MEC: Escolas de Aracaju podem não atingir meta

Professor Fernando Leite utilizou dados do IDEB (Foto: Portal Infonet)

As escolas municipais e estaduais de Aracaju estão longe de atingir a média seis, meta estabelecida pelo Ministério da Educação (MEC) para 2021. A estimativa é do professor da rede estadual de ensino Fernando Leite, que realizou uma pesquisa na capital entre agosto e setembro deste ano.

Utilizando dados do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (IDEB), Leite constatou que apenas cinco das 39 escolas da rede municipal vão conseguir chegar à média cobiçada pelo ministério se as melhorias continuarem seguindo o mesmo ritmo. “Hoje, nenhuma escola estadual ou municipal tem média seis”, avisa o professor. A instituição que mais se aproxima da nota é o Oratório João Bosco, com 5,2 pontos.

Fernando também entrevistou professores e alunos e aplicou provas de português e matemática em escolas de sete bairros de Aracaju – Santa Maria, Conjunto Augusto Franco, América, Industrial, Santos Dumont, Bugio e Sagrada Família. A média atingida foi de 4,1. O bairro Bugio conseguiu a melhor nota – 4,8 –, enquanto o Sagrada Família ficou com o pior resultado, 3,4. Ao todo, 26 instituições de ensino participaram do estudo, o que mobilizou 58 professores e 1307 alunos.

Tempo integral

Com as entrevistas, Fernando diz ter chegado a algumas “unanimidades” entre os professores. “Eles acham que os alunos não aprendem – principalmente porque não tem condições ou tempo de fazer as atividades de casa”, informa. 

Os docentes entrevistados acreditam que estender a carga horária do ensino, adotando a modalidade integral com prioridade no reforço escolar, poderia ser uma saída para melhorar o rendimento dos alunos. “As crianças da escola pública tem uma realidade peculiar. Seus pais não tem tempo ou formação para orientar os filhos nos deveres”, diz Leite.

De acordo com o professor, o Brasil já tem exemplos de sucesso na área de ensino público integral. Fernando cita o caso da cidade paranaense de Apucarana, que conseguiu atingir a média seis no 6º ano das escolas municipais em 2009 – o sistema integral foi adotado há dez anos. No mesmo período e série, a nota de Aracaju ficou em 3,5.

Das escolas da capital sergipana, apenas alguns centros estaduais de ensino médio funcionam de maneira integral.

Segundo Fernando Leite, o ideal seria implementar o sistema nas primeiras etapas do aprendizado. “Tem que começar pela base, pelo ensino fundamental”, comenta o professor. 

Secretaria municipal

Segundo a representante da Diretoria de Ensino (DENSE) da Secretaria Municipal de Educação de Aracaju (Semed) Maria Antonia Freitas, a secretaria já recebeu o estudo, entrou em contato com o professor e está em processo de análise do documento. Ela ressalta que toda pesquisa – especialmente as que envolvem aplicação de provas – deve ser feita com autorização da secretaria.

“Nós estamos tentando mapear a situação. A educação integral já vem sendo defendida pelo MEC [Ministério da Educação]”, argumenta Freitas. Ela conta que 24 escolas municipais foram selecionadas para participar do programa Mais Educação – iniciativa do Ministério que dá recursos às instituições que promovam atividades no contraturno escolar.

Aracaju tem 78 escolas municipais, das quais apenas as creches – existem 20 delas – funcionam em esquema integral. “A perspectiva é começar aos poucos para ir estudando, ampliando. A educação pede critérios. As escolas selecionadas são as mais vulneráveis”, informa a diretora.

Quanto às notas médias atingidas no IDEB de 2009, Maria Antonia Freitas diz que nada impede que as escolas deem saltos de qualidade. “É difícil, mas não impossível. A rede não cresce apenas sob a projeção do IDEB. Organizando o trabalho do professor e do aluno, não tem nada que impeça”, acredita. Ela destaca que muitos fatores interferem na nota do IDEB, como as taxas de repetência e evasão. “A secretaria utiliza o PDE [Plano de Desenvolvimento da Escola] e faz um planejamento a partir dos pontos de dificuldade da escola”, acrescenta Freitas.

Secretaria estadual

A Secretaria Estadual de Educação de Sergipe (SEED) diz desconhecer o estudo do professor Fernando Leite. Quanto à nota do IDEB – 3,7 nas escolas estaduais sergipanas –, a diretora do Departamento de Educação do órgão, Maria Izabel Silva, os resultados foram satisfatórios. “A meta para 2009 estabelecida pelo INEP era de 3,4. O sistema não só bateu essa meta, como a ultrapassou”, afirma.

“É evidente que 3,7 ainda é uma nota muito baixa, pois a escala vai de zero a 10. Todavia, a gestão da educação pública possui um prazo de 10 anos para atingir esse nível”, pontua Silva. A respeito da questão do reforço escolar, a diretora argumenta que à SEED cabe apenas a orientação para que as escolas realizem atividades de reforço, restando às mesmas promovê-lo.

Sobre a questão dos programas de ensino em tempo integral, Maria Izabel considera que é preciso ter cuidado para não achar que eles podem ser a solução para todos os problemas das escolas. “Isso não é verdade. Ampliar a carga horária escolar requer adaptações e intervenções na estrutura física das escolas, o que leva bastante tempo para fazer. Além disso, o tempo integral só funciona se houver um currículo estruturado, que justifique o aumento da carga horária”, explicou a diretora.

O professor Fernando Leite diz ter protocolado a pesquisa na SEED no dia 31 de outubro sob o número 018.000.35534/2011-8.

* A matéria foi atualizada às 19:35 para acréscimo de informações.

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