Enquanto os carros passavam pela Avenida Ivo do Prado, um pequeno grupo se ocupava em espalhar bandeiras brancas pelo canteiro principal. Em frente à sede do Ibama Sergipe, a personagem que mais chamava atenção era uma freira. No momento em que Dom Luiz Cápprio faz uma greve de fome em favor do Rio São Francisco, entidades representativas de diversos segmentos da população civil se unem em sinal de apoio ao ato do pároco. Omar – O Governo Federal precisa dialogar
Desde o início da manhã, um grupo de manifestantes está em frente à sede do Ibama realizando uma vigília em homenagem a Dom Cápprio. A idéia foi sugerida durante um encontro com entidades representativas do Baixo São Francisco, realizada na última semana, em Brejo Grande.
Para hoje, é esperada a presença de caravanas de vários pontos do Estado, de cidades ribeirinhas. Alguns políticos, como a deputada estadual Ana Lúcia (PT), já deram o ar de sua graça no ato. A deputada, inclusive, é uma das organizadoras do evento. No local, foram afixadas bandeiras com a frase “Pela vida, contra a Transposição”. A vigília deve durar até o início da tarde, quando o mesmo grupo parte para Cabrobó, em Pernambuco, local onde Cápprio está fazendo a greve de fome.
DIÁLOGO – Segundo Omar Monteiro, assessor parlamentar, a manifestação é uma tentativa de abrir diálogo sobre o projeto com o Governo Federal. Além disso, serviria como um ato de solidariedade ao bispo. Da mesma forma, é una a reclamação de que não existe um diálogo entre o Governo e a população. É isso o que explicam aqueles que são contra a realização do Projeto de Integração do São Francisco (que acabou sendo chamado, no Nordeste, de Transposição).
A grande esperança da maioria dos presentes é a de que o ato do frei Luiz Cápprio possa unir todas as entidades que lutam contra a Transposição, forçando o Ministério da Integração a abrir um canal de discussão do assunto com a sociedade. “Quando a gente entra em um movimento social, sabe que cada pequeno ato causa uma interferência em todo o processo”, explica Omar.
DADOS – De acordo com dados do Ministério da Integração, o projeto de Integração não ofereceria riscos ao Rio São Francisco. A população ribeirinha, ao contrário, teme que um desvio no curso do Rio possa causar ainda mais secas na região. Em locais como Cabeço (SE), foz do São Francisco, duas vilas já foram destruídas pelo avanço do mar, já que o Rio está perdendo a força.
O assessor parlamentar explica que professores universitários e pesquisadores de todo o Nordeste (incluindo os Estados receptores) já mostraram alternativas que poderiam evitar o gasto de dinheiro envolvido no atual projeto, sem mexer no curso do São Francisco. Um deles seria a construção de cisternas no Norte da região Nordeste, nos Estados onde a seca é crítica.
Outro ponto é que a construção dos canais de transferência da água sem uma revitalização prévia do Rio pode enfraquecer, gradativamente, o São Francisco. A tubulação também precisaria de energia elétrica para movimentar a vazão de água, o que também assusta aqueles que são contrários ao projeto.
“Há uma série de interesses envolvidos aqui. A atitude mais precisa seria ouvir todos os lados e propostas para se calcular os efeitos da Transposição. Temos que reunir os órgãos federais e entidades civis para chegarem juntas à uma conclusão, tudo isso com uma discussão apropriada”, sugere Omar.
IGREJA – A Igreja Católica, no plano nacional, está apoiando o movimento contrário à realização do projeto. Em Sergipe, uma comissão foi enviada a Cabrobró na noite de ontem, dia 2. A delegação conta com a presença do bispo de Aracaju, Dom Lessa, de Propriá, Dom Mário Civieri, da diretoria do Conselho Nacional de Leigos (Conal) e de integrantes da rede Canção Nova, bem como da Assessoria de Comunicação da Diocese de Aracaju. Ao todo, foram 20 pessoas. Fachada do Ibama
O Ministério da Integração enviou nota redigida pelo assessor de imprensa, Egídio Serpa, em nome do Ministro Ciro Gomes, dando conta de que o projeto foi apresentado à Igreja Católica. Quando isso aconteceu, Dom Geraldo Magela teria afirmado somente que o projeto é sério, mas que “em nenhum momento e em qualquer circunstância, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, afirmou que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ou seu presidente, Dom Geraldo Magela, é a favor do Projeto de Integração do Rio São Francisco”.
Para ter acesso às informações oficiais sobre o Projeto São Francisco, acesse www.integracao.gov.br/saofrancisco.
Por Wilame Amorim Lima
Da Redação do Portal InfoNet