PET-CT ainda não está ao alcance de todos os sergipanos

Equipamento em que os exames PET-CT são realizados (Fotos: Portal Infonet)

Um exame vem revolucionando a medicina nuclear há cerca de dez anos, mas ainda é pouco conhecido por muitos sergipanos. Trata-se do PET-CT, que apesar de possuir tecnologia de última geração no diagnóstico preciso do câncer, determinando o estágio em que se encontra a doença, não é disponibilizado às pessoas carentes por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) em várias partes do país. No Estado de Sergipe, o PET-CT é feito apenas em uma clínica particular para pacientes que possuem convênios ou por meio do pagamento de uma taxa de R$ 4.400.

Como o exame PET/CT não consta no ROL de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e nem na tabela de procedimentos reembolsados pelo SUS, alguns pacientes [a exemplo do que vem acontecendo em vários Estados] estão buscando saídas por meio de ações judiciais principalmente junto à Defensoria Pública Estadual, no sentido de obrigar as operadoras de Planos de Saúde e as Secretarias de Saúde, a arcar com as despesas com a realização. Para isso, os pacientes devem estar munidos de todos os exames, incluindo o relatório médico confirmando a necessidade urgente da realização do procedimento.

Especialista no assunto, o médico Rafael Midjel Brito informou que a Medicina Nuclear é uma especialidade voltada para o estudo da função de diversos órgãos, normalmente ao metabolismo das células e que dentro da Medicina Nuclear o PET-CT trabalha na investigação do câncer.

Dr. Rafael Midjel: "PET-CT é um exame de corpo inteiro"

“Em Sergipe, o exame só é feito na Climed, por meio de planos de saúde e particular, mas alguns pacientes já estão buscando ajuda na justiça. É um exame recente que ganhou destaque de uns dez anos pra cá. O primeiro foi em 2003, realizado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Hoje é um exame indispensável na avaliação dos pacientes com câncer”, afirma lembrando que PET-CT detecta precocemente lesões malignas, que não conseguem ser mostradas em imagens da tomografia computadorizada, ressonância magnética, ultrassom e Raio X.

Dois em um

O médico explicou que são dois tipos de exames em apenas um aparelho. O PET significa tomografia por emissão de pósitrons e CT, tomografia computadorizada.

"A tomografia é o estudo anatômico, estrutural, como é a forma daquele órgão, daquele tecido, o tamanho, se tem alguma lesão. Define morfologicamente, já o PET define funcionalmente, metabolicamente. Um detecta a alteração funcional (PET) a tomografia vai detectar a localização. É um exame só, com métodos diferentes: da radiologia e da medicina nuclear”, ressalta Dr. Rafael Midjel.

Procedimento consegue rastrear as áreas com lesões

Para se ter uma ideia, o PET-CT tem indicações das mais variadas para o acompanhamento do paciente com câncer, desde o diagnóstico inicial até avaliação de uma resposta do tratamento. “É um exame funcional acoplado a tomografia, visando localizar uma lesão. Em caso de lesões suspeitas, o PET ajuda a detectar se é benigna ou maligna”, afirma lembrando que  cancer (pulmao, colon e linfoma) são os únicos autorizados por planos de saude e  que o PET-CT é capaz de avaliar muitos outros tipos da doença.

Acompanhamento

Com a realização do PET-CT, os especialistas têm a oportunidade de acompanhar os pacientes desde a suspeita da doença, avaliando em que grau se encontra, se está em determinado órgão ou se já é metástase.

Já a radioterapia irradia além da área comprometida

“O PET é um exame de corpo inteiro que a gente consegue rastrear, de uma forma única, pesquisando as áreas que tem lesões. Outro fator importante é a avaliação da resposta, tendo a dimensão de quanto o paciente respondeu ao tratamento”, destaca acrescentando que nenhum exame de imagem tem a capacidade de mostrar se tem alguma célula neoplásica em determinada região, a recorrência tumoral.

O especialista falou ainda sobre a avaliação para o planejamento da radioterapia. “Antes tinha uma lesão detectada por uma tomografia, ressonância e irradiava toda a área. Hoje com o PET sabe que não é toda a área que pode estar comprometida, às vezes é só fibrose que existe em volta (tecido que a própria lesão retrai), e com isso, diminui-se a área a ser irradiada”, enfatiza Rafael Midjel.

Indispensável

Pelo fato de o exame ser considerado recente e ser limitado a oncologia, muitos profissionais de saúde ainda não o conhecem, mas todos oncologistas, sem exceção, sabem e tem a noção da importância do exame.

“É um exame hoje em dia indispensável que já entrou como procedimento e avaliação de qualquer tipo de câncer, muda completamente o caminho que o paciente vai seguir detectando se já existe metástase. Se existir o paciente não vai operar”, alerta.

Sem contra-indicação

O médico nuclear Rafael Midjel explicou também como é feito o exame não invasivo, que juntam recursos utilizados na Medicina Nuclear e na Radiologia. Segundo ele, é injetado um material derivado da glicose na veia do paciente, espera-se um tempo [mais ou menos uma hora] para que o material seja distribuído pelo corpo e penetre nas células tumorais, que apresentam uma avidez maior pela glicose.

“A gente costuma dizer que o câncer come glicose. A célula se alimenta muito mais da glicose. O exame não tem contra-indicação, não é um contraste, é uma molécula derivada da glicose e pacientes com diabetes podem fazer. Vale ressaltar que para pacientes gestantes ou lactantes, existe a questão do risco/benefício por se tratar de um exame que utiliza muita radiação”, explica.

Doença

Indagado como está a incidência do câncer no Estado, Rafael Midjel informou que atualmente não existe um estudo que comprove o aumento do câncer em Sergipe ou no país.

“O que podemos perceber é que houve um aumento da detecção da doença, devido à facilidade que a população tem hoje, o acesso à saúde e os aparelhos de imagens, os exames laboratoriais. Você consegue hoje com os recursos terapêuticos, prolongar a vida dos pacientes com câncer, que antes não conseguia ter uma sobrevida igual a hoje”, finaliza.

Por Aldaci de Souza