DOMINGUINHOS FALA DE FORRÓ, LUIZ GONZAGA E MUITO
MAIS
*Por
Joana Côrtes
Entrevista concedida em 21 de junho de 2001
Para
quem esperava imponência de um dos maiores expoentes
do acordeom no Brasil Dominguinhos surpreende pela simplicidade.
Com a expressão de cansaço, vindo de muitos
shows nessa época de festas juninas e com sandália
de couro no pé o cantor falou sobre forró
do São João de ontem e hoje, do padrinho musical
Luiz Gonzaga e muito mais. Dominguinhos encanta não
só pela humildade e pela alma acolhedora, mas também
pela trajetória de 50 anos de carreira, colecionando
sucessos grandes parcerias e sendo um dos principais responsáveis
pela sobrevivência da música nordestina.
Quais
são as suas expectativas para a apresentação
de hoje, na abertura do ForróCaju, sendo a principal
atração musical da noite?
Dominguinhos-
A expectativa é a melhor possível. Eu
me sinto honrado em voltar a Aracaju para tocar na abertura
de um evento como este, num local muito mais amplo que os
anos anteriores. Eu morei em Aracaju durante um ano, com
a cantora e compositora Anastácia, e conheço
bem aqui. Naquela época, viajei muito pelo interior
de Sergipe, fazendo muito show em circo e estou aqui novamente
achando que vai ser muito bom.
Joana Côrtes
Joana Côrtes
Dominguinhos ao lado do forrozeiro Joacir
Batista,
que acompanha a carreira do cantor desde 1964
Para
você, o que mudou do São João de antigamente
para o de hoje em dia?
Dominguinhos
- Mudou muita coisa. Até as quadrilhas juninas
hoje em dia são mais estilizadas. Antigamente, os
rapazes e as moças se vestiam mais simples, as mocinhas
com o vestido de chita. Diferença também de
música, porque a gente escutava muita marchinha,
cantada por coro. Até valsa e toada tinha. Não
era um São João comercial como o de hoje.
Antigamente,
era uma coisa assim de chegar e tocar, cada um fazia o seu
arraial nas fazendas e nos sítios. No meu São
João de menino tinha fogueira, as pessoas assavam
milho e faziam canjica tudo por ali, com prazer muito grande,
nada para vender. Hoje o São João tem uma
conotação diferente.
O
que você acha dessa retomada do forró pé
de serra no Centro-Sul, com o sucesso do forró universitário
feito pelo grupo "Fala Mansa" ?
Dominguinhos
- O Fala Mansa é um grupo muito novo e que não
tem tradição por enquanto. Só está
vendendo muito disco e fazendo muito sucesso. É uma
garotada que não disse ao que veio ainda. Mas nós
temos os trios tradicionais, formados por nordestinos que
vivem em São Paulo, que são maravilhosos.
De forma que nem vendem discos, mas cantam e tocam muito
e agradam a todo mundo.
O que acontece com o Fala Mansa é que eles começaram
a fazer uma entrada de brincadeira nos forrós do
Paulinho do Remelexo, onde os meninos davam uma canja. Eu
só posso dá uma afirmação benéfica
sobre esse grupo daqui a cinco anos, que é quando
um grupo se firma e diz para que veio. Porque, na verdade,
só fica mesmo quem é da música nordestina,
quem não aproveita o momento.
Qual
a sua opinião em relação ao forró
eletrônico que a garotada curte atualmente?
Dominguinhos
- Tudo é válido. Quanto mais se inventar,
melhor. Tem gosto para tudo. O eletrônico, o pé
de serra, ou qualquer outro estilo, sendo bem tocado e arranjado,
ótimo.
Você
acha que o forró continua sendo a voz da música
nordestina?
Dominguinhos
- A música nordestina é isso: o baião,
o arrasta pé, o xote. Cada um tem um gênero
definido e um ritmo e batida diferente: forró é
forró, baião é baião, xaxado
é xaxado e arrasta pé é arrasta pé.
Como
você se sente sendo considerado o sucessor e herdeiro
musical de Luiz Gonzaga?
Dominguinhos
- Em primeiro lugar, eu tenho muita saudade do Gonzaga.
Foi ele quem me lançou e com quem trabalhei e viajei
muito. Fui motorista dele e abria os seus shows. Nós
tínhamos uma relação pessoal muito
bonita e ele me ajudou muito.
Não concordo quando falam que eu sou o herdeiro artístico
dele, mas acho que sou o maior seguidor que Luiz Gonzaga
podia ter e fui em vida porque ele me viu atuando ao lado
dele. Juntos, sempre cuidamos da música nordestina.
E
como você se sente sendo considerado também
um dos maiores representantes dessa música nordestina?
Dominguinhos
- Eu me sinto muito feliz. Mas nós tivemos figuras,
no âmbito do forró, maravilhosas. Ainda hoje
temos o Genival Lacerda, que é uma baluarte do forró.
O Jackson do Pandeiro foi o maior representante do forró.
Ele era cantor de coco, rojão, samba, frevo, forró
. . . assim também era o Jacinto Silva que morreu
cantando coco e rojão.
Qual
o maior prazer da sua vida?
Dominguinhos
- Continuar tocando,cantando e viajando
* Joana Côrtes é estudante de
Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe
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