Balanço da 8ª Semana do Futebol Sergipano

Os 44 guerreiros que pagaram para ver Socorrense e Lagarto foram destaque na 8ª semana. Positivo e negativo. (Foto: Portal Infonet)

A 8ª semana do Futebol Sergipano deixou uma lição para os desavisados: não tá fácil para ninguém! Sergipe, Confiança e Itabaiana viram os adversários do interior crescerem em produtividade e mostrar que não tem jogo fácil.

No fim de semana o Sergipe empatou contra o Boca Junior em Estância num jogo em que seu ataque não funcionou. O Itabaiana sofreu, e achou um gol chorado contra o Lagarto, fora de casa. Já o Confiança suou e conseguiu bater na conta do chá a Socorrense. Um sinal do que aconteceria dias depois

No meio da semana a prova de que o torneio é mais equilibrado do que parece. O Sergipe, invicto, perdeu dentro de casa para o Estanciano, que até então não havia somado pontos. O Itabaiana suou, correu, lutou, mas foi incapaz de marcar contra um América com menos um. E o Confiança, por sua vez, só não voltou de Tobias Barreto para Aracaju com uma derrota vergonhosa para o Olímpico por conta de um pênalti esquisito marcado no último minuto de jogo.

A moral da história é que, ou as novas e bombásticas contratações dos três maiores clubes resolvem mostrar a que vieram, ou o campeonato pode embolar mais pra frente.

Na realidade, estão todos se beneficiando da péssima fase do River Plate, que tem elenco muito superior aos outros menores. Assim como o despertar do América que só aconteceu agora, e os tropeços da Socorrense contra esses mesmos grandes clubes.

Sobre os clubes-empresa-prefeitura

A foto em destaque foi feita na quarta-feira, no clássico entre Itabaiana e América. Mas a cena já acontece há 50 anos. (Foto: Portal Infonet)

Na quarta-feira, 6, um evento marcou o futebol sergipano. Dois clássicos estiveram em campo numa pequena distância de chão.

Em Itabaiana, o Tricolor da Serra o enfrentava o América de Propriá, Tricolor da Ribeirinha, num confronto que acontece há mais de 50 anos nos gramados sergipanos.

Cerca de 2200 torcedores estiveram presentes para prestigiar o confronto. O jogo acabou em 0x0, mas marcou a tradição do futebol do interior sergipano. Os donos da casa foram fundados em 1938, enquanto os visitantes nasceram um pouco depois, em 1942. Muita história em campo, que receberam menos atenção do que o outro confronto da noite.

Em Carmópolis o clássico “fake”, como ficou conhecido pelos torcedores sergipanos, mostrou o quão artificiais e supérfluas estão se tornando as emoções que o futebol costumava produzir nas pessoas, nas gentes.

River Plate de Carmópolis e Boca Júnior de Estância se enfrentaram, ganharam notoriedade, fizeram um jogo ruim e foram assistidos por 149 almas no estádio Fernando França. Simplesmente porque seus nomes faziam menção a clubes do futebol argentino.

Uma bandeira que sempre está presente no estádio em Carmópolis simboliza bem o clube local. (Foto: Portal Infonet)

Os donos da casa foram “fundados” por um músico-empresário-de-atletas em 2008 após a mudança de nome do São Cristóvão, um clube de que datava de 1967. Os seus rivais surgiram no vácuo de uma escolinha de futebol que passou a receber verba da prefeitura de Cristinápolis, até a fonte de recursos acabar: a mudança gestão .

Duas relações antagônicas, e duas formas totalmente distintas de entender o futebol.  A primeira, calcada na formação de uma história pela mão de várias gerações, na identidade de uma cidade e de um povo com seu clube. A segunda, na expectativa de tirar proveitos financeiros e políticos da grande indústria que se tornou o futebol.

Esse segundo tipo de clube vem se proliferando no país há alguns anos. Principalmente depois que se deu margem para criação de clubes-empresas, e a participação do poder público nessas empreitadas.

Não precisamos cair nos (sérios) pormenores da relação próxima entre os grupos políticos da região onde esses clubes existem, na qual não há distinções entre o comando do clube da gestão municipal.

