Paulo Lobo, um artista sem rótulo

Na última “Quintas da Assaim” do mês de agosto, quem canta na casa Melodia é o músico, jornalista, publicitário, teatrólogo: artista Paulo Lobo. No show Palavra-Chave, Paulo reúne músicas que fizeram parte de seus 20 anos de carreira, de sua admiração por grandes compositores da mpb, além de algumas poesias de artistas sergipanos que ele musicou especialmente para este show. Em entrevista para o Canal Sergipe Cultural fala do mercado musical sergipano e de suas carreiras artísticas. Sergipe Cultural – Como é ser músico em Aracaju? Paulo Lobo – Existem duas categorias de músicos: aqueles que optam pelo sucesso fácil e apelam para o lado comercial e os que buscam uma consistência em seu trabalho, privilegiando a qualidade ao interesse financeiro. Mas não dá para viver sendo somente músico. A gente tem que ter várias profissões para não ficar parado. A música não nos dá viabilidade, porque o público é muito pequeno. Eu mesmo me considero mais cronista que músico- vivo escrevendo. Também passo muito tempo trabalhando com publicidade, que é uma coisa de que gosto muito. Mas não é só pela questão financeira que faço várias coisas. Gosto disso; dessa liberdade, de não ter rótulos, poder circular por tudo. SC – Com que velocidade o mercado artístico de Aracaju está crescendo? PL – Sinto que está havendo muito um esforço dos jovens em valorizar a classe artística. Não só na música, em várias outras áreas: cinema, teatro, dança,… Mas não há sensibilidade do setor privado nem público para inserir uma forte estrutura cultural na cidade. Faltam recursos, não temos verbas e um projeto de qualidade envolve gastos altíssimos. Com isso, os projetos saem pequenos, sem consistência e continuam à margem do mercado. Sem falar que a produção é muito cara ( músicos, iluminação, som,…) para um público tão pequeno, que zela pela qualidade. SC – O passado era mais rico? PL – A década de 70 a efervecência cultural era bem maior. Os eventos surgiam espontaneamente de uma reunião entre amigos. A gente se juntava para fazer festivais e produzir; tínhamos muita gente para isso, a faculdade era um espaço ótimo. Tínhamos divulgação, os jornalistas valorizavam muito o que fazíamos, porque eles também eram boêmios como nós, também gozavam do nosso espaço. Hoje a culturalização voltada para o financeiro, faz com que o jornalismo cultural estabeleça uma hierarquia baseada na popularidade do artista, em quanto ele fatura e não no valor de sua obra. Aí Xuxa e Tom Jobim acabam dividindo o mesmo nível no cenário cultural. SC – O que você destaca em um projeto como o “Quintas da Assaim” ? PL – O mais importante neste projeto é a iniciativa. O fato de estar se fazendo algo; mostrando os artistas, que tem poucos espaços para se apresentarem. Sair dos Saraus do TTB, totalmente intelectualizado, e mostrar aqueles que ficam restritos à “senzala cultural”, restritos a eventos isolados. Gosto dessa coisa de resistência cultural; dessa mistura que o projeto faz, misturando música, teatro, escultura, tudo no mesmo lugar. Na minha apresentação vai estar a companhia de teatro de Lindemberg, que é uma pessoas que sempre se preocupou com essa resistência cultural, sem interesses de venda; o Luís Antônio, que é uma pessoa muito importante para o Estado, um professor das coisas, com um acervo de informações incrível. É um encontro de gerações e propostas. SC – Como é formado o show Palavra-Chave? PL – É uma mistura de músicas minhas com músicas que considero poesias, compostas por Vinícius, Caetano,… além de alguns poemas de autores sergipanos, que vai ser um diferencial no show. Pretendo fazer uma coisa descontraída: eu, Pantera e Pedrinho vamos nos entender lá na hora, vamos fazer a música surgir também do improviso;vai ser muito gostoso. SC – O que você ouve da nova geração de músicos sergipanos? PL – O Naurêa. Gosto muito deles. Fazem um som bem aproveitado, misturam o folclore com batidas eletrônicas, sem a chatice de difusão, de forma harmonizada. SC – Qual a maior ofensa à música? PL – É inexplicável: o sergipano tem a auto-estima muito baixa; não sabe valorizar o que é local. Isso já é uma característica arraigada a ele. Tudo bem que não temos uma infra-estrutura exigida pelo mercado nacional, mas precisamos de público. SC – Qual é sua influência musical? PL – Eu cresci naquela competição Bossa Nova X Tropicália , uns preferindo o “cantinho e o violão” e outros do lado do “é proibido proibir”. E eu fiquei entre os dois; foi muito bom acompanhar o começo disso tudo. Era um panorama bem mais rico; uma rivalidade de qualidades, era bom contra bom. Isso fez com que a música brasileira se tornasse respeitada em todo mundo. Esse universo contribuiu muito para nosso prestígio no exterior. Uma das coisas que o Brasil sabe fazer de melhor é música. E essa influência me fez optar pela produção com qualidade. Só é desprazeroso o descaso do público, a falta de educação cultural. SC – Um pequeno resumo de sua vida de músico. PL – Eu comecei participando de um festival colegial, com 17 anos; venci dois anos consecutivos. Depois fui convidado pelo Grupo Raízes para musicar peças e também trabalhava como ator. Então fui me dando conta que já estava bem envolvido com a vida artística, não ficava só com a música. Gravei um cd em trio, chamado O Cajueiro dos Papagaios. Dei um tempo de dez anos no Rio, trabalhando com publicidade,mas tentando carreira de músico lá; até que me cansei da super concorrência da cidade e resolvi voltar. Em 99, mais ou menos gravei meu primeiro cd solo Ruas de Ará , que foi bem recebido aqui e ganhei alguns prêmios com ele. Não estou disposto produzir sozinho um segundo cd, o custo é muito alto; vou ficar esperando convite de alguma produtora. Enquanto isso trabalho com publicidade, que é uma área que eu sempre gostei muito, produzindo textos e fazendo eventuais shows. Por Marina Ribeiro

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