Artistas lutam pela preservação da música em SE

Alguns grupos, como a Sofise, estimulam o contato de crianças com a música erudita (Fotos: Arquivo Portal Infonet)

Com o intuito de promover o contato com a música instrumental em Sergipe, alguns grupos realizam recitais e concertos para levar a arte à plateia. É o caso de entidades como a Sociedade Filarmônica de Sergipe (Sofise), o grupo Renantique e a Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE). Mas o contato do público sergipano com a música erudita não é recente. Apesar de negligenciado por um certo período, as obras de compositores clássicos já foram bem difundidas no estado.

A presidente da Sofise, Olga de Andrade, explica que a música erudita se fixa no Brasil com a chegada da família real portuguesa, que trouxe consigo no ano de 1808 a banda da guarda real e também os pianos. “O piano forte começa a viajar pelo mundo a partir de 1800 e aqui no Brasil ele chega com Dom João VI. Em Vassouras, no Rio de Janeiro, há registros de pianos que datam dessa época”. Em Sergipe o instrumento serviu também de porta de entrada para o estilo erudito. “Os pianos caíram no gosto da população. Capela,no interior do estado, chegou a ter cerca de 30 pianos até a primeira metade do século XX”, conta Olga de Andrade.

Mas o estudo das obras clássicas contou também com o apoio de algumas instituições e nessa seara a Igreja Católica teve grande contribuição em Sergipe. “Em capela e em Aracaju os frades passavam ensinando teoria musical e nos colégios, como o Nossa Senhora de Lourdes e o São José as freiras, que tinham alto conhecimento musical, davam aulas a toda a população”, continua Olga de Andrade.

O grupo Renantique conserva obras medievais

O resultado do hábito de estudar música clássica nas escolas foi a formação de gerações de compositores e músicos que hoje possuem reconhecimento nacional. “Já recebi ligações de pessoas do Rio de Janeiro encantadas com obras de artistas como João Luiz Goes, que em 1844 compôs uma fantasia para piano muito bonita”, narra a presidente da Sofise. Os centros produtores de obras eruditas em Sergipe eram as cidades de Capela, Maruim, Estância, Rosário do Catete e Itabaiana, local onde se formou a primeira orquestra sacra do estado.

Proposta diferenciada

Mas nem todo grupo artístico sergipano estuda e executa apenas as obras dos períodos clássico e romântico. Um grupo de músicos encarou o desafio de apresentar ao público composições mais antigas, dos períodos medieval e renascentista. “Nós fazemos um resgate histórico e nossa fonte é a partitura. Essas composições são de um período muito antigo e em grande parte das vezes as partituras são compostas em línguas mortas como o galego-português e o provençal”, explica Emmanuel Vasconcelos, músico do grupo Renantique.

Alguns intrumentos precisam ser importados da Europa

O artista conta que a maior dificuldade em produzir esse estilo de música, é que todo o material utilizado, desde partituras até os instrumentos tem que ser importado da Europa. “Conseguimos através de email e telefone alguns contatos na Inglaterra que nos forneceram os materiais necessários. A questão é que é caro importar essas mercadorias”. Emmanuel Vasconcelos acredita que a existência de editais fomentadores e a participação do Renantique em eventos públicos e privados é o que garante a atividade dos músicos.

Formação de plateia

Esforços como o da Sofise e do grupo Renantique têm um objetivo comum, trazer de volta aos concertos o público que outrora frequentava as execuções das grandes obras e que hoje quase não tem contato com a música erudita. Outra instituição que colabora com essa proposta é a Orquestra Sinfônica de Sergipe (ORSSE). A opinião do maestro da ORSSE, Guilherme Mannis é a de que o consumo de arte deve ser incentivado de todas as formas. “Quando se pensa em formar plateia é imprescindível disseminar os estilos. Um público que frequenta apresentações sem entender as obras será efêmero, a formação cultural garante um público assíduo, no entanto é válido promover o contato com todo e qualquer público”, considera o maestro.

O ORSSE leva música clássica a vários públicos, com concertos em igrejas e parques

Nesse sentido a ORSSE desenvolve ações que colaboram com o contato entre o público e arte. O projeto “Sinfonia do Saber” leva estudantes da rede pública de ensino aos ensaios gerais da orquestra, o último antes da apresentação dos concertos. Nessa ocasião os estudantes além de ouvirem as obras têm explicações acerca das composições e instrumentos. O maestro considera a ação um sucesso “As crianças terminam vindo para o concerto e muitas vezes ainda trazem as famílias”.

Resultados

Para Olga de Andrade, presidente da Sofise, a prova maior disso é a conscientização do valor didático da música. “A música ajuda na construção do cidadão e nós tentamos colaborar com todo esse processo”. De uma forma geral todo o esforço para promover um maior contato entre o público e arte tem surtido efeito. Ao menos é o que considera os envolvidos nessa tentativa de formar platéia em Sergipe. “A música instrumental vive uma guinada em Sergipe. Recebe-se muitos incentivos e apesar de estarmos longe do ideal já é possível acreditar em melhorias”, declara Emmanuel Vasconcelos.

E esses avanços, ainda que tímidos, já promovem o reconhecimento dos músicos e da platéia sergipana por profissionais de outros estados. “Tivemos um concerto da Sinfônica de São Paulo e eles ficaram encantados com nosso público, sem contar que não é exagero a assertiva de que já somos um dos maiores grupos sinfônicos do Nordeste”, finaliza Guilherme Mannis.

Por Caio Guimarães e Kátia Susanna

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