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Georges Duby foi um dos maiores especialistas em Idade Média do século XX. Vindo de uma família de artesãos (seu avô fazia selas), Duby nasceu em Paris, em 7 de outubro de 1919, falecendo em Aix-en-Provence, em 3 de dezembro de 1996. Viveu o período da ocupação nazista na França. Sua carreira profissional teve início em 1942, na Faculdade de Letras de Lyon. Anos depois, em 1953, obteve o seu doutorado em Aix-en-Provence, e ali assumiu a cadeira de História da Idade Média.
Anos depois, em 1970, Duby passou a ocupar a cadeira História das Sociedades Medievais no prestigiado Collège de France. Chamado “antropólogo das sociedades feudais”, Duby teve a sorte de poucos, pois seu trabalho foi reconhecido ainda em vida. Entre as muitas honrarias que recebeu destacam-se: Membro da Academia Francesa; Comandante da Legião de Honra; Grande oficial da Ordem Nacional do Mérito. Tornou-se Doutor Honoris Causa por Universidades Europeias e nas Américas.
Duby foi um dos raros casos de intelectual que, em seus dias, tornou-se reconhecido dentro e fora do meio acadêmico. Seus livros ainda hoje são best sellers produzidos por grandes editoras e alguns deles até já foram adaptadas para a TV.
Curiosamente, Duby chegou à história pela geografia. Ocorre que, inscrito na Universidade de Lyon para o curso de História, ele estava decidido a tornar-se geógrafo: “aconteceu ter um professor que ensinava a História da Idade Média de uma forma maravilhosa. Não era um grande erudito, mas era um excelente professor. Sabia incorporar a vida em seu discurso”, explicou certa vez.
Como observou o seu colega de profissão Eric Hobsbawm, cada historiador tem o seu tempo. Ou seja, um período pelo qual ele nutre mais interesse, uma época que o inquieta. O tempo de Duby é a Idade Média. Mais especificamente o período que vai do século XI ao XII. É neste intervalo que ele parece sentir-se melhor. É ali, entre os cavaleiros cansados e tementes a Deus, entre clérigos voltados a suas atribuições de letrados, camponeses e mulheres desprestigiados, no rigor do inverno que assola as colheitas e os ossos, entre castelos e estrumes de cavalos que Georges Duby, da sua bancada, faz-se artesão da história. Mas como explicar o seu interesse pela Idade Média?
Duby afirmou: “para nós, franceses, a Idade Média é um pouco o que foi o Far West para os americanos. Isto é, as virtudes sonhadas, imaginárias, dos nossos antepassados e, depois, um lugar onde podemos projetar os nossos fantasmas”.
Seria possível enxergar um sentido para a História na obra de Georges Duby? Qual o sentido de escrevê-la? Para o medievalista não há sentido nisto se não for “para ajudar seus contemporâneos a ter confiança em seu futuro e a abordar com mais recursos as dificuldades que eles encontram cotidianamente”. Consequentemente, tal certeza implica em uma função social: “O historiador, por conseguinte, tem o dever de não se fechar no passado e de refletir assiduamente sobre os problemas de seu tempo”.
Duby era um militante pelo fim das barreiras entre os campos da História.Foi a luta contra a especialização exagerada, contra a História provinciana e sectária que o levou a criticar o privilégio conferido a certas tendências: “Permanecem pequenas câmaras fechadas onde se isolam ainda historiadores dessa ou daquela literatura, historiadores da música, da filosofia, das ciências, alguns dos quais não mostram propensão no sentido de encontrar os simples historiadores. Ora, a História, no que faz hoje seu vigor, convida a entendimentos. Ela considera uma canção, um afresco, um poema, o cenário de um balé como documentos tão preciosos quanto um cartulário ou o editorial de um jornal”.
Por estas e outras razões, o historiador francês, artesão de palavras, analista refinado, inimigo dos provincianismos acadêmicos e humanista militante permanece atual. Geógrafo das paisagens medievais, antropólogo dos hábitos e costumes da França feudal, Georges Duby foi um legítimo cavaleiro da História.
Dilton C.S. Maynard é professor do Departamento e do Mestrado em História da UFS. Coordena o Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPQ/UFS).
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