“Musicalidade”, por Rubens Lisboa

Cantor: FRED MARTINS

CD: “RARO E COMUM”

Gravadora: Independente

Fred Martins viu seu nome começar a ser conhecido no meio musical quando teve a sua inspirada canção “Novamente” gravada por Ney Matogrosso, o mesmo que este ano registrou também a belíssima “Tempo Afora” no excelente CD que gravou com Pedro Luís e a Parede. Logo depois, Zélia Duncan gravou a animada “Flores”, avalizando, assim, o talento desse compositor que também canta bem bonito.

Depois de um razoável disco de estréia, Fred acaba de lançar seu segundo trabalho, bastante superior ao primeiro, contando com a participação especial de seus dois padrinhos: Ney canta com ele a faixa-título, a emocionante canção “Raro e Comum”. Já Zélia marca presença em “A Música em Mim”. O CD tem ainda grandes momentos com “De Novo” e “O Samba me Diz”. O som é pop, mas feito com elegância e criatividade!

Lançamento 2

Cantor: VÍTOR RAMIL

CD: “LONGES”

Gravadora: Independente

Já à disposição de quem interessar possa, o novo CD do gaúcho Vítor Ramil (que vem a ser o irmão mais novo da dupla Kleiton & Kledir, lembram?), um compositor que vem se destacando nos últimos anos como um dos melhores de sua geração. Com canções gravadas por Gal Costa, Maria Rita e Ana Carolina, por exemplo, o rapaz começa a ter suas canções disputadas a tapa pelas divas da MPB.

O novo trabalho não deixa de ser bacana, mas fica aquém do lançamento anterior, o excelente “Tambong”. É que se trata de um disco bonito, mas excessivamente melancólico, o que pode fazê-lo soar cansativo. Gravado em Buenos Aires, com produção do argentino Pedro Aznar, leva o nome de “Longes” e seu enredo poético viaja da citação pictórica de Paul Gauguin (em “Noa, Noa”) ao dialeto gauchês do texto do conterrâneo João da Cunha Vargas (em “Querência”).

Há canções muito interessantes, como é o caso de “Livros no Quintal” e “De Banda”, esta construída em cima da desconstrução de “A Banda” (de Chico Buarque), as quais, juntamente com “Desenchuvado”, se tornam os melhores momentos do disco.

Quem se interessar em adquirir qualquer um dos CDs acima, como se tratam ambos de produções independentes, por enquanto, só poderá fazê-lo via Internet através do site: www.modernsound.com.br 

Novidades

• Já nas lojas especializadas, via Biscoito Fino, o DVD “Outros (Doces) Bárbaros”, que resultou basicamente do registro ao vivo do show realizado na praia de Copacabana, em dezembro de 2002, pelos baianos Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Gilberto Gil. Não é dos melhores licores, mas dá para adoçar a boca. Vale como curiosidade!

• De olho no modismo eletrônico, especialmente aquele que bomba atualmente nas pistas européias, o polivalente Carlinhos Brown lança, juntamente com o DJ Dero, o disco “Candyall Beat”. Trata-se de um CD duplo, no qual há até algumas faixas bem legais como “Sambadream”, “Nakiba”, “Cabuleria” e “O Gado e a Jangada”, mas não há como disfarçar o resultado final que soa bastante monocórdio.

• Recentemente lançado, com distribuição a cargo da independente Tratore, o terceiro CD do catarinense radicado em Alagoas Wado já se encontra disponível. Cultuado por grandes nomes, a exemplo de Zeca Baleiro, é nítido o crescimento do rapaz enquanto compositor, mas as canções ainda permanecem, na sua maioria, com melodias pouco assimiláveis, o que termina por deixar o trabalho sem grandes destaques. A voz pequena não chega a comprometer o disco, o qual registra os seus melhores momentos com as autorais “Carteiro de Favela” e “Se Vacilar, o Jacaré Abraça”. De Luís Capucho e Suely Mesquita, compositores da moda, Wado pinçou a exótica “Vai Querer?”.

• Formado há três anos nas rodas de samba da Lapa, no Rio de Janeiro, a banda Garrafieira começa a despontar no mercado musical. Com o primeiro CD nas lojas, mesclando inéditas (“Serramar”) e regravações (“Bananeira”), o octeto tem à frente, nos vocais, uma promissora cantora que atende pelo nome de Mariana Bernardes.

• Em mais um disco póstumo de Tom Jobim, encontra-se já nas lojas o registro ao vivo de um show feito pelo “maestro soberano” em Belo Horizonte no ano de 1981. O repertório é o mesmo de sempre, com destaque para obras-primas como “Dindi”, “Desafinado” e “Estrada do Sol”, mas o charme que faz a diferença reside no fato de que é o único CD de Tom em que ele desfia suas composições acompanhado somente de seu magistral piano.

CD Recomendado

Uma excelente surpresa neste ano monocórdio por que passa a fonografia nacional é o surgimento de uma cantora que tem o exótico nome de Nô Stopa e que acaba de lançar o CD “Camomila e Distorção”. Diferentemente dessas meninas que cantam e que insistem em compor sem talento algum para fazê-lo, Nô mostra-se autora talentosa, além de uma cantora com feeling inato de intérprete. O trabalho é bem produzido e o som é pop, porém muito inteligente. A melhor faixa é a excelente “Abre Aspas”, mas o disco mostra outros bons momentos com “Um Ano em Um Dia”, “Soneto ao Temporal” e a inspirada “Ar”. Há ainda uma parceira com o irrequieto Chico César em “De Festim”. Vale a pena!