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Nos primórdios, Forró era tocado à base da sanfona, do triângulo e da zabumba (Fotos: Arquivo Portal Infonet) |
De Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro a Aviões do Forró e Falamansa, o Forró se reinventou e ganhou outras roupagens. Incorporando influências e instrumentos, a batida tradicional do Pé-de-serra ganhou o Brasil e, nas viagens, arrastou consigo elementos culturais diversos. Desde a forma de dançar até o jeito de se vestir dos forrozeiros, tudo mudou. E há quem garanta: nem sempre a mudança foi para melhor.
Segundo forrozeiros tradicionais e pesquisadores, os novos títulos do Forró, como o Elétrico e o Universitário, em sua maioria não fazem jus à raiz da música nordestina. Eles consideram que, com tantas modificações, o Forró acabou perdendo traços que o caracterizam. Por outro lado, há quem defenda as novas modalidades do Forró e que afirme que elas popularizaram o ritmo em outras praças.
Mas, para entender de que maneira o Forró nasceu, se difundiu e se renovou, é preciso voltar aos primórdios, antes mesmo da existência dos trios Pé-de-serra. No fim do século XIX e início do XX, o que se conhecia por Forró era tocado pelas bandas de pífano no interior do Nordeste. Além deles, existiam os tocadores de sanfonas de oito baixos, instrumentos caros e raros.
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À caráter, Erivaldo de Carira leva adiante a tradição de Gonzagão |
História
As primeiras sanfonas que apareceram por aqui vinham da Itália. Eram as chamadas pé-de-bode, mais simples e baratas. Até então, o Forró era tocado por grupos folclóricos em feiras e praças. A zabumba é herança das bandas de pífano, contrapondo o som agudo do sopro com as batidas firmes.
Nesse cenário, entra em cena Luiz Gonzaga, que desde pequeno aprendeu a tocar sanfona com o pai, Januário. Conhecedor dos grupos do sertão, ele colaborou para que a nomenclatura Pé-de-serra fosse criada. “Como ele morava em Exu, que ficava na base da Chapada do Araripe, chamou as bandas de Pé-de-serra em referência ao seu local de origem”, explica o pesquisador Paulo Corrêa.
Quando começou a ganhar destaque em São Paulo, já na Era do Rádio, Gonzaga precisava de um conjunto compacto de instrumentistas para acompanha-lo nas apresentações. A zabumba e a sanfona já estavam incorporadas. Faltava um instrumento agudo, que se destacasse do som grave da zabumba. Surge, assim, o triângulo.
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Elba Ramalho foi uma das precursoras do verdadeiro Forró Elétrico |
“Gonzaga se lembrou dos vendedores de cavaco-chinês, que tocavam o triângulo pelas ruas e tinha um som estridente. Além de incorporar o triângulo, ele criou a batida para cada um dos instrumentos que compunham o trio Pé-de-serra”, afirma Paulo. No Forró tradicional, o pandeiro e o agogô também ditavam o ritmo.
Novidade
Nas décadas de 1960 e 1970, o Forró ganhou o reforço do baixo e da guitarra. É o caso da faixa “O fole roncou”, que traz a inovação dos instrumentos modernos. É nesse sentido que o Forró Elétrico encontra suas raízes. Os primeiros adeptos dessa modalidade foram Elba Ramalho, Alceu Valença e Fagner, segundo Paulo Corrêa, que espalharam a nova roupagem sobretudo nos anos 1980.
“Eles se apresentavam e incluíam a guitarra, o teclado e a bateria. Mas sem perder a sonoridade típica da zabumba, da sanfona e do triângulo. É um tipo de música que pode ser realmente chamado de Forró”, explica o pesquisador.
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Aviões do Forró é o principal expoente da vertente Elétrica do Forró |
Já o Forró Universitário nasceu no Sudeste, sob a influência do reggae. O ritmo se apropria de elementos do Forró tradicional e traz inovações, a exemplo da própria coreografia, que ganha marcações com os pés e giros contínuos. O estilo ganhou esse nome em uma referência ao público universitário, um dos principais adeptos do ritmo.
Críticas
Paulo Corrêa considera que os novos estilos descaracterizaram as festas juninas. “Não se toca mais Forró. São músicas românticas, com a influência do Vaneirão, do Arrocha e da Lambada. A sanfona, por exemplo, vira apenas uma coisa decorativa. A mídia só se interessa em divulgar esses novos estilos por conta do famoso ‘jabá’”, afirma.
Ele critica ainda o apelo sexual que se difundiu no Forró Eletrônico, além do acréscimo da palavra Forró ao nome das bandas – como é o caso de Aviões do Forró, Cavaleiros do Forró e Solteirões do Forró. “Eles colocam Forró no nome, mas não é o estilo que tocam”.
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Falamansa é um dos representantes do Forró Universitário |
Temendo pelo término da tradição junina de raiz, o pesquisador faz um apelo ao poder público. “É preciso que os governantes tomem consciência e tragam para as festas atrações que divulguem o Forró tradicional, e não somente esses ritmos novos. As festas juninas são as principais responsáveis pela divulgação da cultura nordestina. A gente não pode deixar isso morrer”, afirma.
Por Nayara Arêdes