Arca das Letras: um ‘tesouro’ sem fronteira

Rejane Santana explica o uso da Arca para moradores
Levar leitura e livros aos assentamentos da reforma agrária, às comunidades de agricultura familiar e aos remanescentes de quilombos. Esse é o objetivo do projeto ‘Arca das Letras’ do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) que em Sergipe é realizado pela Organização Não Governamental (ONG) ‘Um lugar ao Sol’.

O projeto iniciou em 2003, mas a ONG é responsável por ele a partir de 2005. Localizada no município de Japaratuba, a ONG “Um lugar ao Sol” já entregou 40 das 55 arcas existentes no Estado. Elas estão espalhadas por 25 municípios sergipanos, atendendo comunidades que possuem de 120 a 500 famílias.

Para uma das coordenadoras do projeto, Rejane Santana, a ‘Arca das Letras’ é um projeto que conquistou o país e deu certo em Sergipe. “Existem comunidades que já receberam novo acervo de livros e são muitas as localidades que solicitaram a Arca ao MDA e aguardam sua vez de recebê-la”, ressalta.

O programa conta com a participação das comunidades rurais nas etapas de planejamento, implantação e desenvolvimento. “Os moradores escolhem assuntos de seu interesse para formar os acervos, indicam o local de instalação das bibliotecas e seus agentes de leituras. Com isso, todos participam”, diz a coordenadora.

Mas o momento mais emocionante para Rejane é quando eles vão a comunidade entregar a Arca. “Fico comovida quando vou entregar. Junta um monte de crianças. Uns dizem que um determinado livro é bonito e que quer ficar com ele. É muita alegria e comoção”, conta.

A Arca

A Arca que é feita de madeira para guardas os livros
A idéia é simples: são pequenas caixas-estantes que comportam 220 livros. Elas são enviadas às comunidades rurais após consulta aos moradores para saber seus interesses e necessidades. “Fazemos um levantamento de cada comunidade antes da entrega, treinamos os agente de leitura, pessoas voluntárias que são responsáveis pelo empréstimo dos livros e pelo incentivo à leitura na comunidade. E depois de algum tempo fazemos uma avaliação de como a arca está sendo utilizada”, relata Rejane Santana.

Cada ‘biblioteca’ é composta por cerca de 220 livros (didáticos, literatura, técnicos), mas também são enviadas revistas, literatura de cordel, gibis e material para que os agentes façam as fichas dos moradores que pegaram os livros emprestados. O acervo atende ao público infantil, infanto-juvenil e adulto.

“Duas pessoas que moram naquela comunidade são escolhidas para ser o agente.  Elas também escolhem se a arca irá ficar numa residência ou em alguma associação. A idéia é que a arca fique o mais disponível a todos que pertencem aquela localidade por isso procuramos não deixar em escolas e nem em igrejas”, explica.

Os agentes de leitura são treinados e são responsáveis pela limpeza e cuidado da Arca, empréstimos dos livros e fichas daqueles que pegam o livro emprestado. “A arca funciona como uma biblioteca. Cada comunidade é reunida para escolher os assuntos dos 220 livros que receberão a exemplo do povoado de Mocambo que solicitou em seu acervo livros sobre negros e sua cultura”, diz.

As obras literárias são formadas com títulos repassados por órgãos do poder público, especialmente os Ministérios da Educação, por meio do FNDE, e da Cultura, além de livros doados por editoras, escritores, e em campanhas públicas de doação. O programa ‘Arca das Letras’ conta também com o apoio dos movimentos sociais, de sindicatos de trabalhadores rurais e de prefeituras municipais.

Mudanças

Moradores recebem a Arca com alegria
De acordo com Rejane Santana a mudança na localidade que recebe a Arca é imediata. “Como fazemos um acompanhamento para saber como a Arca está sendo cuidada e ter conhecimento se seu objetivo está sendo alcançado, escutamos as mais interessantes histórias”, diz ela, comentando que em geral os livros são bem aproveitados e interessam grande parte da comunidade.

“Quando levamos a Arca costumamos fazer uma pequena explanação falando dos objetivos do programa. Explicando que não envolve dinheiro, mas também pedimos para que as pessoas não rasurem e nem rasguem suas páginas”, diz a coordenadora, ressaltando que em geral a comunidade se interessa a pedir novo acervo depois de certo tempo e as comunidades vizinhas fazem o pedido da Arca para o seu lugarejo.

Além de facilitar o acesso aos livros, o programa estimula a leitura, as expressões culturais e o processo participativo nas comunidades. “Muitos jovens que estudam nas escolas das cidades e moram em povoados não podem comprar romances que caem no vestibular e agora recebem nas Arcas”, exemplifica.

“A Arca das Letras vem promovendo a educação, a cultura, o trabalho e o entretenimento entre as populações do campo, contribuindo para o desenvolvimento humano no mundo rural”, alega.

Falta Arca

As arcas-estantes são fabricadas nas Penitenciárias de Petrolina (PE), Mossoró (RN), Fortaleza (CE), Fundação Pão dos Pobres (RS) e em outros municípios quando existe a iniciativa das prefeituras. “O motivo para a demora da entrega das arcas em Sergipe é que não temos fábricas no Estado”, diz.

Ao ser questionada se a marcenaria do presídio de Areia Branca que fabrica móveis, onde os trabalhadores sentenciados recebem bolsas de trabalho e reduzem suas penas, não resolveria este problema, Rejane Santana se restringiu em afirmar que o Governo do Estado não teve interesse no projeto.

Mas, alegremente comunicou que a ONG “Um lugar ao Sol” montou uma marcenaria na sede em Japaratuba, que irá servir também para a fabricação de Arca. “Estamos trabalhando para conseguir algum professor que dê aulas aos meninos e que estes tenham a possibilidade de receber uma bolsa por este trabalho. Resolveremos o problema das Arcas e de desemprego de alguns em Japaratuba”, comemora.

Cidades

Os municípios que já foram atendidos em Sergipe são: Canindé do São Francisco, Gararu, Monte Alegre de Sergipe, Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo, Porto da Folha, Cristinápolis, Indiaroba, Itaporanga D”Ajuda, Pinhão, Poço Verde, Santa Luzia do Itanhy, Simão Dias, Barra dos Coqueiros, Feira Nova, Gracho Cardoso, Itabaiana, Japaratuba, Japoatã, Laranjeiras, Nossa Senhora do Socorro, Riachuelo, Santana do São Francisco, São Cristovão.

Desde o início do programa, já foram implantadas 2.223 bibliotecas em 19 Estados e também em Cuba e Timor Leste, como cooperação técnica solidária. O programa atende a mais de 200 mil famílias, em 567 municípios, com mais de 500 mil livros distribuídos no meio rural. Para desenvolver as atividades de leitura e cuidar das bibliotecas, o programa já capacitou 4.620 agentes de leitura.

Por Raquel Almeida

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