Legando briga.

O tema não é daqui. Vem de fora; da França. Uma briga iniciada por sucessão mal programada, a semear discórdia e escândalo.

Direi que é um fato comum; corriqueiro. Presente no mundo inteiro, em minoria significativa entre desejos e vontade.

Heranças e sucessões, muitas vezes, aqui e la fora, introduzem inimizades cruéis; assassinatos inclusive.

O problema é que há sucessores que são mais espertos que outros. Se acham mais merecedores do espólio, alguns até, desigualando os iguais.

Algo parecido com a frase singular de “A Revolução dos Bichos” de George Orwel: “Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros”.

George Orwell do site O Pensador.

A frase, é bom que se diga, está dita numa fazenda ficional em que os bichos falam e pensam.

E porque bem discursam e raciocinam, ergueram ali uma república utópica, por democrática e igualitária.

Na República dos homens, contudo, é comum repetir em ou por cascata: “Todos somos iguais perante a Lei”.

Destaco esta fundamental norma porque hoje se discute aparatos extraordinários, tidos como necessários para senão erradicar, controlar ou amainar a violência criminal que nos aflige.

O noticiário fala, da possibilidade ou não, de se fazer buscas policiais amplas ou localizadas.

De repente veio-me à mente aquelas batidas policiais encetadas pelos nazistas na busca de judeus ou recalcitrantes resistentes à ordem vigente. Temas notavelmente exibidos nos filmes “O Pianista” (The Pianist-2002) de Roman Polanski, “A Lista de Schindler” (Schindler’s List – 1993), de Steven Spielberg, e “Retratos da Vida” (Bolero)  (Les Uns et les autres – 1981) de Claude Lelouch, e muitos outros filmes de inspiração real ou ficcional.

Três filmes com batidas policiais intolerantes.

Quem sabe, este crescendo se faz incontrolável, e batidas policiais cerquem o quarteirão em que vivo, o bairro, o condomínio, e nos invadam lar adentro, perseguindo inimigos ocultos, inseridos em mim mesmo e na minha biblioteca, em tantos livros que se imaginar periculosidade letal.

Todos os da minha geração sabemos como isso brota e acontece, enquanto febre e querência, e como é difícil apascentar tantos ódios implacáveis.

Mas, não é esse o meu tema. Deixemo-lo para uma outra oportunidade.

No Brasil as festas são de vésperas.

Logo tudo se degrada. Sabemos tudo macerar, o bandido virando herói, o feroz ronronando qual felino angorá.

Quero falar de outro tipo de gato.

Um “gato”, ou um “ex-gato”, porque fora tido assim o roqueiro Johnny Hallyday, nome artístico de Jean-Philippe Smet (Paris, 15 de junho de 1943 – Marnes-la-Coquette, 5 de dezembro de 2017), cantor e ator francês de origem belga por parte do pai, e um dos principais astros do rock'n'roll europeu.

Pois bem! Johnny Halliday foi pranteado em dezembro passado, com exéquias notáveis de canto e presença, com a Avenida Champs Elisée lotada de fãs, desfile de motocicleta, e a Igreja Madaleine ornada com um grande retrato seu.

A imagem do cantor na fachada da Igreja da Madalena em Paris.REUTERS/Pascal Rossignol

Apesar do frio, uma multidão de fãs do roqueiro lotou a avenida dos Champs Elysées em Paris, desde as primeiras horas da manhã do sábado 9 de dezembro, para uma homenagem popular ao cantor morto na quarta-feira anterior, aos 74 anos.

Segundo reportagem de “As vozes do mundo”, “Fãs do ídolo, conhecido como o Elvis Presley francês, viajaram de todas as regiões da França para a capital, a fim de se despedir do cantor ao som de muito rock'n roll.

O cortejo fúnebre com o corpo de Johnny Hallyday percorreu a avenida cartão postal de Paris, do Arco do Triunfo até a praça da Concórdia, acompanhado por 700 a 800 motociclistas pilotando suas Harley Davidson, uma paixão do músico. Cerca de quinze batedores da Guarda Republicana protegiam o carro funerário”.

Fãs de Johnny Hallyday enfrentam o frio para prestar uma última homenagem ao cantor morto na quarta-feira.REUTERS/Pascal Rossignol

Foi celebrada às 13 horas, 10h pelo horário de Brasília, uma missa de corpo presente na Igreja da Madalena assistida por 1.100 personalidades – familiares, artistas, amigos do cantor e políticos, com a presença do presidente Emmanuel Macron que fez um breve discurso na Igreja, como também dos ex-presidentes François Hollande e Nicolas Sarkozy, do primeiro-ministro, Édouard Philippe, e da prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
Em um programa de rádio, o primeiro-ministro disse que Johnny Hallyday representava "uma figura da cultura popular francesa, formadora da identidade dos franceses".

