Balanço da 7ª Semana do Futebol Sergipano

Confiança e Itabaiana fizeram o primeiro clássico do ano, e o melhor jogo até aqui: elementos de sobra para exaltar a partida (Fotos: Arquivo Infonet)

A segunda e a terceira rodada do Campeonato Sergipano de 2013 marcaram a 7ª semana de futebol nas terras do Cacique Serigy. Muito cedo para falar da tabela, mas alguns jogos podem ter dado muitos indícios do que veremos nos próximos meses.

O Campeonato promete ser disputado na ponta de cima, entre as três principais forças do Estado. De acordo com o futebol apresentado até aqui, as equipes do interior parecem ter pouco a apresentar ou baixo potencial de reação para ameaçar tirar uma das vagas de Itabaiana, Confiança e Sergipe. Caso haja uma surpresa, reconhecerei o erro, e sairemos todos no lucro.

Isso acontece, principalmente, pela capacidade dessas equipes de puxarem mutualmente seus tapetes. Numa rodada o Estanciano dá trabalho ao Confiança, na outra é derrotado em casa pelo Lagarto, que arrancou um empate em crise com o Sergipe fora de casa. O equilíbrio entre as equipes do interior, e suas respectivas inferioridades aos quatro mais fortes pode deixar todos sem chances de avanço de forma antecipada.

No fim de semana (sábado) vimos um jogo pegado entre River e Itabaiana. O time de Carmópolis ainda segue se ajustando após a derrota da Taça Governo do Estado, mas segurou um empate com o bom time do Itabaiana.

No domingo, outros jogos tiveram destaque, principalmente a goleada cruel do Sergipe sobre o Olimpico, no qual Carlinhos provou mais uma vez ser um dos grandes nomes do futebol sergipano na temporada. O lateral-volante-meia-atacante dá praticamente todo o tom da equipe colorada, servindo e marcando gols.

Já no Batistão o Confiança mostrou um futebol limitado e suou pra vencer o Estanciano, mas destacou uma estrela de Joelton. O jovem atacante mostrou que vem pra disputar espaço e ser outro bom nome no futebol local.

O grande momento da semana, indiscutivelmente, foi o clássico entre Itabaiana e Confiança na noite da quarta-feira, 27. Uma grande partida, recheada de gols, com bela festa das torcidas, e um futebol bem pegado deu o tom do que precisa do futebol sergipano. São bons jogos que deviam acontecer mais vezes, ou num menor espaço de tempo.

O peso cai novamente sobre um regulamento que faz o campeonato muito longo com jogos desinteressantes. O Sergipe, mesmo sem ter um time dos sonhos, ainda se arrumando com a chegada das novas contratações, aplicou a segunda goleada consecutiva na semana, vencendo o América por 3 a 0. Ganhou as duas partidas sem sofrer qualquer risco de revés.

Para fechar a rodada o tropeço do River Plate contra a Socorrense saindo do G4 e dando a vaga pro Siri. Pode significar apenas um tropeço, mas também uma surpresa. Vale a pena acompanhar.

Sobre os públicos (e borderôs) nos estádios sergipanos

"Quatro mil e pouco" com um estádio nesse estado? Tem algo errado na matemática sergipana?

Uma polêmica que já estava prevista para o futebol sergipano nos últimos meses era a questão das supostas “evasões de renda”. O tema chegou à pauta principal das resenhas esportivas sergipanas, principalmente no rádio, onde são mais efetivas.

A evasão de renda ocorre quando o número de torcedores divulgado oficialmente é menor que o número real. Isso serve para burlar o repasse de verbas para as Federações e também para os órgãos responsáveis pela administração do estádio.

Na Copa do Nordeste o estado de Sergipe se notabilizou nacionalmente por colocar bons públicos… sem bons números (?!). As informações oficiais não davam conta do que os olhos podiam ver nas arquibancadas. Algo errado.

Torcedores do Itabaiana apontaram que numa partida em 2005, o borderô do jogo apontou um público de mais de 7 mil pagantes. De lá pra cá o estádio foi ampliado. Como, diante dessas informações, o público de Itabaiana 0x0 Ceará, e de Itabaiana 2×2 Confiança pode ter sido menor que 5 mil presentes?

No jogo da Copa do Nordeste apontou-se um público menor que 3 mil. No jogo da quarta, 27, o público divulgado foi de 4.300, com a arquibancada totalmente ocupada. Contra o Ceará, o divulgado não passou de 2.500!

Permitam ao torcedor sergipano sentir orgulho das suas festas. Não custa nada.

