Overmundo – Uma ferramenta virtual de divulgação da cultura

Marcelo Rangel
Lançado oficialmente no início deste ano, o site, ou melhor, “o coletivo virtual” Overmundo é um espaço para a cultura do Brasil se mostrar. Notas, reportagens, artigos, fotos, vídeos e músicas fazem parte do conteúdo disponibilizado, de forma gratuita e espontânea, pelos colaboradores, ou overmanos e overminas, que já são mais de quatro mil. Em Sergipe são 73 cadastrados.

 

O idealizador do projeto, o antropólogo Hermano Viana, resolveu batizá-lo como “Overmundo”, em alusão a um poema de Murilo Mendes, no qual o poeta fala de um “cavaleiro do mundo delirante/ Que anda, voa, está em toda parte/ E não consegue pousar em ponto algum”.

 

Com o intuito de ser um desses cavaleiros, o jornalista e produtor cultural, Marcelo Rangel, é um overmano apaixonado pela idéia do coletivo virtual e pela possibilidade da descentralização das informações a respeito da cultura no Brasil. Por conta disso, ele está engajado em difundir o Overmundo em Sergipe e conquistar mais colaboradores do Estado que compartilhem dessa ideologia.

 

Para tanto, o Portal Infonet abre espaço para Marcelo falar um pouco o que é, como funciona, como fazer para colaborar, as vantagens e as desvantagens (se é que existem!) desta iniciativa que conta com o apoio da Petrobras e do Ministério da Cultura. Confira a entrevista.

 

 

PORTAL INFONET – Defina em poucas palavras o que é o Overmundo?

MARCELO RANGEL – O Overmundo é uma comunidade de conteúdo colaborativo na Internet, um coletivo virtual que materializa o conceito do que vem sendo chamado de Web 2.0 de jornalismo cidadão  no Brasil. A idéia é mostrar as culturas de todo o Brasil, inclusive aquelas que não costumam aparecer habitualmente na grande mídia nacional, pois no atual cenário cultural brasileiro a produção é cada vez maior, mas só uma mínima parcela do que é produzido consegue ser divulgada ou distribuída para o público. Então, o objetivo é servir de canal de expressão para a cultura brasileira tornar-se visível em toda sua diversidade, divulgando e apresentando discussões e textos sobre cultura e sociedade. O projeto foi concebido e é realizado pelo núcleo de idéias “Movimento”, formado por algumas figuras destacadas no meio acadêmico e na vida cultural do país, formado por Hermano Vianna, José Marcelo Zacchi, Alexandre Youssef e Ronaldo Lemos.

 

INFONET -Quando e como você teve conhecimento sobre o site?

MR – A jornalista Maíra Ezequiel me apresentou o site logo no início do projeto, quando começou a trabalhar como colaboradora oficial de Sergipe, e eu dei uma pequena colaboração para seu trabalho nesta época. Depois ela teve de se desligar para cursar seu mestrado em São Paulo e me indicou para substituí-la.

 

Equipe de overmanos e overminas de todo o Brasil
INFONET – De que forma e há quanto tempo colabora?

MR – Integrei-me ao projeto em maio deste ano, quando fui ao Rio participar de uma reunião nacional para elaboração de estratégias de trabalho e diretrizes. Desde então, tenho escrito artigos, dicas de eventos em Sergipe e divulgado o site junto a produtores culturais, artistas, estudantes de comunicação, professores e instituições culturais.

 

INFONET – Quais os resultados, na prática, obtidos com o trabalho do Overmundo?

MR – O Overmundo já tem conseguido promover uma rede de circulação cultural entre agentes de todo o Brasil, e não apenas no meio virtual: alguns trabalhos divulgados no site já foram convidados para eventos em outros estados por conta de relatos e conteúdos lá disponibilizados. E estas informações já começam a chegar na grande mídia também, proporcionando divulgação de trabalhos até então desconhecidos nacionalmente, com entrevistas em programas como os de Jô Soares e da GNT. A idéia agora é promover isso ainda mais, pois estamos iniciando um processo de divulgação de eventos em todo o Brasil através de um Calendário Nacional Overmundo.   

 

INFONET – Qual o perfil dos colaboradores?
MR
– Os overmanos e overminas, colaboradores “oficiais”, são jornalistas, produtores culturais, agitadores em seus estados de origem. Mas qualquer pessoa é um overmano ou overmina em potencial, o canal está aberto. No site em geral, temos também artistas, estudantes, pesquisadores, coletivos de agentes culturais, pessoas que querem falar de suas atividades e conhecer a produção cultural do Brasil.

 

Homenagem de Marcelo a Ismar Barreto teve destaque no Overmundo 
INFONET – Como se tornar um colaborador? Qualquer pessoas pode chegar lá e inserir qualquer tipo de conteúdo?
 MR
– Os usuários podem gerar conteúdos, votar, disponibilizar músicas, filmes, textos, comentar isso tudo e trocar informações de modo permanente, de várias formas. No Overblog, a pessoa pode escrever textos opinativos, artigos, publicar entrevistas. No Banco de Cultura, as pessoas podem disponibilizar criações, como fotos, músicas, vídeos e textos, sob a licença Creative Commons , que dá um respaldo legal para que o autor compartilhe seu trabalho com toda a sociedade em rede, sem abrir mão de seus direitos sobre a obra, uma forma de substituir o tradicional modelo de “todos os direitos reservados” por um modelo em que “alguns direitos são reservados”. Assim, todos se beneficiam do fato de que podem livremente compartilhar o que está no site, desde que seja para fins não-comerciais. Na agenda de eventos, podem ser divulgados eventos culturais, festas, agitos. Outra opção é colaborar para o guia das cidades com dicas de lugares, festivais, bares, pontos de encontro dos “locais” de cada estado, um ótimo jeito de saber aonde ir e o que ver quando se vai a determinado local, ideal para quem quer saber mais do que é indicado pelos roteiros turísticos tradicionais. Podem ainda ser criados blogs pessoais ou coletivos dentro do Overmundo, são várias possibilidades. Além disso, o usuário pode dar o voto de “Gostei!” nos conteúdos para que ganhem mais visibilidade no site, e ainda comentar sobre os assuntos tratados, contribuindo para complementar as informações de outros usuários, sem falar que podem até mesmo fazer contato com outros participantes de todo o Brasil através dos perfis de cada usuário.

