Balanço da 15ª Semana do Futebol Sergipano

Chuva demorou, mas caiu também nos campos do futebol (Foto: Arquivo Infonet)

Essa semana teve muita coisa interessante no futebol local. Grandes atuações, muitas polêmicas de arbitragem, a confirmação da reforma do Batistão e até o anúncio de que o Governo do Estado comprará a renda do segundo clássico entre Sergipe e Confiança, no dia 1o de Maio.

Mas nessa semana reservaremos esta tribuna para discutir a volta da polêmcia do calendário do futebol brasileiro. Desta vez quem mexeu na ferida foi o Governo Federal, através da Secretaria de Futebol do Ministério dos Esportes. A briga agora é outra, e vale a pena entender.

Caso em que, aliás, a exemplo de tudo o que acontece por aqui: o futebol é a última prioridade. Confira:

São as datas que estão em jogo?

Pela enésima vez nos últimos anos entra em pauta a reestruturação do calendário do futebol brasileiro. Assunto chato, repetitivo, e que sempre entra numa discussão invariavelmente obscura. São diversos interesses particulares se apresentando transversalmente diante dessa pauta.

Dessa vez foi o Secretário de Futebol e Defesa do Direito do Torcedor, Toninho Nascimento, que afirmou ser favorável à alteração, e que o Governo Federal se empenhará para garantir as mudanças o mais rápido o possível.

Vale a pena ver por dentro o que está por trás desses interesses. Principalmente agora com a finalização do “processo de modernização do futebol brasileiro” que se conclui com a chegada da Copa do Mundo, a conclusão das obras das grandes Arenas e, por que não, com a consolidação dos novos “players” do futebol local.

Primeiro ponto colocado na defesa do novo calendário é uma adequação às datas europeias. Para alguns defensores, seria uma forma de evitar que nossos atletas saíssem com tanta facilidade, assim como seria mais fácil negociar a venda de direitos televisivos para a Europa. Nem os menores clubes europeus conseguem evitar isso, imagine os nossos.

Ok, é o que essa turma quer: dinheiro. Mas o grande risco que envolve tudo isso é uma lógica tão eurocêntrica que chega a dar medo. As férias europeias acontecem no meio do ano porque é o período da temporada em que o Sol “sai”. É o Verão deles. Nós estamos acostumados a curtir o fim do ano, porque é a nossa temporada mais quente, também. Aliás, organizamos a nossa vida assim.

Segundo ponto colocado é o “aumento” das pré-temporadas. Nesse quesito que se confundem algumas coisas, mas vale a pena o torcedor mais ativo ficar atento. Está em jogo a mudança dos estaduais, a relação entre a CBF e as federações, e o “lugar” dos pequenos clubes no futebol nacional.

Reparem que o atual Ministério dos Esportes é comandado pelo PCdoB, na figura de Aldo Rebelo, discreto opositor de José Maria Marín e da velha guarda que se alterna, mas sempre comandou a CBF. Também, dentro da atual conjuntura, o mais próximo do Governo Federal e do maior cobiçador da presidência da entidade: Andrés Sanchez.

O próprio Toninho Nascimento fez questão de se posicionar, ainda na sua posse na Secretaria de Futebol do Ministério dos Esportes sobre esse tema, afirmando que era necessário acabar com as “eleições eternas” dos cartolas em suas Federações.

Toninho é a figura perfeita para assumir uma pasta tão importante. Ele é jornalista, conhece o futebol por dentro, e sabe como esse é o momento mais delicado da história do restrito grupo que comanda a CBF há mais de 20 anos, e consequentemente dos seus asseclas regionais. Alguém supostamente “isento politicamente” para falar desses assuntos.

É nesse contexto que a questão do calendário entra como moeda política. O Ministério dos Esportes, que nunca teve qualquer poder no futebol nacional, sabe que abalar a “zona de conforto” do grupo de Marín é desestabiliza-la.

Essa zona de conforto é exatamente essa estrutura que faz das menores federações verdadeiros serviçais da CBF em troca de interesses. Basta ao mandatário da CBF saber como agradar esses senhores, e o voto necessário para qualquer coisa já estaria garantido.

Foi assim que Marín aprovou as suas contas, conseguiu aceitação interna para a obra superfaturada da nova sede da CBF, e é assim que tem conseguido tanta tranquilidade num momento tão turbulento da entidade.

Também nessa perspectiva que Marco Polo Del Nero, atual vice-presidente da CBF pela região Sudeste, e presidente da Federação Paulista, costurou o mega-patrocínio por naming rights da Chevrolet para 20 Campeonatos Estaduais em todo o Brasil.

Estima-se 10 a 15 milhões de reais no total, destinado diretamente para as entidades organizadores das competições: leia-se Federações Estaduais (sobre o tema, e a atualidade dos estaduais já falamos em outros Balanços, mas voltaremos em outra oportunidade – o importante é entender a correia de transmissão do poder e do dinheiro).

Pelo menos até aqui, tudo o que foi dito pelos mandatários dos órgãos de Estado, parece apontar para a quebra dessa relação. O problema é saber que rei será posto após o rei ser morto.

Marín tem buscado apoio até na aristocrática Conmebol para evitar o seu linchamento político após as sequenciais acusações de participação e colaboração com os órgãos repressores e torturadores da Ditadura Civil-Militar brasileira. Tudo indica, inclusive sua idade, que resta pouco tempo. O seu aliado à sucessão é Marco Polo Del Nero.

Por outro lado, não há muito o que esperar de positivo do que vem de “novo”. Afinal até o bilionário Eike Batista, o homem que torna sua propriedade tudo aquilo que quer e toca, começou a se interessar pelo futebol. Já tem a direção do flamengo e a gestão do Maracanã.

A questão da mudança do calendário é, dessa forma, mais uma vez, um engodo diante dos reais interesses dos bastidores do futebol brasileiro. Coisa típica nesse Brasilzão.

Em que pese todo esse jogo de interesses, seguem abaixo outras medidas para “melhorar” o futebol brasileiro, que são muito mais importantes do que a mudança do calendário:

1 – Ajustar a conduta dos cartolas das Federações: chega de feudos e apadrinhamento
2 – Ajustar a conduta, a ganâcia e a avareza dos empresários de atletas
3 – Criar mecanismos que barrem a criação de novos clube-empresa e clube-prefeitura
4 – Regulamentar e criar critérios ESPORTIVAMENTE justos para o repasse de verbas públicas aos clubes
5 – Limitar repasses de verbas públicas aos clubes de acordo com o orçamento destinado a outros esportes: o apoio deve ser equivalente
6 – Acabar ou reduzir os Campeonatos Estaduais deficitários que só servem para fortalecer os feudos das federações.
7 – Fortalecer ligas de clubes e/ou Regionais extra-estaduais, descentralizando as decisões.
8 – Decretar, por lei, a democratização dos clubes de futebol através de planos de associados que não excluam os setores mais empobrecidos.
9 – Garantir aparato jurídico para punição e revogação de eleições fraudulentas nos clubes.
10 – Revogar todas as concessões Público-Privadas dos grandes estádios brasileiros, adequar o seu caráter ao status de “interesse público” e garantir ingressos baratos, sem almejar o lucro de nenhum grupo privado.

Isso, apenas para começar. Depois conversamos sobre o calendário.

Por Irlan Simões

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