaval? Acabou!
10/02/2007, 08:26
Estamos a uma semana do carnaval, mas, falando sério, o prezado leitor sabe que o carnaval começa daqui a uma semana? Em outros tempos, uma semana antes do carnaval já era motivação suficiente para ter batucada ali na esquina e até o aquecimento dos tamborins nas pobres escolas de samba. Era assim. Hoje, o carnaval é apenas o período que muita gente deixa a cidade para descansar, num “dolce far niente” que começa na sexta-feira e só termina na quarta-feira.
A cidade fica literalmente vazia e só se vê uma movimentação fora do comum nas áreas de praia. É bem verdade que os hotéis já estão cheios – mas de turistas pouco animados que vêm mesmo para Aracaju para... descansar. Principalmente os baianos. Eles preferem deixar toda aquela animação e correria por um lugar onde não acontece absolutamente nada. Quer dizer, tem até uma programação da prefeitura, rotulada de 'Carnaju', mas ninguém há de se aventurar pela zona do mercado por conta de um carnaval pobre de alegria, paupérrimo de animação.
Antigamente, mas não tão antigamente assim, Aracaju tinha um baita carnaval. Nas ruas havia blocos, muita gente de fantasia e bastava haver um bar para uma boa batucada animar a turma em torno de uma cachacinha e de uma cerveja.
Nos clubes, nos quatro principais – como Iate Clube, Associação Atlética, Cotinguiba Esporte Clube e Vasco, antes na rua São Cristóvão, depois na Avenida João Rodrigues, no início do bairro Industrial – havia baile todos os dias, a partir da sexta-feira e era bonito o encontro das orquestras do Iate, da Associação Atlética e do Cotinguiba, no começo da manhã da quarta-feira de cinzas, nos primeiros metros da Praia 13 de Julho.
A Orquestra de Medeiros sempre foi a campeã daqueles carnavais. Não era uma orquestra com muitos músicos, mas era afinada e com repertório pra lá de competente. O baile, em qualquer dos clubes, só era interrompido para se recepcionar o Rei Momo – papel que o vereador e radialista Batalhinha desempenhava quase que com a perfeição. Mas isso era coisa rápida que ninguém tava a fim de bajular rei nenhum.
Associa-se sempre o Rei Momo a um inveterado bebedor de qualquer mistura. Mas nem Batalhinha nem Altamiro eram chegados a uma bebida. Zé de Raul, sim, esse gostava de ir sorvendo tudo que lhe ofereciam. Deixou de ser Rei Momo no dia em que caiu do alto do caminhão elétrico. Deixou de ser Rei Momo, mas não deixou de ser folião.
Uma semana antes da folia, as escolas já faziam os chamados “gritos de carnaval”, que era para animar a gurizada e começar a treinar aqueles meninos todos para os festejos. Podia-se ir para a escola fantasiado do que quisesse – só não podia ser de “bebê chorão” porque senão os coleguinhas tiravam o maior sarro...
Uma pena que tenham sobrado poucas imagens daqueles bons tempos. É que os grandes fotógrafos da época não estavam acostumados a perpetuar as trivialidades da vida. Talvez por isso haja poucos lances fotográficos dos carnavais dos anos 40, 50 e até 60. Walmir Almeida ainda conservou algumas imagens obtidas para o seu jornal cinematográfico. É o que restou...
Talvez algum folião daqueles tempos tenha guardado alguma coisa da fantasia que usou ou do leve e rápido amor que conquistou no carnaval... Talvez, quem sabe. O carnaval, como se vê, mudou, se não acabou...
Por Ivan Valença