 

INFONET – Existe algum tipo de filtro ou fiscalização do que está sendo exibido no site, em termos de conteúdo e comentário?

MR – Atualmente existe uma equipe de moderadores de conteúdo no escritório do Rio, mas até hoje não foi necessário “censurar”. E a idéia é que essa equipe, de moderadores e de colaboradores oficiais, desapareça daqui a algum tempo e o site passe a ser auto-regulado pela própria comunidade. Se alguém coloca lá algo para “esculhambar” ou que não esteja de acordo com a proposta, isso acaba por não seguir adiante, não ganha visibilidade, pois não recebe votos da comunidade. O projeto foi desenvolvido pela Tecnopop, aproveitando ferramentas  de conteúdo colaborativo de outras iniciativas do gênero, aprimorando e adaptando idéias do Kuro5hin.org, Digg, Collective  e o OhMyNews por exemplo. 

 

INFONET – Como é que o Overmundo se mantém? Existe algum lucro extraído do site?
MR
– O projeto conta atualmente com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Cultural e dos mecanismos de incentivo fiscal do Programa Nacional de Apoio à Cultura / Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), do Ministério da Cultura. Não há fins lucrativos, até por conta do licenciamento do conteúdo em Creative Commons. Rádios comunitárias, escolas, pontos de cultura e quaisquer outras iniciativas não-comerciais estão autorizadas a utilizar os conteúdos do Overmundo, com o intuito de contribuir para que a sociedade usufrua do maior número de informações possível, facilitando o acesso à produção cultural e ao conhecimento.

 

INFONET – Quantas pessoas estão cadastradas no total e especificamente em Sergipe?

MR – Até 30 de junho, foram 4.234 usuários cadastrados, no total, e 73 em Sergipe. Embora os dados geográficos ainda não sejam 100% confiáveis, os acessos estão crescendo em Sergipe. Em junho, tivemos 946 visitas, 1,8% do total de acessos, com Aracaju na 11ª colocação entre as cidades. Tivemos um dos conteúdos mais acessados em junho, uma nota sobre a Vila do Forró que gerou 641 acessos de todo o Brasil, o segundo lugar geral do mês em todo o site. Até o dia 21 de julho, Sergipe estava na 19° colocação em visitas, com 315 acessos, logo atrás de Rondônia e à frente de Alagoas, Maranhão, Paraíba, Piauí, etc.

 

 

INFONET – Você já tem alguma iniciativa em vista para aumentar o número de sergipanos e de conteúdo de Sergipe no Overmundo?

MR – Comecei divulgando o projeto na mídia tradicional e diretamente para produtores, artistas e estudantes. Já contactei instituições culturais e faculdades de comunicação, arte e áreas afins, para agendar encontros com colaboradores e usuários em potencial.  Minha principal meta é conseguir divulgar o projeto não apenas aqui na capital, mas também no interior, a fim de estimular a visitação, a colaboração espontânea e a disponibilização de conteúdo no Banco de Cultura através de palestras, debates ou até mesmo conversas mais informais, para que eu apresente não só o Overmundo como a idéia de conteúdo colaborativo na internet e web 2.0.

 

INFONET – O que é que o estado ganha com isso?

MRPercebo que a produção cultural de Sergipe não é muito conhecida no restante do Brasil e que os artistas em geral ressentem-se disso e buscam inserção nacional. O Overmundo pode se tornar uma ferramenta de divulgação de seus trabalhos, da cena cultural local e até mesmo do estado em si. Uma rede de pessoas atuantes na área cultural navega pelo site em busca de informações sobre a produção cultural brasileira. Isto pode gerar contatos, possibilidades de intercâmbio, visibilidade.

 

INFONET – Por fim, de que forma você tentaria persuadir os internautas, as pessoas ligadas à cultura ou mesmo os curiosos a fazerem parte da comunidade do Overmundo?

MR – O que mais me fascina no projeto é a descentralização das informações a respeito da cultura no Brasil, a possibilidade de qualquer pessoa opinar e informar, falar da cena cultural de sua cidade/estado. Você pode dar uma dica da sua cidade, falar de algum projeto cultural que está envolvido ou que tem conhecimento, é um espaço aberto. Mesmo somente como leitor, você encontra informações sobre festivais, mostras, tem acesso a muita coisa legal que acontece no Brasil. Eu mesmo vivo encontrando coisas interessantíssimas, algumas até perto daqui, que eu nunca tinha ouvido falar, como um grupo teatral de Alagoas, os Subversivos. Temos planos de realizar intercâmbios entre os estados. E esse processo pode funcionar até internamente, aqui no estado mesmo, como aconteceu com o contato que tive com o Fábio Santana, da banda Urublues, um cara que agita a cena rock de Itabaiana e arredores. Outro dia o Paulo Lobo me disse que soube do site do Prof. Luiz Antônio Barreto, o Serigysite através do Overmundo, a partir de uma mensagem que mandei para ele falando do site.

Por Carla Sousa

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