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Será este o último ano do Forrozão da Rua Siriri?

11/07/2002, 14:50

A Rua de Siriri, conhecida pelo seu tradicional forró depois da época junina, dá início, a partir de hoje, à ressaca de São João. A Rua, que fica localizada no Centro de Aracaju é hoje o alvo das atenções de sergipanos e turistas de várias regiões brasileiras. Considerado como a maior ressaca dos festejos juninos do norte/nordeste do país, o Forrozão da Rua Siriri, mesmo sendo um evento popular sem fins lucrativos, pode estar com seus dias contados. A falta de um incentivo mais palpável está fazendo com que organizadores como Félix Mendes, também morador do bairro, desistir de estar à frente dessa grande manifestação cultural. Confira entrevista completa.

INFONET - Como nasceu essa tradição de se fazer o forrozão na Rua Siriri?
FELIX MENDES – A Rua de Siriri é histórica há mais de 50 anos. Sempre teve uma tradição junina, até no carnaval, desde quando as ruas eram de areia, porque era mais bonita, mais brejeira. Todas as ruas tinham fogueiras de um lado a outro. Todos os moradores de Aracaju colocavam mastros junto às fogueiras. O progresso trouxe coisas boas e ruins. Da areia veio a piçarra, depois veio o calçamento e, por fim, o asfalto. Então se perdeu aquele brilhantismo que havia anteriormente. Há tre anos eu e alguns amigos, o radialista Messias carvalho, o jornalista Luduvice José e o doutor Carlos Magno Costa Garcia, fizemos uma festa em frente à minha casa. Nesse dia um conjunto musical muito simples foi tocar, sem palanque, sem muita estrutura. No ano seguinte, o Messias carvalho e o Luduvice José entraram em contato com alguns cantores famosos da cidade, o Roberto Alves e a dupla Sena e Sergival. Nesse ano já foi providenciado um palanque e um som melhor. No terceiro ano da festa apareceram outros conjuntos musicais para se apresentar, sempre de maneira gratuita. No quarto ano o trecho da rua já estava todo tomado pela festa. A grande explosão foi no quinto ano. Já estávamos consolidados, a festa aumentou.

I N - Daí para frente vocês passaram a gravar discos...
F M - Depois do quinto ano um fato histórico aconteceu. Gravamos nosso primeiro LP da Rua Siriri. Um sucesso absoluto com a gravação de uma coletânea com16 artistas. Sucesso de venda e execução, qualidade técnica e musical. A cantora Amorosa puxou o carro chefe do disco. Daí para frente começamos a gravar nossos LPs. Gravamos o LP do sexto forrozão, depois passamos a gravar nosso primeiro CD. Todos esses discos tiveram a participação de 16 cantores. Muitos deles gravaram pela primeira vez.

I N - Onde ficam os apoios?
F M - São muito restritos. Conseguimos apoio muito irrelevante, da iniciativa privada, mas os quatro CDs foram praticamente bancados pelos patrocinadores. Primeiro nós conseguimos uma bonificação nos estúdios, não pagamos aos artistas. A festa tem sido uma soma de solidariedade.

I N - Para onde vai a renda da venda desses CDs?
F M – No nosso primeiro LP mandamos a renda toda para a APAE – Associação de Pais e Amigos do Excepcional. No segundo LP não tivemos sucesso de vendagem, então, a partir do terceiro LP chegamos à conclusão que seria melhor trabalhar a divulgação desse disco. Fomos para o Estado da Bahia, principalmente para o eixo Rio-São Paulo. A Rua de Siriri passou a ser conhecida nacionalmente. Em função da divulgação desse disco, é que as emissoras do Rio de Janeiro nos dão cobertura total.

I N - Diante de tanto sucesso fora de Sergipe, como o senhor vê essa falta de incentivo? Será que a cultura sergipana tem que andar sozinha?
F M - Já recebemos até correspondências do maior canal de comunicação da Coréia. Este é um grande instrumento de divulgação do Estado, do nosso folclore, da nossa cultura. É um instrumento de aquecimento do comércio local, pelo menos por 15 dias. Este ano, infelizmente em função da falta de recursos, não estaremos gravando CD. É lamentável. Geralmente as manifestações folclóricas são feitas por pessoas humildes. Acho que o poder público está deixando a desejar. É em função disso que estamos encerrando nossas atividades este ano, porque crescemos muito e não temos mais condições de arcar com as despesas. Não queremos com isso dizer que o governo e a prefeitura não apóiam. Sim, eles ajudam, mas não é da forma que deve ser. Pela primeira vez o nosso folder foi pago pela prefeitura de Aracaju. O nosso show pirotécnico, por incrível que pareça, é todo ele doado por uma fábrica de fogos do Rio de Janeiro.

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