Prezadas(os) leitoras(es).
Infelizmente, o que mais se vê nos dias atuais é a mistura do tu com você.
Quando nos dirigimos a outra pessoa (nosso interlocutor), por escrito ou verbalmente, o mais correto, sob o ponto de vista gramatical, seria tratá-la na 2ª pessoa do singular (tu), mas esta forma está em franco desuso e quando alguém opta por empregá-la, quase sempre, o verbo é conjugado erradamente na 3ª pessoa do singular. Exemplo: tu foi à festa?, em vez de tu foste à festa?
Nossos parabéns, portanto, aos poucos que conseguem tratar seu colocutor na 2ª pessoa do singular, mantendo a correta concordância em todos os pronomes e formas verbais.
Todavia, dispomos de uma forma alternativa que, além de correta, é muito corrente: o pronome de tratamento você.
A lei do menor esforço, ao longo do tempo, vem mutilando o pronome de tratamento Vossa Mercê, como veremos a seguir:
Vossa Mercê > vosmecê > você. Esta última forma é aceita pela Norma Culta, mas a degradação da palavra continua. Na linguagem falada – e lamentavelmente também na escrita – ouvimos e vemos: Cê prometeu, tem que cumprir. E na monossilábica linguagem dos internautas, é mais que comum encontrarmos o famoso vc.
Quem sabe, futuramente uma dessas formas tão simplificadas poderá ser aceita.
Mas, enquanto isto não acontece, podemos nos valer do você, para a comunicação coloquial. Julgo preferível, porque evita substancialmente os erros de conjugação verbal.
Tenho observado que, por acharem “elegante”, algumas pessoas usam a 2ª pessoa, mas logo se esquecem e estabelecem uma promiscuidade de tratamento, através da utilização simultânea do tratamento na 3ª pessoa.
Quem escreve ou fala tem o livre arbítrio para tratar o interlocutor na 2ª pessoa do singular ou na 3ª pessoa do singular, mas nunca misturar no mesmo contexto esses dois tratamentos.
Esta mistura é encontrada em todos os lugares, inclusive em meios que se presumem eruditos, mas notadamente em letras de canções populares. Alguns exemplos:
a) Sorria, Jesus te ama. O verbo está na 3ª pessoa do singular do imperativo afirmativo e o pronome na 2ª pessoa do singular. O escritor poderia tratar:
tudo na 2ª pessoa do singular:Sorri, Jesus te ama, ou
tudo na 3ª pessoa do singular:Sorria,Jesus o(a) ama.
b) Vem para cá, você também. O verbo está na 2ª pessoa do singular do imperativo afirmativo; enquanto o pronome, por ser de tratamento, exige verbos e outros pronomes na 3ª pessoa. As formas seriam:
tudo na na 2ª pessoa: Vem para cá, tu também, ou
tudo na na 3ª pessoa: Venha para cá, você também.
c) Tanto tempo longe de você… e mais adiante… eu te amo, eu te amo…
Dispensa comentário.
d) Se queres a paz, prepare a guerra. Algumas pessoas podem até, à primeira vista, não perceber o mistura do tu com você nesta oração. Tudo porque a tal mistura é tão frequente que anestesiou nossos olhos e nossos ouvidos. Mas observem que QUERES está na 2ª pessoa do singular do Presente do Indicativo: eu quero, tu queres…; enquanto PREPARE está na 3ª pessoa do singular do Imperativo Afirmativo: prepara (tu), prepare (ele ou ela ou você). Sendo assim, poderíamos dizer ou escrever:
tudo na 2ª pessoa: se queres…prepara … ou
tudo na 3ª pessoa: se quer……prepare…
Para nós, guardiões da pureza do idioma, é inaceitável qualquer lesão às regras gramaticais. Ainda assim, não podemos deixar de registrar que alguns deslizes poéticos são tolerados, até em função da exigência da rima.
Lembremo-nos da afirmação de Horácio, célebre poeta romano do primeiro século antes de Cristo: “pictoribus atque poetis omnia licent”, ou seja, “aos pintores e aos poetas tudo é lícito”. No meu entendimento, a permissão só não é mais legítima, por que Horácio legislou em causa própria, já que era poeta.
Outro erro muito comum é o tratamento na 2ª pessoa do plural (vós) dispensado a uma pessoa, em virtude de sua importância ou, por vezes, para demonstrar um pretenso respeito.
Encontramos com freqüência os erros:
a) nas orações de cunho religioso: Senhor (singular), perdoai (plural) os nossos pecados;
b) em correspondências: Caro Senhor Fulano (singular), recebi a vossa (plural) carta.
Em latim, nossa língua-mãe, oramos assim:
“Pater noster, qui es in coelis, sanctificetur nomem tuum. Adveniat regnum tuum, fiat voluntas tua, sicut in coelo et in terra”. Traduzindo: “Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha (a nós) o teu reino, seja feita a tua vontade, assim no céu como na terra”. Tudo na 2ª pessoa do singular.
Em Português, também deveria ser assim: o tratamento na 2ª pessoa do plural (vós) para mais de uma pessoa, de qualquer nível social; e não para uma pessoa, por mais importante. Em latim, o imperador, dirigindo-se a dois ou mais escravos, tratava-os por VÓS; enquanto o mais humilde serviçal tratava o imperador por TU.
Aguardamos seus gentis comentários e até a próxima quarta-feira.
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