O doce sabor da literatura

Cocada e poesia: uma mistura incomum para muitos, mas que faz de Lídio dos Santos, ou melhor, Lídio da Cocada, o vendedor de cocadas mais carismático da cidade. E já não bastassem as poesias, esse alagoano de 87 anos resolveu presentear Aracaju com o seu mais recente trabalho: Evangelho Sopro de Vida, um livro de sua autoria.

Já são mais de 20 anos recitando versos para atrair a freguesia. Porém, quem vê esse senhor baixinho e de cabelos brancos passar pelas ruas, fazendo repentes e oferecendo doces, muitas vezes não imagina a fascinante história do homem por trás do tabuleiro.

Pescador desde os sete anos de idade, “Seu” Lídio conhece toda a região do São Francisco e já foi inclusive comunista. “Eu era comunista dos pés à cabeça. Gostava de defender aquilo que achava certo, como faço até hoje. Passei bons apertos por causa da minha posição, na época da ditadura. Mas hoje em dia não me engajo mais na política. Ela, no nosso país, é muito distorcida e complicada”, comenta.

Junto com todo o carisma, Seu Lídio ainda carrega consigo uma grande paixão: a natureza. “Tomei interesse pela poesia justamente por adorar a natureza. Quando vejo um pássaro voando no céu, fico tão emocionado, que me dá vontade de fazer um verso”, revela. E a poesia é realmente marcante na vida desse homem, que, além de tudo, é um grande símbolo de força de vontade. Vivendo em condições duras durante um bom tempo, o poeta nunca teve acesso à vida escolar. Aprendeu a ler e escrever com a ajuda de amigos, munido sempre de energia e determinação.

“Quando via um pedaço de jornal jogado no chão da rua, eu ia correndo pegá-lo, para ver o que tinha escrito. Gostava de ler. Queria aprender as letras”, relembra. Depois de tanta luta e esforço, eis que o resultado é um livro em exposição. A obra, que conta com o apoio da Fundação Cultural de Aracaju (Funcaju), traz a história da vida de Lídio dos Santos até os seus 15 anos de idade. Uma vitória e tanto, e ele não esconde o orgulho de ter seu trabalho publicado.

“A minha expectativa é muito boa. O livro retrata de forma verdadeira a miséria pela qual passa o nosso povo. Foi realmente um grande passo, um antes analfabeto, hoje autor de livros”, comemora.

Por Valnísia Mangueira