Por coincidência ou não, ontem foi aniversário do frei, 59 anos, também de 504 anos de batismo do rio São Francisco e dia de São Francisco de Assis. A visita à pequena capela de São Sebastião, localizada na fazenda Bela Vista, em Cabrobó (PE), começou cedo. O local foi escolhido pelo frei porque lá se pretende dar início ao mega projeto da transposição. Mesmo sem comer, o frei estava aparentemente bem, sorrindo, conversando e recebendo as centenas de pessoa que foram prestar solidariedade. Uma dessas pessoas foi a sergipana Maria Isabel da Silva, de 24 anos. Ela e mais três companheiros do Movimento de Pequenos Agricultores aderiram ontem à greve de fome do frei. “É um desafio muito grande, mas é um compromisso pela causa. Num momento como esse, não temos muito que pensar e sim agir”, disse otimista. Ela vive do trabalho na roça, na cidade sertaneja de Monte Alegre (SE). Os outros agricultores que também vão ficar sem comer são de Para Maria Costa, do Movimento de Pequenos Agricultores do Piauí, é necessário engrossar a luta para apressar a decisão do governo federal. Ela vai participar, esta semana, do Congresso Latino-Americano das Organizações de Campo e lá informar aos agricultores de outros países sobre a greve de fome do frei. “Hoje é o São Francisco e amanhã podem ser outros rios a serem transpostos”, alerta. BISPOS – A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) já declarou solidariedade ao frei e bispo Luiz Flávio Cappio e disse que sempre defendeu a revitalização do rio e não a transposição. Inclusive, brevemente o Vaticano deve se pronunciar sobre a greve de fome do frei. “Temos quatro bispos brasileiros em Roma e tenho a certeza que eles vão falar com o papa Bento XVI. Se o Vaticano se inteirar do assunto poderá dar algum apoio”, opina Dom Mário Sivieri, bispo de Propriá (SE) e um dos 60 membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Ele chegou na última segunda-feira a Cabrobó. MISSA – A celebração feita às 10 horas de ontem, no palanque ao lado da capela onde o frei está fazendo o jejum e inclusive dormindo em um colchonete, emocionou muita gente. Apesar do sol forte, centenas de pessoas que estiveram na Fazenda Bela Vista ouviram atentas, protegidas com sombrinhas e panos na cabeça, as palavras do frei. E foi o freio Luiz Flávio Cappio quem deu início à missa: “Vamos rogar a São Francisco que toque no coração das nossas autoridades para que elas se sensibilizem e vejam que não podem levar adiante esse projeto da transposição. Escrevi uma carta e enviei pelo emissário do presidente da República dizendo que, no Nordeste, quando o fantasma do atual projeto de transposição tiver sido banido nós estaremos de coração aberto para conversar, Também foi lida a carta que o frei escreveu quando iniciou a greve de fome. Ele falou que não quer morrer, mas garantiu que não vai desistir do objetivo de evitar a transposição. “A greve de fome só será suspensa diante de documento assinado pelo presidente da República revogando o projeto de transposição. Caso o documento de revogação chegue quando eu não for mais senhor dos meus atos e decisões, peço que me prestem socorro e não me deixem morrer”. Por Janaina Cruz Da redação do Portal InfoNet“Reze uma Ave-Maria pela minha alma”. Foi assim que o frei Luiz Flávio Cappio respondeu à pergunta “E se o presidente não voltar atrás?” feita pela jornalista do Portal InfoNet sobre o projeto de transposição do rio São Francisco. Hoje, a greve de fome do frei, que também é bispo de Barra (BA), completa dez dias.
Alagoas, Ceará e Pernambuco. A sergipana Maria Isabel, de boina branca, aderiu à greve de fome
Para Dom Mário, o frei tem várias semelhanças com São Francisco de Assis, por isso a coincidência dos aniversários se torna mais interessante. “Francisco se identificou com a cruz e o frei com a cruz dos pobres do Nordeste, que precisam de água e terra para viver”, lembrou. Dom Mário Sivieri, bispo de Propriá, foi prestar solidariedade ao frei
discutir e ver as melhores alternativas de desenvolvimento do semi-árido. Eu agradeço de coração toda a solidariedade de vocês. E neste momento vamos iniciar a Santa Missa, que é a maneira mais simbólica, mais bonita de louvarmos a Deus e agradecer a nossa vida e a vida do rio. Para que o rio tenha vida e o povo tenha vida em abundância” Frei Luiz Flávio Cappio abriu a missa
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