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Prova de arrancada no distrito industrial de Socorro (fotos: Igor Matheus/ Portal Infonet) |
Depois de muito esforço e corre-corre de um gabinete para o outro, o Campeonato Sergipano de Arrancada de 2013 finalmente conseguiu chegar a algo próximo de uma etapa neste domingo, 15, no Distrito Industrial de Nossa Senhora do Socorro. Mas duas limitações deixaram o torneio incompleto. Primeiro foi a ausência de um sistema de cronometragem, que transformou a disputa em um “treinão” para divertir os presentes. Em seguida vem a eterna bronca dos organizadores e participantes do evento com a falta de apoio, que torna a arrancada uma das modalidades mais marginalizadas do esporte local.
Isso porque o ano de 2013 não foi muito produtivo para este esporte em Sergipe. Segundo Alex Rodrigues, piloto de arrancada há cinco anos, a primeira etapa da competição, prevista para abril, foi empurrada para setembro devido ao excesso de burocracia e exigências de segurança e de adequação do local – todas, segundo ele, atendidas com rigor. De acordo com o piloto, o esporte tem sido vítima de má vontade e preconceito por parte de instituições como a Secretaria de Estado do Esporte e Lazer.
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“Somos tratados como criminosos. Acham que arrancada é racha, mas ela está muito longe disso. A arrancada é uma modalidade legalizada, ligada à Confederação Brasileira de Automobilismo, que exige muito treino e investimento tanto no desempenho do carro quanto em segurança”, destaca. Rodrigues ressalta que todos os carros são obrigados a trazer sistema automático de combate a incêndio, proteção contra capotagem e cinto de segurança de quatro pontos, além de ser obrigatório o uso de capacete. Ainda de acordo com o piloto, a falta de provas oficiais é um fator de encorajamento para a realização dos ilegais rachas nas ruas.
“O sujeito investe o ano inteiro no carro, deixa ele pronto mas não tem onde extravasar. Então ele acaba indo para a Aruana, ou para outros locais, praticar o racha, que não é legalizado. Não queremos isso para o nosso esporte. Somos profissionais e precisamos de apoio e de pista”. O próprio Alex foi um dos que mais investiu para competir. Dentro de seu Gol aparentemente inofensivo, há uma máquina de motor 2.3, bico injetável, quatro “borboletas”, controle de tração de largada e motor e câmbio “forjados”. Com todos esses mimos, o possante alcança nada mais do que 180 km/h nos 201 metros da pista oficial.
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Público encarou o sol para prestigiar a prova |
Outro piloto renomado da modalidade é Dickson Moura. Com 10 anos de arrancada e dois títulos sergipanos, o competidor também reforça que é preciso limpar a imagem da arrancada. “Racha é crime. Quem faz isso tem a carteira apreendida, paga multa, se dá mal. Já arrancada é esporte. É preciso muito investimento e preparação para entrar nisso”. Moura também destaca que ao invés de encorajar os rachas, a arrancada é o principal antídoto contra elas. “Eu sou exemplo disso. Fazia rachas há muito tempo e, quando conheci a arrancada, virei piloto”.
Arrancada
Disputada por aficionados por velocidade – e, é claro, por quem tem condições de envenenar um veículo –, a arrancada é realizada em uma pista de 201 metros de comprimento complementada por mais 300 metros de área de frenagem. Com 30 participantes, a prova deste domingo foi dividida em cinco categorias: turbo montado, turbo desmontado, aspirante montado, aspirante desmontado e original. “Montado é o carro que vem com todos os itens internos, banco, para-choque, faróis, banco de passageiro. Já o desmontado não tem nada disso. E o original é voltada para iniciantes que querem correr com carro de passeio”, explica Auro Alves, organizador do evento.
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Dickson Moura |
Auro Alves frisa ainda que a Arrancada não poderá mais ser realizada no Distrito Industrial de Socorro. “Foi muito difícil conseguir esse lugar. O pessoal diz que isto é região de indústria, mas não tem nada funcionando por aqui. O que sei é que precisaremos de um novo lugar”.
O secretário de Estado do Esporte e Lazer, Maurício Pimentel, negou que a arrancada seja tratada como “racha” pela instituição. “A arrancada é uma modalidade como todas as outras. Nunca os discriminamos. É claro que a federação tem que fazer a parte deles, e não podemos sempre dar tudo o que eles querem. O que proponho é que reúnam todas as reivindicações para que possamos fazer uma comissão e conversar sobre as dificuldades” disse.
Por Igor Matheus