“Musicalidade”, por Rubens Lisboa

LANÇAMENTO

 

Cantora: BADI ASSAD

CD: “VERDE”

Gravadora: UNIVERSAL

 

A carreira de Badi Assad como instrumentista começou cedo. Transitando entre o jazz e a música clássica, já aos 18 anos consagrou-se como a melhor violonista brasileira no Concurso Internacional Villa-Lobos. Detectado o seu virtuosismo, tornou-se óbvio que saísse do Brasil e foi o que ocorreu: logo lançou discos no receptivo mercado europeu e viu seu talento ser reconhecido, à medida em que o seu amor ao canto ia se desenvolvendo. Denominada de “odalisca pós-moderna” pelo crítico musical Arthur Nestrovski, a bela morena, uma das descobridoras dos exóticos efeitos da percussão vocal na música, está lançando um novo CD, o interessante “Verde”, o primeiro gravado em solo brasileiro, demostrando, assim, a sua disposição em conquistar o público de seu país.

 

É claro que não vai ser fácil! Primeiro porque Badi é muito boa (excelente no seu violão, canta muito bem e compõe acima da média) e isso parece ser um empecilho para se firmar nesta terra que prioriza ritmos oportunistas e modismos rasteiros. Mas a bela morena vem com muita vontade, conforme se pode constatar através das 16 faixas de seu novo disco, esplendidamente produzido pelo excelente Rodolfo Stroeter.

 

Eclética como só os bons sabem ser, sem medo de construir uma colcha de retalhos, ou melhor dizendo, construindo-a mas de forma muito bem costurada, Badi alterna clássico da MPB (“Bom Dia, Tristeza”, parceria única de Adoniran Barbosa e Vinícius de Moraes), com canção folclórica de domínio público (“Viola, Meu Bem”), apresenta inspiradas criações próprias (“Não Adianta” e “Você Não Entendeu Nada” estão entre as melhores letras do CD) e relê, sob ótica característica, canções do repertório do U2 (“One”) e da cantora islandesa Björk (“Bacherolette”). Como se não bastasse, o disco ainda conta com as participações especiais de Toquinho e da banda pernambucana Cordel do Fogo Encantado.  Para quem se interessa em conhecer um trabalho de qualidade incontestável, não dá para deixar passar este CD!

 

NOVIDADES

 

·   O Estúdio de Gravação “Capitania do Som”, do incansável batalhador musical Neu Fontes, termina o ano a todo vapor. Estão se revezando entre as disputadas pautas os artistas sergipanos Nino Karva e Kleber Melo, os quais registram os seus novos trabalhos em CD. Também já começaram as gravações das músicas que comporão o disco referente ao 1º Prêmio Banese de Música Sergipana.

·   Foi lançado, semana passada, em coquetel movimentadíssimo, o CD que reúne as doze canções finalistas do Festival anual realizado pelo SESC referente a 2003. Dentre os destaques do disco, estão “Esquinas, Canais e Poxins” (Marco Aurélio), “Quintal Moderno” (Patrícia Polayne), “Falido” (Alex Sant’anna), “Lobo do Mar” (Ivan Reis) e “Nêgo d’água” (banda Bago de Jaca). Um trabalho muito bem vindo!

·   Embora a estréia só aconteça em janeiro de 2005, já se encontra nas lojas a trilha sonora do filme “Meu Tio Matou um Cara”, que tem direção musical de Caetano Veloso. No CD, o próprio Caetano canta “Pra Te Lembrar”, do compositor Nei Lisboa, e é o autor de duas inéditas, entre elas a interessante “Se Essa Rua”, interpretada por Luciana Mello e Rappin’ Hood. Marisa Monte havia sido sondada para regravar “Barato Total”, de Gilberto Gil, mas não aceitou o convite, de forma que a faixa sai num registro de mix da banda Nação Zumbi com a gravação original setentista feita por Gal Costa.

·   Para quem ainda não ouviu falar dele, o cara atende pelo nome artístico de Sideral e é irmão de Rogério Flausino, o vocalista da banda mineira J. Quest. Já em seu terceiro CD (intitulado “Lançado ao Mar”), Sideral faz um som bastante semelhante ao de seu irmão. O timbre da voz, inclusive, é parecidíssimo com o de Rogério, amenizando apenas os excessos no que se refere aos exagerados malabarismos vocais nos finais de cada frase musical, numa tentativa boba de imitar alguns cantores americanos, o que já começa a soar ridículo – afora isso, é inquestionável que ambos cantam muito bem. O CD recém-lançado tem boa música de autoria do mano (“Vem Andar Comigo”), o qual faz uma participação especial em “Maria”. Além destas, os destaques ficam por conta de “Hollywood Star” e “Cinco Dias”. Há homenagem a Cazuza em “Amém, Poeta”. Vale a pena!

·   Depois de dois discos onde pôde se fartar de toda a sua experimentalidade, a cantora Olívia lança um novo CD intitulado “2 por 2”, onde finalmente mostra a bela voz que possui e que sempre ficou escondida atrás de efeitos e psicodelias. Segura, com uma tessitura invejável e um timbre belíssimo, a moça canta acompanhada somente pela fantástica guitarra de Aldo Scaglione e apresenta um trabalho digno dos mais rasgados elogios. Feito para o mercado exterior, o que justifica a maioria das faixas ser em língua inglesa, o CD está sendo distribuído no Brasil pela independente Tratore. Dentre o restrito repertório nacional (único senão do disco), há “Chove Chuva” (de Jorge Benjor), “Estrada do Sol” (de Tom Jobim e Dolores Duran) e “Samba da Bênção” (de Baden Powell e Vinícius de Moraes), mas os destaques maiores vão para “All Blues” (de Miles Davis), “Come Togheter” (de Lennon e McCartney) e “Nature Boy” (de Eden Ahbez). Interessantíssimo!

·   E a turma da banda NaurÊa está de parabéns! O trabalho do pessoal foi selecionado dentre os muitos inscritos no Projeto Rumos, desenvolvido pelo Banco Itaú. É Sergipe vencendo as fronteiras estreitas do nosso Estado…

 

VOCÊ SABIA?

 

A primeira vez que se utilizou o termo MPB para designar a música produzida no Brasil foi em 1965, quando foi realizado o Primeiro Festival de Música Popular Brasileira, mas antes disso, na década de 50, grandes nomes como Tom Jobim e João Gilberto já davam as cores dessa “aquarela brasileira” com os acordes dissonantes da bossa nova. A década de 60, marcada pela ditadura e pelas músicas de forte cunho social e político, trouxe também a Jovem Guarda, que não comentava política e era liderada pela dupla Roberto e Erasmo Carlos. Nessa época, quando os festivais ganhavam força e prestígio, surgiram nomes expressivos como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina, Edu Lobo, Gal Costa, Nara Leão, Geraldo Vandré e Jair Rodrigues, entre outros. Com a decretação do AI-5, em 1968, a produção cultural do Brasil entrou em crise e muitos dos nossos artistas foram exilados. Nos anos 70, a MPB começou a mostrar seu lado multirregional e intérpretes e compositores de todos os cantos do Brasil começaram a ganhar espaço nos programas de rádio e TV. Aquela safra foi muito significativa, pois muitos dos artistas que surgiram no período fazem sucesso até hoje. É o caso de Djavan, Fagner, Simone, Zizi Possi, João Bosco, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Alceu Valença e outros.

 

Rubens Lisboa é compositor e cantor

 

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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