20/05/2015 - 09:27
Pesquisador recorda histórias de Dominguinhos em SE
Em 1969, forrozeiro morou em Sergipe e deixou grande legado
Antes de se projetar nacionalmente, Dominguinhos morou em Aracaju (Foto: Ivve Rodrigues/ Portal Infonet)

A pequena Garanhuns, na região Agreste de Pernambuco, cravou seu nome na história no dia 12 de fevereiro de 1941. Naquela data nascia José Domingos de Morais, que ganhou o Brasil como um dos maiores instrumentistas e compositores brasileiros. Sob a alcunha de Dominguinhos, o sanfoneiro propagou a cultura nordestina pelo mundo e foi reconhecido pelo próprio Luiz Gonzaga como seu herdeiro.

O que pouca gente sabe é que um dos capítulos da história desse grande personagem teve Sergipe como cenário. Durante 1969, Dominguinhos morou em Aracaju e visitou diversas cidades do interior do Estado, antes de alcançar grande projeção em sua carreira. Quem ajuda a contar essa história é o pesquisador Paulo Corrêa, fã declarado do pernambucano.

Naquela época, Dominguinhos se apresentava com Luiz Gonzaga, acompanhando-o como sanfoneiro. A forrozeira Anastácia se somava ao grupo. Viajando pelo Nordeste, os três vieram a Aracaju e se hospedaram no Jacques Hotel. Foi ali que, de forma inusitada, surgiu a primeira música fruto da parceria entre Anastácia e Dominguinhos: “Mundo de Amor”.

Paulo Corrêa: "Legado é simplicidade"

“Dominguinhos tinha o hábito de ficar tocando, compondo melodias. Ele estava no quarto dele, tocando sanfona, e Anastácia ouvia tudo do quarto dela. Ela decidiu escrever uma letra em cima de uma das canções que Dominguinhos tocava. Pouco depois ela bateu na porta dele e disse que tinha uma música pronta”, lembra Paulo. A forrozeira foi uma das primeiras a reconhecer Dominguinhos não só como instrumentista, mas também como compositor.

Sergipe afora

Outra história lembrada pelo pesquisador foi a inauguração do Estádio Lourival Baptista, também em 1969. “Luiz Gonzaga, Anastácia e Dominguinhos se apresentaram na inauguração e cantaram o hino do Batistão, diante das seleções sergipana e brasileira. Anastácia e Gonzaga nos vocais, Dominguinhos na sanfona”, recorda o pesquisador.

Dominguinhos participou de outra inauguração em Aracaju: a do Complexo Cultural Gonzagão. “O Gonzagão deveria ter sido inaugurado pelo próprio Luiz Gonzaga, mas ele faleceu em 1989. No ano seguinte, a missão acabou ficando com Dominguinhos”, afirma.

Dominguinhos, Anastácia e Luiz Gonzaga se apresentam na inauguração do Batistão (Foto: Arquivo Luiz Lua Gonzaga)

Paulo Corrêa fala também das dificuldades pelas quais Dominguinhos passou quando morava na Capital sergipana. “Era comum naquela época os artistas se apresentarem nos circos, para o povo. Quando ele tinha que ir para o interior, pedia a rural de Gerson Filho e Clemilda emprestada. Mas quem o socorria sempre era Josa, o Vaqueiro do Sertão”, conta. Itabaiana, Lagarto, Propriá e Estância fora algumas das cidades que já receberam Dominguinhos.

Legado

Durante o tempo em que morou em Aracaju, o sanfoneiro compôs uma homenagem ao Estado. A valsa instrumental “Noites Sergipanas” foi gravada por Dominguinhos já no final de sua carreira. Em uma de suas últimas passagens por Sergipe, em 2008, quando foi homenageado pelo Fórum do Forró, ele fez questão de tocar a canção e relembrar a estada.

Sanfoneiro deixou obra extensa, repleta de parcerias e sucessos

Na visão de Paulo Corrêa, o principal legado deixado por Dominguinhos foi sua simplicidade. “Ele tinha um talento excepcional, um jeito manso, um sorriso no rosto e uma grande preocupação com as pessoas. Uma vez lhe perguntei se ele tinha noção da importância que ele tinha para a música brasileira. Ele disse que saber disso cabia ao público”, lembra.

Dominguinhos faleceu em 23 de julho de 2013, em São Paulo, vítima de câncer de pulmão. Além de uma obra ampla e primorosa, deixou fãs saudosos e, sem dúvidas, muita história para ser contada.

Por Nayara Arêdes

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