Basta lembrar do Pirambu para entender os riscos que envolvem essa relação. O clube precisou ser fechado por conta de irregularidades na gestão que repassava verbas para a agremiação. Com o esquema um prefeito foi cassado.

O Pirambu na realidade se chamava Olimpico Futebol clube, fundado nos longínquos 1931, que teve sua história apagada com o fim da agremiação. Uma relação que só se diferencia nesse ponto com relação aos que surgiram “espontaneamente” em cidades como São Domingos, Dores, Lagarto e Socorro.

Uma torcida é uma nação que se forma de pela mão de várias gerações, na identidade de uma cidade e de um povo com seu clube. (Portal: Arquivo Infonet)

Mas essas agremiações de “momento” também geram outros tipos de efeitos colaterais. O primordial deles é a relação com gestões e grupos que se perpetuam no comando do futebol onde existem. Em Sergipe, por exemplo, uma única pessoa preside a entidade máxima do desporto local há 20 anos.

O segundo efeito colateral é o sumiço de tradicionais clubes pequenos, porém tradicionais. O Maruinense, o Propriá e o Cotinguiba estão totalmente esquecidos e sumidos dos principais torneios do estado.

O terceiro, e final deles, é que esses clubes-empresa-prefeitura barganham, e necessitam disso para a própria sobrevivência, a realização de campeonatos estaduais de longa duração, com a participação de clubes tradicionais, para a garantia de visibilidade. Uma lógica que só prejudica os clubes maiores – aqueles que tem torcida de verdade.

Há uma forma de alegar que esses clubes cumprem um papel importante de lazer nas cidades onde existem. O que é muito distante do que o futebol realmente representa, enquanto “cultura”.

Aliás, há diversas outras formas de se estimular a prática do esporte ou o próprio lazer. Investir nos bolsos privados do esporte de alto rendimento, com certeza, não é o mais adequado, se tratando de um órgão público.

Grandes torcidas do futebol sergipano anseiam por jogos mais atrativos. A Copa do Nordeste provou isso. (Fotos: Arquivo Infonet)

Em tempos de fortalecimento da Copa do Nordeste, os campeonatos estaduais servirão apenas de “rito de passagem” para a maioria dos estados da região. Clubes como Bahia e Vitória; Sport, Náutico e Santa Cruz e Fortaleza e Ceará ficarão cada vez mais desinteressados em disputar uma sequencia longa de partidas contra clubes que não tem torcida.

Ou mesmo os clubes sergipanos sentirão isso em breve: basta ver o atacante proletário Diego Neves afirmando que os clássicos são os jogos que realmente interessam e animam o atleta, após a partida contra o Itabaiana.

Dos 10 times que disputam o Campeonato Sergipano de 2013, nada menos que 4 surgiram dentro dessa lógica de clube-empresa-prefeitura. Com recursos oriundos dessas fontes, conseguiram concentrar visibilidade e atrair os melhores atletas e melhores treinadores, desbancando os rivais mais antigos.

Em tempo: a farra pode chegar ao fim. André Bastos, um atento torcedor colorado, frequentador assíduo dos jogos do Sergipe, observou que os tempos do River de Carmópolis podem estar chegando ao fim.

Recorrendo a números divulgados pela Confederação Nacional de Municípios em um estudo recente sobre a questão dos Royalties – a mudança na regra de distribuição dos recursos – o município de Carmópolis terá uma queda de quase 50% das receitas oriundas desse ponto.

A queda seria de um número de quase 20 milhões de reais anuais, que cairiam para 11 milhões de reais. Considerando que 70% dos custos do River Plate são oriundos de convênios articulados com a Prefeitura, a tendência é que sobre para o clube da cidade.

Apenas a atual folha salarial da equipe de Carmópolis é de 140 mil reais, o que significa que pelo menos 1,2 milhões de reais são derramados no clube por ano, atualmente.

Mais uma instituição de vida curta, e que não se consolidou enquanto um clube de futebol de verdade. É assim que está sendo forjado esse período histórico do futebol sergipano. É isso que contaremos para as próximas gerações.

Por Irlan Simões

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