“Musicalidade”, por Rubens Lisboa

OS 12 MELHORES CD’s de 2004

 

Ano findo, vêm à tona as listas de sempre: os melhores disto, os melhores daquilo… Como esta coluna fala de música, nada mais apropriado, então, do que ressaltar aqueles que, na minha opinião (que é pessoal e intransferível, mas nem por isso imune a equívocos), foram os melhores trabalhos musicais de um ano que, infelizmente, primou, no geral, por uma qualidade aquém da esperada. Tomara que em 2005 os nossos artistas venham a estar mais inspirados, pelo bem de todos e felicidade geral da Nação. Vamos aos destaques:

 

1 – VAGABUNDO – Ney Matogrosso & Pedro Luís e a Parede

 

Sem dúvida, o CD do ano! Um álbum primoroso, onde o sessentão Ney Matogrosso, sempre antenado com as novidades do mercado musical, associou a sua experiência ao talento de uma banda cheia de boas intenções, Pedro Luís e a Parede, resultando num disco muito gostoso de se ouvir (que é o mínimo que se espera de um CD). Repertório coeso e muito bem escolhido. Trabalho muito bem realizado.

 

2 – POEIRA LEVE – Adriana Maciel

 

Depois de um disco anterior insosso, a cantora surpreendeu com um belo CD de sambas. Fugindo das escolhas óbvias, reuniu no repertório canções menos conhecidas de compositores famosos e pinçou pérolas esquecidas do cancioneiro popular. Com arranjos caprichados e uma voz em forma, Adriana ainda pôde contar com as participações especiais de Moska, Vítor Ramil e Zeca Baleiro.

 

3 – MORENA BOSSA NOVA – Clara Moreno

 

Ainda pouco conhecida no Brasil, a filha da compositora e também cantora Joyce mostrou porque o DNA faz a diferença. Num disco muitíssimo bem produzido por Rodolfo Stroeter, Clara conseguiu utilizar-se das parafernálias que o mundo da eletrônica oferece, sem desvirtuar o bojo das canções. Ao contrário, fez delas complemento, valorizando, muitas vezes, os arranjos. Ponto para a morena bonita!

 

4 – O INFINITO DE PÉ – André Abujamra

 

Em seu primeiro disco solo, depois que se afastou da banda Karnak, o gorducho e criativo compositor mostrou-se inventivo e interessante na medida certa. Um artista pronto para vôos mais altos que ousou mesclar no repertório canções dos mais diversos gêneros e fez do ecletismo a sua diferença.

 

5 – IAIÁ – Mônica Salmaso

 

A voz suave e ao mesmo tempo potente e grave de Mônica, aliada à produção competente de Rodolfo Stroeter fez de seu trabalho um disco delicado, porém vigoroso. A seleção do repertório se baseou em releituras precisas de canções mais antigas, mas houve espaço para compositores atuais, o que mostra que Mônica poderá, decerto, nos trazer ainda muitas boas surpresas!

 

6 – BAIANA DA GEMA – Simone

 

Inegavelmente uma de nossas maiores intérpretes, Simone faz parte do time de cantoras que se agigantam no palco. Em estúdio, tem alternado bons discos com lançamentos apenas regulares. Com o seu novo álbum, no qual gravou somente criações de Ivan Lins, marcou um belo ponto a favor. Entre o balanço de ótimos sambas e a emoção de canções românticas, Simone realizou um trabalho que já está entre os melhores de sua carreira.

 

7 – ADRIANA PARTIMPIM – Adriana Calcanhotto

 

Utilizando-se de um heterônimo, a cantora gaúcha realizou um sonho por ela há muito acalentado e, enfim, gravou e lançou um CD voltado para a criançada. O disco resultou muito bonito, caiu no gosto do público, tocou bastante nas rádios e vendeu bem, especialmente em Portugal, onde Adriana vem desenvolvendo sólida carreira paralela.

 

8 – EU ME TRANSFORMO EM OUTRAS – Zélia Duncan

 

Dando um tempo na sua fase autoral, Zélia entrou em estúdio e registrou o elogiado show que já vinha fazendo há algum tempo no qual interpretava canções que foram imortalizadas pelas vozes de diversas divas da nossa MPB. Foi uma pausa salutar no seu lado de compositora, o que possibilitou ressaltar a sua face de intérprete, permitindo-lhe, inclusive, que pudesse participar, como convidada especial, de inúmeros discos de outros colegas.

 

9 – LENINE IN CITÉ – Lenine

 

O compositor e cantor pernambucano realizou um show esplêndido em Paris e conseguiu registrá-lo em CD de forma irrepreensível. Acompanhado apenas por dois músicos (uma baixista cubana e um percussionista argentino), Lenine comprovou a força de seu trabalho e o desejo de universalizá-lo. Ao lado de músicas já conhecidas, apresentou algumas canções inéditas, a maioria delas muito boas.

 

10 – VERDE – Badi Assad

 

Com uma carreira internacional consolidada, a violonista Badi Assad resolveu voltar as baterias para a sua pátria e conseguiu realizar um disco memorável. Também cantora de voz privilegiada, Badi arriscou gravar composições próprias e se saiu bem. A produção segura de Rodolfo Stroeter ajudou a aparar as arestas que poderiam ter atrapalhado um trabalho que condensou um repertório bastante díspar.

 

11 – VITROLA ALQUIMISTA – Patrícia Ahmaral

 

Em seu segundo trabalho, a mineira segue a receita de seu ótimo CD de estréia, mesclando oportunas e competentes regravações com inéditas inteligentes e criativas. Num álbum independente, Patrícia pôde mostrar por inteiro a sua voz bem trabalhada e arriscou-se até a gravar suas próprias composições, conseguindo um resultado bastante satisfatório.

 

12 – RARO E COMUM – Fred Martins

 

Depois de ter a carreira avalisada por Ney Matogrosso e Zélia Duncan (que gravaram canções de sua autoria em trabalhos anteriores), Fred conseguiu lançar, também de maneira independente, um CD com linhagem pop, mas que se destaca da média pela qualidade com que foi idealizado. Melodias bem elaboradas uniram-se a letras inteligentes e credenciaram-no como um dos melhores compositores da atualidade.

 

Já em terras sergipanas, a safra foi bastante escassa, mais pela falta de incentivo dos órgãos públicos voltados para a cultura do que pela vontade e talento dos nossos artistas, cabendo destacar apenas os bons CDs dos cantores e compositores Cláudio Barreto (“Impressões Urbanas”) e Alex Sant’anna (“Aplausos Mudos, Vaias Amplificadas”), da cantora Gwendolyn Thompson (“Leoa”) e das bandas NaurÊa (“Circular Cidade”), Sulanca (“Magafone”) e Alapada (“Diversidade”).

 

Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br.

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