Dia do Advogado: o que comemorar?

Henri Clay Andrade
Depois de um café-da-manhã que durou uma hora e meia, os advogados e seus ternos pretos começaram a ocupar a sala do Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), “Edson de Oliveira Ribeiro”. O café foi para homenagear o dia do Advogado. Os ternos pretos para denunciar a crise política brasileira.

 

Antes da discussão sobre a crise, a reunião se tornou mais uma agremiação cuja pauta foi recheada de informes internos, entre elas a vinda do presidente da OAB, Roberto Busato; a IV Conferência dos Advogados Sergipanos e a V Semana Jurídica da Unit. Dentre os anúncios, Busato tornou a falar sobre as prerrogativas do advogado e sobre o seu dia. O assunto da crise ficou para o final.

 

Mas será que o advogado tem o que comemorar em seu dia? Para a chefe do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe, Arlene Pereira Chagas, o profissional da área ainda tem o que celebrar “apesar dos pesares”. Mas que pesares seriam esses?

 

Para Arlene, em Sergipe, há uma sobrecarga no número de advogados formados a cada semestre pelas Universidades. Ela afirma que enquanto a UFS forma uma média de 50 estudantes por semestre, outras instituições chegam a colocar no mercado de 200 a 300 alunos.

 

“Vai chegar uma época que o mercado vai ficar saturado. Sergipe não comporta um número tão grande de advogados e ainda é muito complicado de se estabelecer para o pessoal que está chegando agora. Apesar disso, o Direito ainda tem uma gama de opções que não precisam necessariamente exigir do profissional que trabalhe na área da advocacia, como juiz, promotor, procurador etc.”, diz Arlene.

 

Para a chefe de Departamento, uma das principais razões pelas quais o advogado ainda pode comemorar sua situação é o fato de que ele ainda é necessário do momento de nascimento até a morte do cidadão. “Ninguém pode prescindir da presença do advogado: ele está sempre lá. Por isso ainda temos o que comemorar. A Constituição diz que ele é um ser indispensável ao exercício da cidadania”, explica a chefe.

 

Sobre a atuação da própria OAB, Arlene é favorável à atual gestão: ”Eu acho que o presidente atual é muito atuante, agora, as gestões anteriores dormiram no ponto. Elas deveriam ter lutado para o MEC não autorizasse essa abertura absurda de cursos”, enfatiza.

 

PRERROGATIVAS – Uma das maiores lutas da classe ainda é pelas prerrogativas do advogado. De acordo com um texto de Amadeu dos Anjos Vidonho, especialista em Direito Civil e Processo Civil, “o advogado presta verdadeiro serviço público e exerce função social, atuando em busca da concretização da justiça”. Ele cita o artigo 6º do Estatuto da Advocacia e da OAB que dispõe: “Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Público, devendo-se todos consideração e respeito recíprocos”.

 

Conselho reunido para comemorar Dia do Advogado
O especialista diz que a magistratura, o Ministério Público, os advogados, ou qualquer outra forma de autoridade imbuída de poderes precisam de prerrogativas ou garantias para desenvolver suas atividades sem interrupções e com independência. Essas garantias seriam parte da própria natureza do ofício. A Magistratura, por exemplo,  “tem suas prerrogativas asseguradas pela Lei Complementar nº 35 de 14 de março de 1979; o Ministério Público na Lei complementar nº 75 de 20 de maio de 1993 e na Lei Orgânica nº 8.625 de 12 de fevereiro de 1993; e o advogado, no seu Estatuto da Advocacia e da OAB, Lei nº 8.906 de 04 de julho de 1994, além de outras leis que versam sobre outras carreiras”, diz.

 

Vidonho resume algumas dessas prerrogativas previstas no artigo 7º da Lei nº 8.906/94. Elas garantiriam a inviolabilidade do escritório  do profissional e dos objetos nele contidos; a liberdade de comunicação pessoal e reservadamente, com seus clientes, ainda que considerados “incomunicáveis”; a prisão em flagrante por motivo ligado ao exercício da advocacia, mediante a presença de membro da OAB; não ser recolhido preso antes da sentença transitada em julgado senão em sala de Estado Maior; ingressar livremente nas dependências dos Tribunais; sustentar oralmente as razões de qualquer recurso ou processo em prazo de no mínimo quinze minutos; usar da palavra pela ordem em qualquer local, juízo, tribunal, Administração Pública, para esclarecer dúvidas ou reclamar contra inobservância de preceito de norma.

 

Outras prerrogativas seriam examinar e copiar, mesmo sem procuração, o conteúdo de quaisquer processos ou inquéritos; retirar os autos de processos findos mesmo sem a procuração, pelo prazo de dez dias; ter vista de quaisquer processos; ser publicamente desagravado no exercício da profissão; usar os símbolos privativos da profissão de advogado; recusar de depor como testemunha em processo; retirar-se de recinto onde se encontre aguardando pregão para ato judicial, após trinta minutos do horário designado mediante comunicação protocolada em juízo.

 

CRISE – Um dos fatos que marcou a semana do Dia do Advogado foi a realização, em Brasília, de uma reunião do Conselho Federal da OAB para discutir a conjuntura política nacional. O presidente da Seccional Sergipe da OAB, Henri Clay Andrade afirmou que esteve presente à reunião no sentido de discutir com as outras seccionais, alternativas viáveis para resolver o momento.

 

“Nós temos consciência de que a opinião da OAB sobre o assunto é muito importante para a sociedade brasileira. Nosso posicionamento tem que ter maturidade, cautela, equilíbrio e não pode errar. Pensamos em convocar uma Assembléia Nacional Constituinte, mas logo rejeitamos essa opção por entender que era perigosa e que não estamos vivendo um momento de ruptura. A Constituição atual tem instrumentos para debelar a crise e resolver o problema”, concluiu o presidente.

 

De acordo com informações da OAB nacional, por aclamação, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil apresentou apoio a Roberto Busato pelas manifestações que tem feito em relação à crise política do país. Ele tem cobrado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma postura mais transparente sobre as denúncias envolvendo o pagamento de “mensalão” a parlamentares da base governista. O presidente nacional da Ordem recebeu o apoio unânime dos conselheiros para a proposta de convocação, pelo presidente Lula, do Conselho da República, para auxiliar e assessorar Lula diante da crise política.

 

Segundo a OAB, “na reunião, os conselheiros discutiram ainda outras possíveis manifestações da entidade diante da crise, como a realização de vigílias cívicas pelo Conselho Federal e Seccionais da entidade, e o acompanhamento permanente dos processos de investigações pelas Comissões Parlamentes de Inquérito (CPIs) do Congresso e pelo Ministério Público Federal”.

 

Por Wilame Amorim Lima
Da Redação do Portal InfoNet

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