João Alves Filho emplaca o seu quinto livro mantendo o estilo didático e leve ao expor questões importantes para o país. São 160 páginas que podem ser lidas de uma sentada, sem sofrimento algum. Separados em sete capítulos com subtítulos e alguns gráficos e tabelas, o texto é bom, com o autor esmerando-se sempre em “trocar em miúdos” o que para os leigos possa ser de difícil entendimento. Ele pergunta e responde. Curioso e interessado por tudo, ao retratar a questão energética, traz como pano de fundo muitas curiosidade nacionais e mundiais. Para quem quiser ampliar seus conhecimentos gerais é obra essencial. Na China, o esterco humano e de animais é usado para produção em larga escala de energia elétrica. Na Holanda, desde a idade média se busca a captação da energia eólica. O Hidrogênio poderá ser o combustível do futuro. São tópicos abordados por quem enxerga na frente, e sabe que o estudo é essencial para o sucesso pessoal. O engenheiro civil e ex-ministro do interior lê três livros por semana, navega na internet, acompanha o noticiário nacional e internacional e adora cinema e teatro… além de cumprir longa agenda de governo. É o mágico do tempo, fazendo-o esticar. “Matriz Energética Brasileira”, com sua capa preta, traz o sombrio modus operandi do governo de FHC no setor elétrico e sua submissão aos interesses do “império americano”. Mostra no penúltimo capítulo como foram jogadas as fichas da nação no cassino que se transformou o setor, com a venda atabalhoada apenas do filé (distribuidoras) e a suspensão dos investimentos em construção de hidrelétricas – cujo potencial o Brasil ainda tem em enorme quantidade. A data medonha foi 12 de abril de 1995. Ali o presidente dava o ponta-pé que resultou no gol contra do apagão e o racionamento de nefastas conseqüências econômicas para a nação. O livro traz os bastidores dessa trama toda, como em um best-seller de suspense, ao estilo Sidney Sheldon. Levantando a história da energia elétrica no Brasil implantada pelas mãos do imperador D. Pedro II, ele destaca também as figuras de Delmiro Gouveia, Juscelino Kubitschek, Geisel e Figueiredo. Do primeiro relata sua saga para desenvolver o Nordeste no início do século passado, culminando com seu assassinato; o segundo reforça a unanimidade nacional; o terceiro desvenda sua visão estratégica e seu pulso nacionalista; quando ao general João Batista, João Alves relembra os encontros que teve com ele na condição de governador. “Mudava de assunto para cavalos e futebol”, comenta, decepcionado. Entusiasta do Pró-Álcool, o governador de Sergipe lembra do êxito do programa na década de 80, quando 98 por cento da frota de veículos novos era movida pelo combustível de fonte renovável e pouco poluente. Foi Geisel quem iniciou firmemente o projeto de auto-suficiência, aplaudido nos Estados Unidos pelo presidente Carter, e que pelas mãos débeis de Figueiredo começou a declinar. Com dados e comparações com outros países, o leitor se depara com outra mazela deixada pelo governo FHC: as termoelétricas, caras e poluentes, em número de 28 construídas às pressas para compensar o colapso energético. Foram 22 meses de pesquisas, entrevistas e estudos da realidade brasileira e mundial frente ao desafio de abastecer de energia a máquina do desenvolvimento. O leitor percebe com facilidade a empolgação do autor com as novidades, como a biomassa, e principalmente, com aquilo que deu certo, como o Pró-Álcool e captação de energia pelas hidrelétricas. O governador João Alves arremata sua obra com a esperança que o atual governo Lula possa aprender com o passado para não errar como o antecessor. O livro é um presente para o Brasil. Vale a leitura. * Ricardo Leite é jornalista e advogado