“A solução é crescer. Como crescer?”, por José Roberto de Lima Andrade

Anualmente, a sociedade brasileira defronta-se com uma data especial, na qual a economia, seus problemas e perspectivas são analisados com mais profundidade. Esta data coincide com o anúncio do salário mínimo. Neste momento, há uma sensação unânime de frustração sobre quão pequeno foi o índice de reajuste aplicado, não importa quem esteja no poder (e conseqüentemente na oposição). Desconsiderando as demagogias e discursos populistas (utilizados no passado e cobrados no presente), o reajuste do salário mínimo traz, como resultado das análises feitas sobre a economia brasileira, uma conclusão que é unânime: a solução para a economia brasileira (salário mínimo aí incluso) é o crescimento. É interessante refletir sobre a seguinte constatação: Se há uma unanimidade entre as diversas correntes de pensamento de que o crescimento é a solução para a economia brasileira, e que estas correntes estiveram (e estão) presentes nos últimos 10 anos de condução da política econômica brasileira, então, por que não crescemos? Será que a famosa frase atribuída a Nelson Rodrigues de que “toda unanimidade é burra”, tem razão? Esperamos que não. A grande questão do problema do crescimento da economia brasileira é que ela não pode ser entendida como uma discussão maniqueísta entre aqueles defensores de idéias mais heterodoxas, e que quando no poder obtiveram resultados econômicos medíocres, contra aqueles defensores de idéias mais ortodoxas, e que, cuja implementação em termos de política econômica, gerou resultados igualmente medíocres. É preciso voltar a entender a economia como uma ciência em evolução, em que o referencial teórico e os instrumentos de política econômica devam ser adequados à realidade do mundo em que vivemos. Enquanto a discussão estiver pautada nas “xias” (hetero ou orto) , ou pior ainda, no discurso demagógico e populista, estaremos fadados a esperar por mais um capítulo da novela do salário mínimo, que ocorrerá em 2005, e com um final feliz que talvez ocorra em 2006, 2007, 2008… * Professor do Departamento de Economia da UFS