Nação de Jurema: compreendendo a realidade do outro

Nessa sexta-feira, dia 20, a partir das 21 horas, Sergipe vai conhecer, através da II Noite na Aldeia, os trabalhos desenvolvidos pela recém fundada ONG Nação de Jurema. A festa de lançamento vai contar com a presença de índios da Tribo Kariri-Xocó e da idealizadora do projeto, Clarice Novaes da Mota, antropóloga que estuda as comunidades indígenas da região. Comandados pelo pajé Júlio Suíra, os Kariri-Xocós dançarão o Toré, sua dança sagrada. Eles estarão também expondo e comercializando seus trabalhos em artesanato para o público em geral. A II Noite na Aldeia contará ainda com uma exposição de fotos sobre a realidade indígena regional, com fotos de Newman Sucupira, Sílvio Luiz, Sergival e alunos da Universidade Federal de Sergipe. Na ocasião, o cantor e compositor Kariri-Fulniô Wakay estará se apresentando com o maestro Muskito. Participam também os cantores e compositores Nino Karva, Sena, as bandas Trindade, Seda de Pão e Naurêa. Confira agora entrevista exclusiva do Portal InfoNet com Clarice Novaes e Kariri-Fulniô Wakay. Por Neila Santana PORTAL INFONET – O que vem a ser a Noite na Aldeia? No que consiste esse evento? CLARICE NOVAES – A II Noite na Aldeia é justamente uma festa de lançamento da ONG Nação de Jurema e se chama II Noite porque a gente já fez uma festa há dois anos chamada “Uma Noite na Aldeia”. Essa festa foi para levantar fundos e recursos para projetos na Aldeia Kariri-Xocó. A gente observou que sem uma ONG, sem uma instituição que realmente não só capte os recursos, mas administre esses recursos e organize as pessoas, ia ficar muito difícil, muito desorganizado. Daí, eu e mais algumas pessoas, dentre elas alunos da UFS, alguns amigos como o Marcelo Rangel, montamos essa ONG Nação de Jurema e então estamos fazendo a II Noite na Aldeia, para mostrar ao povo de Sergipe a existência dessa ONG, que busca captar recursos e apoiar projetos de autosustentabilidade para a área indígena. Nós começamos com os Kariri-Xocós que foram aqueles que nos pediram para organizar a ONG. Essa Noite na Aldeia vai ter os índios da aldeia Kariri-Xocó. Eles vão dançar o Toré, vão trazer artesanatos e o Wakay vai ser um dos pontos altos da festa. Ele tem todo um trabalho gravado, trabalhos até em nível nacional. PI – Wakay, fale um pouco de você e do seu trabalho. KARIRI-FULNIÔ WAKAY – Eu pertenço a duas etnias: a Kariri-Xocó e a Kariri-Fulniô, e fui convidado para participar deste evento com minhas músicas. Não vai ser um show, mas será um trabalho muito bom para poder buscar harmonia dentro de alguns setores. Para mim é importante estar colaborando e, ao mesmo tempo, relatando como se pode trabalhar no setor social sem perder a cultura. Eu não só tenho um CD gravado como tenho também trabalhos em outra Organização que se chama “Água Dourada”, que juntos desenvolvemos trabalhos há 5 anos em Salvador. Tenho também meu trabalho individual de música, além de outros trabalhos, e a gente pode cada vez mais se integrar uns aos outros. É uma idéia que não podemos de maneira nenhuma jogar fora, devemos nos dar uma oportunidade para conhecermos mais e passar informações às pessoas. PI – Como são os trabalhos desenvolvidos pela ONG? CN – No momento a gente está com um projeto que está sendo desenvolvido pela UFS. É o projeto de Farmácia Viva, que consiste na construção de um laboratório de fitoterapia, um projeto todo voltado à conservação da biodiversidade, das plantas medicinais, um resgate da cultura e do conhecimento. É um projeto que visa a autosustentabilidade do povo da aldeia em termos da sua saúde e talvez até ganhar algum dinheiro para eles com os excedentes desse trabalho. Esse projeto é o primeiro em que eu, já como presidente da ONG, participo. No momento estamos começando a organizar outros projetos de maior