De Propriá a Liverpool: Ismar Barreto

De excelentes jingles publicitários às melhores composições sergipanas, Ismar Barreto, que se declara filho de três mães diferentes: Aracaju, Neópolis e Propriá, é a próxima atração do projeto Quintas da Assaim. Com dois cd”s: Tremendamente Sacana e Show do Atheneu Ao Vivo, que não foi lançado na mídia, uma produção mais caseira, Ismar, um publicitário há 24 anos, conversa com o SERGIPE CULTURAL . Através do humor e da crítica fala sobre sua relação com a produção musical do Estado, e, às vezes irritado, sobre os problemas que sofre a classe artística sergipana. SERGIPE CULTURAL: Por que De Propriá a Liverpool? ISMAR BARRETO: Porque eu sou de Propriá. Quero dizer, eu sou de Aracaju, mas sou de Propriá e de Neópolis também. Meu pai era de Propriá e minha mãe de Neópolis, então, me criei nos três lugares, sou filho dos três. Eu poderia colocar de Neópolis ou de Aracaju a Liverpool, mas achei que com a palavra Propriá ficava mais engraçado, mais interessante. E o Liverpool, porque eu vou cantar Beatles. SC: Qual será o repertório do show de sua Quintas da Assaim? IB: Beatles, só Beatles. As músicas mais românticas, mais bonitas deles. SC: Quais foram suas influências musicais? IB: Jackson do Pandeiro, chorinhos, samba de raiz, tudo de forró- mas forró forró, não esse de hoje- violeiros, repentistas, Luiz Gonzaga, Chico Buarque, Dominguinhos,… Desses aí, todos eu conheço pesoalmente, alguns são meus amigos. Jackson do Pandeiro morreu comigo, estava com ele quando morreu, Luiz Gonzaga conheci muito, Dominguinhos é meu amigo, trabalho com ele, a gente faz músicas juntos; e Tom Jobim, que conheci também, mas não éramos amigos. SC: Qual sua inspiração para compor? IB: Eu componho na hora que preciso ganhar dinheir (risos). SC: Sempre quis trabalhar com música? IB: Não, nunca quis ser nada não. Nunca pensei em ser nada na vida. Só quis ser feliz e sou, sempre: comigo não tem tempo ruim. SC: Como foi seu primeiro contato com a música? IB: Através de um castigo. Eu tinha 15 anos, estava morando em Brasília. Me deixaram de castigo, por tomar suspensão no colégio. Passei cinco dias trancado em meu quarto e tinha um violão lá. A única coisa que eu podia fazer naqueles 5 dias era tocar violão. Em 1977, 78, eu comecei profissionalmente, ainda em Brasília. SC: O que falta realizar em sua carreira? IB: Ganhar sozinho na loteria acumulada (risos). Mas não quero dinheiro para ficar besta, quero ter dinheiro para pode me ajudar e ajudar todo mundo, muita gente pobre e necessitada. SC: E qual foi sua maior realização profissional? IB: Ganhar o Canta Nordeste em 1994. Já ganhei 2 vezes, mas o de 1994 foi mais ; foram 40 milhões de espectadores, 11 estados, quase 5 mil músicas inscritas e a minha ficou em primeiro lugar. Em três eliminatórias, eu ganhei as três: aqui, em Alagoas, Recife- isso é uma coisa difícil. Mas a grande realização de minha vida são os meus filhos. SC: Existe muita concorrência entre os músicos daqui? IB: Entre os instrumentistas não, mas entre os ditos “artistas”, “estrelas”há uma concorrência horrível; não é nem concorrência, é uma inimizade enorme, um despeito muito grande. Isso é triste. A Assaim está ajudado muito a melhorar isso. Está fazendo um trabalho que nunca foi feito em Sergipe, já se tentou fazer, mas nunca foi feito como a Assaim fez. Ela está contribuindo muito; não é ainda o que deve ser feito, mas é muito porque nunca foi feito nada. Não é ainda o que deve ser feito , não por desmérito dela, ela tem o grande mérito de lutar, mas é porque é difícil, é uma classe complicada. Eu acho que a pior classe de músicos do Brasil é a de Sergipe. Agora, o povo também não contribui, não gosta da cultura daqui; a imprensa divulga os eventos, mas não tocam as músicas, os governos (plural) não pagam, não prestigiam, prestigiam muito mais o de fora. Por esses motivos não temos uma música forte aqui. SC: Qual a arte mais discriminada? IB: Tirando literatura, que conquistou muito respeito, a dança e o teatro são muito desprestigiados.Teatro é uma coisa difícil do povo gostar, porque depende muito do conhecimento cultural, apesar de se ter teatro de várias vertentes: cômico, trágico, Teatro Absurdo, popular,… tem mil vias. Talvez o mais discriminada seja o teatro e a dança também. SC: Quem rejeita mais a produção cultural local: o próprio sergipano ou o público de fora? IB: O público de fora conhece pouco o que é produzido aqui porque não se divulga muito. Esse governo estadual de hoje está procurando fomentar o turismo através da divulgação do Estado e a cultura vai junto. O turista vem ver a cultura: artesanato, música, dança,… Mas o que a gente precisa é ter mais amor pelo que é nosso, pela nossa cultura e divulgar isso, ser “baiano” nesse ponto. Porque se reclama muito que o baiano é bahista, mas ele é assim por ter amor a sua cultura. A gente tem que reconhecer essa característica boa do baiano. No lugar de ficar importando a música da Bahia em 100%, importe somente as coisas boas que ela tem, que são muitas. SC: Tem algum projeto sendo trabalhado? IB: Estou gravando um cd já tem um ano, mas um dia ele sai (risos). Não foi acabado ainda por falta de dinheiro. É um disco de forró autêntico, de ótima qualidade, com as melhores músicas que eu fiz até hoje. SC: Como está a nova produção musical sergipana? IB: Está fraca. É muito complicado fazer música aqui, porque, não ser a moçada nova, os adolescentes, a garotada, que está com essas bandas, tentando fazer uma coisa sua, está legal. Mas a turma mais velha não:ou ficam imitando as coisas de fora, fazendo músicas dos anos 70, copiando os mineiros; composições parecendo tudo com tudo, não faz sua própria música. Eu não vou mentir, ser falso ou educado dizendo que gosto se não gosto. Assim como qualquer um tem direito de não gostar do meu trabalho. Eu procuro fazer uma música minha, com a minha cara; quando eu saio daqui ou vem algum grande artista de fora, a imprensa, sempre, elogiam a minha múica, porque acham que eu faço um trabalho preocupado. Dizer que o meu trabalho é melhor que o dos outros eu nunca fiz. Eu não gosto de muita coisa que é feita aqui, como, acredito, muita gente também não gosta do meu trabalho. Como criador aqui é muito difícil achar algo bom, poucas pessoas têm um bom resultado. É muito comodismo, fazem umas coisas vazias, sem nada. SC: Há mais público para os mais antigos ou para os novos artistas? IB: Acho que não tem distinção, porque o pessoal mais antigo já conquistou um público fiel, assim como quem está começando agora. Contato: (0xx79) 3043-0507 Por Marina Ribeiro

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