O clima esquentou durante a sessão da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) na manhã desta terça-feira, 27. A maioria dos deputados presentes repudiaram as declarações da deputada Kitty Lima (Cidadania) em uma rede social, ao falar que os deputados que não assinarem a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 em Sergipe estão no ‘bolso’ do governador Belivaldo Chagas.

O deputado Francisco Gualberto (PT) acredita que a deputada ultrapassou a sua liberdade de expressão e a sua imunidade parlamentar com suas declarações. “A deputada diz que o governador é corruptor e que os deputados que não assinarem a CPI são corruptos. Imagine se eu dissesse que quem assinou essa CPI está bolso do Presidente da República ou de tal senador. Está certo? Claro que não. As acusações sem provas da deputada representam crime e um ataque aos aspectos éticos e morais do ser humano”, enfatiza.

A deputada Maísa Mitidieri (PSD) também declarou seu repúdio à fala da deputada Kitty Lima e pediu que ao presidente da Alese que adota medidas cabíveis diante das acusações contra os deputados. “Eu não recebei requerimento e nem o contato da deputada Kitty Lima. Ela caluniou todos os deputados e isso é crime porque o que ela diz é algo que não existe. O que eu quero apenas é respeito e peço que medidas sejam adotadas porque tivemos nosso caráter colocado em dúvida. Eu assino ou não a CPI com base nos meus princípios e no que eu acredito, e não em pressão da oposição”, ressalta.

O deputado Georgeo Passos (Cidadania) acredita que a fala da deputada Kitty Lima que ofendeu aos colegas parlamentares não foi por maldade. “Os deputados aqui não podem querer que os outros colegas falem apenas o que eles querem ouvir. A CPI é importantíssima e é papel do parlamento fiscalizar com amplitude total. Existe o requerimento da CPI, temos cinco deputados que sinalizaram positivamente, mas precisamos de oito assinaturas para instaurar a CPI. Nada nos impede de informar a sociedade e se a declaração da deputada incomodou a alguém, não foi por maldade. Mas vamos continuar fazendo nosso papel e respeitando essa Casa”, enfatiza.

Justificativa

A deputada Kitty Lima (Cidadania), líder da oposição, justificou sua fala nas redes sociais. De acordo com a parlamentar, a expressão usada por ela foi para enfatizar a importância da independência da Casa Legislativa.

“Toda vez que temos falas mais incisivas somos criticados. Quantas vezes eu falo aqui que o parlamento tem que ser independente?  Quando falei em colocar no bolso, não é em relação à compra. É em relação à pertencimento. Essa Casa precisa de independência. Não cometi crime nenhum, falei apenas da independência da Casa”, garante a deputada.

Kitty citou ainda dificuldade em instaurar uma CPI na Alese. “É isso que não entendo. Toda vez que se fala em CPI, se fala em palanque político. CPI é uma atribuição do Legislativo. Se toda vez que for falar de CPI, for essa novela, é melhor riscar de nossas atribuições do Legislativo. Fala-se que a CPI pode prejudicar o combate a pandemia no Estado. Isso só vai acontecer se o Governo parar de trabalhar para se defender na CPI”, diz.

O líder do Governo, Zezinho Sobral (Pode) rebateu as declarações da líder da oposição e disse que a questão em pauta não é a instalação de uma CPI na Alese, e sim os meios que estão sendo utilizados para tal. “A Casa está respondendo à intimidação que foi posta contra os deputados por esse grupo. A oposição tenta inverter o papel. Alguns colegas sequer tiveram a oportunidade de avaliar esse requerimento e foram expostos. Isso não é política, é um comportamento desvirtuoso por falta total de argumento para denegrir a imagem desta Casa”, afirma o deputado que lembra que foi instaurada a CPI da Pedofilia na Casa pelo grupo da oposição e não foi levada adiante.

“Em 2019, foi pedido pelo mesmo grupo para instaurar a CPI da Pedofilia e foi instaurada, mas o prazo expirou e nada foi feito. O que foi apurado com a CPI? Porque parou? Porque não avançou?  As crianças continuam sendo abusadas em Sergipe e a CPI do grupo foi apenas política, e não deu em nada. Então, a questão aqui não é instalação de CPI, é a maneira deselegante de pressionar os colegas sem ter argumento”, aponta.

O presidente da Alese, deputado Luciano Bispo (MDB), pediu aos colegas que tenham cuidado com as redes sociais e que preservem a Casa Legislativa. “ Nós temos que refletir sobre o que colocamos em nossas redes sociais. Nós somos políticos e nossa responsabilidade é grande. A CPI é um instrumento legal e, se ela for instaurada, vai seguir o rumo normal, mas não é pressionando que ela vai acontecer. Não estamos aqui para censurar ninguém. O debate e o contraditório é necessário porque ninguém é dono da verdade, mas temos que ter cuidado com o que falamos”, conclui.

Por Karla Pinheiro