Homenagens várias que a prefeitura de Paris se associou, exibindo na fachada da Torre Eiffel a frase "Obrigada Johnny".

Centenas de motociclistas pilotando suas Harley-Davidson, uma das paixões de Johnny Hallyday, descem a avenida Champs Elysées em Paris acompanhando o carro funerário com o caixão do cantor.REUTERS/Gonzalo Fuentes

Segundo a reportagem, a homenagem fora planejada pelos filhos mais velhos do cantor, a atriz Laura Smet e o também músico David Hallyday, de acordo com desejos manifestados por ele antes do falecimento, incluindo a banda do roqueiro tocando ao vivo na fachada da Igreja da Madalena, seus antigos sucessos.

Músicas que foram ouvidas nos estádios de futebol, antes do início dos jogos da 17ª rodada do Campeonato Francês, assim como nas partidas da segunda divisão.

Um esquema de segurança envolvendo 1.500 policiais, muitos à paisana, além de helicópteros e atiradores de elite foram posicionados em locais estratégicos ao longo do trajeto do esquife, com cinco estações do metrô entre a praça Charles de Gaulle – Etoile e a praça da Madalena sendo fechadas. E distribuição ampla de telões das emissoras de TV com transmissão ao vivo.

Pois bem! Quando o corpo esfriou e a realidade secou o pranto, os filhos Laura Smet e David Halliday, aqueles que estavam por traz das homenagens póstumas, restaram deserdados no testamento.

Com justificativa, falta de razão, ou simples desejo de ocasião, o roqueiro legou a totalidade de seu patrimônio, aí incluídos bens patrimoniais, direitos autorais, muito recurso valorizado em Euro e Dólar a sua última esposa (foram quatro), Laetitia Halliday, bela manequim trinta e um anos mais jovem, e a dois filhos de origem vietnamita adotados pelo casal.

Eis o imbróglio formado e a querela está a suscitar uma grande polêmica, sobretudo porque no mesmo documento o cantor nomeou como testamenteira e administradora dos bens uma senhora nonagenária, residente na Suíça, que vem a ser avó de Laetitia.

A complicação, todavia, se torna maior porque o roqueiro tinha residência e talvez até naturalidade diversa, permitindo amparo de diferente legislação; francesa, suíça e californiana.

Pela legislação francesa, vale o código civil de Napoleão Bonaparte que ampara e iguala os filhos de qualquer natureza, com a herança sendo assegurada aos parentes ascendentes, pais, avós, se existirem, e descendentes, filhos e netos, ou na ausência destes estendendo-se a tios e sobrinhos.

Pelo código napoleônico, o roqueiro não podia deserdar seus dois filhos legítimos.

Ocorre que o testamento está sendo interpretado à luz da legislação da Califórnia.

Nos Estados Unidos da América, cada Estado possuindo sua legislação própria, não existe como no Brasil a definição de herdeiros legítimos.

Ali não há legitimidade que impeça a livre decisão testamentária. Excluídos casos de incapacidade mental, o compromisso do pai ou mãe com sua prole cessa aos dezoito anos de idade.

O ator Jerry Lewis, por exemplo, desnaturadamente, digo eu, excluiu seus cinco filhos de sua herança.

E estes nem podem insultá-lo. Sempre posará pior. Ou por bem pior, porque será preciso uma longa explicação, que não suscite de Lewis um riso póstumo de boa piada. 

Piadas à parte, uma colega do comediante deixara lembrança igual.

Joan Crawford e seus filhos deserdados. O sorriso ficou na foto.

Segundo Christina Crawford, o comportamento tirânico da atriz Joan Crawford, com seus dois filhos adotivos, contrastava fortemente com a imagem de mãe dócil e compreensiva que passava ao público,.

Tal comportamento foi interpretado por Faye Dunaway, no filme “Mamãezinha Querida” (Mommie Dearest – 1981).

Tratava-se  de uma narrativa sobre a ótica da filha de Joan, Christina Crawford, no livro “Mamãezinha querida”.

A fita foi um fracasso. Faye Dunaway recebeu o prêmio “Framboesa de Ouro”, como pior atriz daquele ano.

O público não gostou da versão megera de Joan Crawford que preferiu deixar sua fortuna a instituições de caridade.

Talvez tivessem endossado a frase terminal dita aos filhos por testamento: “Se quiserem enriquecer, trabalhem!”

 Pois é! Essas coisas acontecem.

Algumas vezes com uma justificativa intolerante. Outras, por um expediente esperto de jovens insinuantes atravessando os caminhos de uma senilidade pouco amparada, mas dando bobeira.

E neste caminhar, muita gente dirá que melhor é assim. Não creio!

Enfim! Muito trabalho para advogados.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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