Portanto, faz todo sentido a crítica. São recursos dos torcedores que estão caindo em mãos erradas ou tendo destinos desconhecidos. Mas vale a pena trazer essa discussão para outro aspecto: o da cultura torcedora.

Se existe algo que orgulhe o torcedor de um clube é o seu povo. É a gente que veste a sua mesma camisa, valoriza as mesmas cores e passa pelos meus perrengues e alegrias que você. Essa é uma das melhores coisas em ser um torcedor: viver uma coletividade mística inexplicável.

Quando esse povo, essa massa de torcedores envolvidos numa coletividade está afinado e em sintonia, acontece aquele que – para esse humilde escriba – é um dos fenômenos mais belos que a humanidade já conseguiu criar: a festa de uma torcida, a tal da atmosfera.

Quando algum ser humano mesquinho, aproveitador e sem qualquer compromisso se aproveita do dinheiro que correu do bolso dos torcedores, pela bilheteria, e depois para seu próprio bolso, ele não está apenas se apropriando indevidamente de algo que não lhe pertence. Ele está prejudicando toda uma nação de torcedores que perde o seu direito de exaltar sua própria torcida (um crime mais grave ainda!).

O futebol é feito desses sentimentos. Por isso que não pode ser um esporte como qualquer outro. E é por isso que o respeito à torcida e aos torcedores tem papel fundamental. Milhares de pessoas se dedicam a sair de casa para o estádio para assistir a um jogo e expressar o seu amor a um clube.

Eles não vão expressar amor a jogadores e dirigentes. “Ellos pasan”, como dizem os hinchas argentinos. Os torcedores estão ali para expressar seu orgulho de fazer parte daquela nação, daquela torcida, daquela instituição fundada à longas datas e que ainda se mantém vivo porque tem “loucos” como ele que a levam a sério.

Quando um ser humano mesquinho adultera os números reais do público de um jogo ele impede que cenas, como as que seguem abaixo, deixem de ser vistas por aqui. Porque ele atinge, principalmente, o orgulho de cada torcedor. É como quebrar um processo histórico de construção de uma identidade. Como tirar de alguém o orgulho de ser o que é.

Vídeo 1: Como nasce um torcedor
Vídeo 2: Sinais da síndrome de um “torcedor”
Vídeo 3: Gerações distintas, juntas, torcendo e… torcendo

Um adendo importante: como o Brasil parece ser o último dos latinos dentre os países latinos, não é mesmo? Parece que desaprendemos o que é a “pasión” de que tanto falam nosso hermanos latino-americanos e também Europeus.

Proibiram os sinalizadores (ou: Temos outras prioridades)

"Tá ficando chato esse tal de futebol"

Quem acompanhou o Balanço da 6ª semana deve ter visto o prognóstico feito sobre o assunto. Não deu outra: os sinalizadores foram proibidos dos estádios paulistas pela FPF. O que interessa, no fim das contas, é o desejo de evitar que a transmissão televisiva dos jogos seja prejudicada pela fumaça dos sinalizadores.

Isso já estava ‘sinalizado’ há muito tempo. Quando a UEFA proibiu o uso dos artefatos em jogos na Europa, uma onda de ataque também chegou por aqui. Os artefatos pirotécnicos começaram a ser questionado em transmissões de jogos da Libertadores da América, principalmente quando aconteciam fora do Brasil.

Mas a fumaça que realmente ganhou foi aquela que tapou a vista dos torcedores brasileiros aos verdadeiros interesses que estão por trás dessa proibição. Além disso, a série de precedentes que se abre para a proibição de outros artigos, na perspectiva de criar “uma nova cultura torcedora nos estádios brasileiros”.

O mais curioso é que, enquanto se fala da cultura nas arquibancadas, e que ela deve ser mudada, não se toca no assunto de outra ordem, mas que também envolve “cultura”. É a cultura política de participação dos espaços públicos que nos pertencem.

Os clubes de futebol são comandados há anos por castas cada vez mais restritas e dominadoras. Poucos são os clubes no Brasil que prevêem eleições democráticas para sua presidência, e menores ainda são aqueles que respeitam o que reza o seu estatuto. Na grande maioria das ocasiões os torcedores são atropelados pela decisão de pequenos grupos de “conselheiros”. Essa era uma “cultura” interessante a ser rediscutida.

Tão grande é o ímpeto de sufocá-las, que as arquibancadas vão morrer asfixiadas. E não será a fumaça de um sinalizador ou de um fogo de artifício qualquer. Vai ser pela mente estreita desse clube de tecnocratas, que acha que o futebol deve servir ao-dinheiro-e-só-ao-dinheiro, que tudo isso que foi construído há mais de 100 anos vai se perder num mar de tédio e monotonia.

Por Irlan Simões

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