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Figurino da quadrilha "Retirantes do Sertão" (2011) |
Os preparativos para os festejos juninos do estado já começaram e é só chegar essa época do ano para que as quadrilhas encantem nordestinos e turistas de todo o país. Com repertórios e passos variados, elas mostram xote, xaxado, baião e uma animação sem igual, típica da cultura nordestina.
Entretanto, com o passar dos anos, um quesito especial toma conta do olhar do público e dos jurados nos maiores festivais do país: o figurino. Seja retratando os típicos personagens do sertão ou trazendo o que há de mais contemporâneo, é ele que conta a história da quadrilha e que dá vida às apresentações, entrando no imaginário de crianças e adultos de todas as idades. Assim, é no trabalho do figurinista que toda a magia acontece.
Para conhecer de perto a criação de toda essa produção, que acontece bem antes das apresentações, o São João Infonet conversou com o figurinista Igor Menezes, responsável pela criação da quadrilha junina Retirantes do Sertão, que declarou: “As quadrilhas estão se profissionalizando a cada ano, buscando executar suas ações cada vez mais cedo, mas o mercado sergipano ainda é carente de bons fornecedores”.
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Igor criou o figurino da quadrilha "Retirantes do Sertão" em 2012 |
São João Infonet – Qual a diferença entre um figurinista e um estilista no que se refere à produção das roupas utilizadas pelas quadrilhas juninas?
Igor Menezes – O figurinista veste um personagem. No tocante ao ciclo junino, ele procura desenvolver um traje que identifique aquilo a que a quadrilha se propõe a mostrar e ele deve falar por si só. Já o estilista cria uma peça para estilizar uma realidade atual, não algo imaginário, lúdico.
Infonet - A partir de que momento os desenhos dos trajes começam a ser pensados para que toda a quadrilha fique vestida de acordo com o tema?
IM – Antigamente, o traje das quadrilhas era apenas mais um dentre os elementos que compunham a festa. Um vestido de chita com bico já deixava tudo pronto. Hoje em dia, o figurino é um dos elementos mais importantes, inclusive contando pontos para a classificação em um concurso. Sendo assim, a preparação deve ser feita o quanto antes, no máximo, em fevereiro, porque uma quadrilha possui em média 60 componentes- dentre eles os destaques - e é preciso confeccionar o figurino de cada um deles.
Infonet - Existe algum traje, em especial, que dê mais trabalho para a finalização?
IM - Todos os trajes merecem a mesma atenção, mas sempre existe algo que seja um pouco mais complicado de se executar por ser muito detalhado. Nesses casos, contamos com a colaboração de outros profissionais.
Infonet - Quantas pessoas trabalham no quesito figurino desde o desenho ao produto final?
IM - Depende de cada quadrilha. Em geral, o marcador e o presidente passam a proposta do tema para a comissão de traje. O figurinista desenha e leva o material para que tudo seja discutido. Uma vez aprovado, tudo segue para a execução. Daí são incluídos costureiras, sapateiros e designers de arranjos de cabeça.
Infonet – Quando começou seu interesse pela profissão?
IM – Sou de Frei Paulo e danço quadrilha desde pequeno. Comecei numa que se chamava Arrastão e acompanhava de perto toda a sua construção para as apresentações, principalmente as dos trajes-piloto, mas não imaginava que poderia ser um figurinista. Com o fim da Arrastão, nasceu a Retirantes do Sertão, da qual fui diretor financeiro e, por sorte, desenvolvi meu primeiro traje junino. De 2005 pra cá, não parei mais.
Infonet – Para quais quadrilhas já trabalhou?
IM – Desde então para a Retirantes do Sertão e, ano passado, ajudei a compor o figurino da Unidos em Asa Branca, quadrilha da capital sergipana.
Infonet – Como é o mercado em Sergipe neste setor?
IM – Existem ótimos profissionais em Sergipe, mas o mercado ainda é muito fraco. Na verdade, o estado é carente de bons fornecedores. Precisamos de armarinhos mais bem equipados, lojas de tecidos com materiais mais diversificados e que saibam trabalhar melhor com esse tipo de evento. As quadrilhas estão se profissionalizando a cada ano, buscando executar suas ações cada vez mais cedo, e a falta de material para pesquisa nos deixam sem muitas opções. Com essa realidade local, muitos figurinistas viajam a São Paulo para pesquisar e comprar os materiais, onde ainda há a vantagem de o custo ser bem menor.
Por Jéssica Vieira