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Ramon Diego é membor da Academia Gloriense de Letras (Fotos: Arquivo Pessoal) |
“O que é o poeta? É um cara tentando ser da melhor forma possível”. É desta forma que Ramon Diego Câmara, 22, define o ofício que escolheu por paixão. Natural de Nossa Senhora da Glória, estudante do curso de Letras e membro da Academia Gloriense de Letras, o sergipano foi escolhido para integrar a lista dos cem melhores poemas da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), no concurso Toc 140, Ano III.
Ao Portal Infonet, Ramon conta sobre sua poesia, suas influências e sua experiência na Fliporto, onde concorreu com poetas da Inglaterra, Portugal e Japão, entre outros países.
Portal Infonet: Como você soube que havia sido selecionado para compor a seleção de poemas Toc 140?
Ramon Diego: O concurso seleciona poemas escritos no Twitter, que devem ser escritos no limite de 140 caracteres. Por isso o nome Toc 140, pois o poema deve ser “redondinho” nesse formato. Como eu já tinha muitos poemas pequenos, pensei que dava para mim e resolvi tentar. Entre os cem concorrentes, fiquei em 19º. Quando me avisaram, fiquei muito feliz, pois a Fliporto é a segunda maior festa literária do país, e só perde para a de Paraty. O lançamento aconteceu em novembro de ano passado, e no início deste ano recebi o livro pelo correio.
Portal Infonet: Quando e como começou sua trajetória na poesia?
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Toc 140 faz reunião de poemas divulgados no Twitter |
RD: Desde 2009, eu escrevo poemas, e justo nesse ano foi publicado aqui em Glória um livro entitulado “Retalhos”. Nesse livro, os maiores poetas da terra foram homenageados, e tiveram seus principais trabalhos reunidos. Participei também de uma antologia poética em São Paulo, chamada “Ventos Soprados Pelos Versos de Outono”. Mas minha relação com a literatura, o gosto pela escrita e pela leitura começaram desde muito antes.
Quando eu tinha mais ou menos 13 ou 14 anos, eu comecei a ler por que gostava muito de uma bibliotecária da minha escola. A gente sempre conversava muito, e quando eu ia visitá-la, sempre pegava um livro diferente. Ela acabou indo embora da escola, mas os livros ficaram e eu mantive o hábito de ir à biblioteca. Comecei a experimentar meus próprios textos no ensino médio, e desde então venho trilhando este caminho.
Portal Infonet: Como você caracteriza a sua poesia?
RD: Não gosto muito de tentar definir, por que você acaba reduzindo as coisas quando as nomeia. Mas já recebi algumas classificações e críticas que achei interessantes, como “poesia cínica” e “poesia do inusitado”. Acho que quando Deus me criou, colocou os sentimentos dentro do olho, já que é através do que vejo que tento recriar o mundo. O que me inspira são as coisas cotidianas, e por isso eu tento lançar meu olhar sobre o que acontece à minha volta. O poeta é isso, é o cara que digere o mundo através de metáforas e metonímia. E a poesia é uma forma de estar consciente no mundo.
Portal Infonet: Em seus poemas, o caráter social é um dos temas mais abordados. Qual sua motivação ao inserir esse debate?
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Coletânea Retalhos foi uma das primeiras publicações do qual o poeta fez parte |
RD: Machado de Assis utilizava a ironia para alfinetar a sociedade, e mostrar o que ele julgava equivocado. E eu tenho um pouco dessa postura de utilizar o cinismo e o sarcasmo para criticar a realidade. Assim como o jornalismo cumpre o papel da denúncia e do serviço, a poesia também pode ser utilizada para esse fim, sendo engajada.
Muitos intelectuais dizem que quando a poesia ganha um conceito social, perde em estética. Mas eu tenho uma preocupação muito forte em unir os dois lados. Alguns poetas só pensam na linguagem em si, por que querem que o poema seja bonito só esteticamente. E eu tento manter esse equilíbrio, mantendo também um cuidado com a linguagem.
Portal Infonet: Existe algum autor que exerça influência em sua produção?
RD: Três caras que me inspiram muito são Manoel de Barros, Ferreira Goulart e Augusto dos Anjos. Acho que a combinação dos três mostra um pouco da forma que eu escrevo, priorizando tanto o conteúdo social como a inovação da linguagem.
Portal Infonet: Aos jovens que como você cultivam o gosto pela poesia, o que você julga como mais importante para iniciar uma carreira?
RD: A primeira coisa é estar sempre em contato com a leitura. Cada livro lido é uma raiz que cresce em você. Se cada escola tivesse uma roda de leitura e cada professor procurasse ser mais político dentro da sala de aula, a formação seria bem melhor. Não me refiro a política de politicagem, mas de tomar partido, se posicionar. O poeta e o artista devem ser politizados, inquietos e atentos, agindo de forma cidadã. Isso é o principal, e faz valer a tentativa de escrever.
Por Nayara Arêdes e Verlane Estácio
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