“Universidade: problema ou solução?”, por José Fernandes de Lima

Num ambiente de recursos limitados e demandas crescentes é natural que a sociedade queira saber a destinação de seus recursos e exija que eles sejam empregados da forma mais eficiente possível. No serviço público a eficiência está relacionada à prestação de bons serviços à comunidade. No caso da universidade, essa boa prestação de serviços corresponde à oferta de uma educação de qualidade e ao comprometimento com o desenvolvimento do país. Uma justificativa para a existência da universidade pública num país em desenvolvimento é a sua qualidade. A busca da qualidade requer um compromisso com os padrões internacionais do saber. Cursos ou pesquisas de mentira são moedas falsas e se constituem em crime contra a cultura e contra o país. A nossa luta contra o atraso e em prol do desenvolvimento só pode ser vencida através da competência. A comunidade acadêmica internacional está convicta de que há parâmetros mediante os quais é possível acompanhar e mensurar a qualidade e a importância de uma universidade, embora haja pessoas, no interior das próprias universidades, que se negam a discutir essa questão. Uma universidade cujos professores e funcionários são mais qualificados, ou seja, possuem maior nível de estudo – mestrado e doutorado – tem tudo para ser melhor do que outra cujos profissionais sejam menos graduados. Uma universidade cujos profissionais dedicam parte do seu tempo à pesquisa e investem continuamente no seu desenvolvimento profissional tem grande chance de ser melhor do que outra na qual os profissionais são assoberbados com um número excessivo de aulas repetitivas. Uma universidade que possui laboratórios de ensino e de pesquisa mais equipados e mais produtivos é também considerada de melhor qualidade, quando comparada àquelas que não preenchem esses requisitos. A importância ou a pertinência de uma universidade pode também ser mensurada, bastando para isso que seja levado em consideração que uma instituição desse tipo, quando oferece um grande número de vagas e uma grande variedade de opções de cursos, desempenha um papel mais importante para a sociedade local do que aquela que oferece números mais modestos e do mesmo padrão. Há universidades que possuem grande interação com o setor produtivo e com a sociedade organizada em geral, prestando consultorias e realizando projetos de extensão de interesse da sociedade, ocupando por isso um papel de maior relevância do que aquelas que se limitam a oferecer diplomas. Desempenham papel importante as universidades que discutem, pensam e pesquisam assuntos referentes ao futuro do país. A criação de uma massa crítica pensante, capaz de ajudar a projetar e definir o futuro, de formar profissionais competentes e de preservar a cultura do país é o retorno que a sociedade deve esperar da universidade, notadamente da universidade pública. Esses resultados, de alta relevância para o futuro de qualquer país, podem ser alcançados com maior facilidade na medida em que os projetos da universidade estejam em sintonia com o projeto do país, ficando mais difíceis de ser perseguidos, quando o país não tem nenhum rumo bem definido. Uma nação que não tenha um plano de si mesma, que não tenha uma idéia utópica de como quer crescer, sem um ideal mais alto é incapaz de definir o seu destino. Os problemas urgentes relativos à fome, moradia, segurança e outras desigualdades só encontrarão solução definitiva, se a nação for capaz de traçar o seu próprio destino. Para pensar-se como nação e para desenvolver a sua utopia, essa nação precisa fazer uso da sua assessoria técnica, científica e cultural, que só se encontra na universidade. Somente uma massa de pensadores críticos, independentes e insubornáveis é capaz de pensar de forma autônoma um futuro melhor para o país. Por esse e outros motivos, a universidade, longe de ser problema e um sorvedouro de recursos, deve ser vista como parte significativa da solução para os problemas do país. * José Fernandes de Lima é doutor em Física, reitor da Universidade Federal de Sergipe – UFS – e vice-presidente da Andifes.