peso na área da saúde e economia. Na área da educação, nós gostaríamos de cooperar com os projetos da Água Dourada, porque eles já têm vários projetos de educação dentro e fora da aldeia. Queremos muito também fazer um trabalho de intercâmbio cultural entre os povos da aldeia e as pessoas da área urbana para que conheçam mais, para que nós possamos conhecer melhor a realidade indígena, sem mistificar e nem desprezar. Nós queremos sensibilizar as pessoas para as questões mais prementes da vida indígena na atualidade, trazer esse conhecimento e abrir um espaço de troca e diálogo entre as etnias, além de fomentar a idéia de responsabilidade social pelos grupos indígenas. Na área de projetos culturais, a gente está pensando em fazer um ciclo de atendimento psicológico dado pelo Wakay que também é terapeuta, em que ele viria fazer um trabalho junto com os psicólogos e terapeutas daqui e com as pessoas interessadas em receber essa terapia. Pretendemos também fazer uma exposição fotográfica na tribo Kariri-Xocó. PI – Que projeto merece ser posto em prática de forma emergencial pela ONG? CN – Queremos construir uma casa de parto para ser feita na região de Alagoas, com as tribos de lá. Isso é um problema sério, as mulheres parturientes nas aldeias indígenas não têm um bom atendimento. Tivemos uma situação trágica de uma jovem que morreu no parto. Ela tinha perfeita saúde, achamos que foi o péssimo atendimento que a levou a óbito. Isso assusta as mulheres da aldeia. Esse é um projeto que devemos começar a procurar apoio. A gente se dirige muito para isso: para a área da saúde, cultura, das artes. Estabelecemos um espaço de harmonia em que precisamos crescer juntos. PI – Wakay, você falou em “preservação da cultura”. Ao seu ver, como isso é possível? KW – Hoje nós temos várias dificuldades criadas por nós mesmos. Temos uma miscigenação imensa, cada vez mais expansiva e temos também a evolução em cima disso. Tem uma divisão onde o próprio homem saía dividindo índio, negro, branco, querendo trazer o bem, e de certa forma trouxe, só que não souberam reaproveitar os restos que ficaram. Nós buscamos sempre relatar sobre essa evolução do índio do Nordeste, mostrando que ainda se precisa muito compreender a realidade social. Para nós preservarmos hoje, precisamos conhecer essas emoções de angústias, todas essas coisas de fora e se educar em cima disso. Precisamos também passar para essas pessoas qual é a realidade de nossa cultura, de como funciona, como ela é, relatando apenas o necessário para caminharmos juntos, sabendo nos adaptar uns aos outros. Devemos enfrentar todo o preconceito e discriminação, sabendo conduzi-los, não se sentindo diferente, sem ter que colocar o seu lado, a sua cultura, acima dos outros. Para preservar, precisamos primeiro saber como conduzir a nossa cultura e colocá-la em um plano de igualdade. PI – E como trabalham os voluntários da ONG, Clarice? Como as pessoas podem contribuir? CN – O nosso primeiro voluntário foi um americano, que passou um mês na aldeia. Ele veio conhecer a realidade local para mais tarde compor outros trabalhos. As pessoas que têm aptidões específicas, que possam ajudar e que possam se integrar ao nosso trabalho, são muito bem-vindos. No momento do lançamento da ONG teremos uma lista para as pessoas se inscreverem. A gente vai juntando qualidade de pessoas de bom coração e que possam procurar compreender, em primeiro lugar, a realidade do outro. Os ingressos, que dão ao público o direito de concorrer a prêmios, podem ser adquiridos na Batata Quente da Francisco Porto e no Salão de Beleza Cabelo e Produções – Rua Dom José Thomaz, 370. Maiores informações pelos telefones (0xx79) 231-9439 / 212-6644 ou no site: www.infonet.com.br/noitenaaldeia. Web Editora: Waneska Cipriano

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