Na opinião do padre Cássio Souza, do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no conjunto Bugio, o povo gosta de sinais. “Quando aqueles simples pescadores encontraram a imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba, em 1717, foi um sinal de Deus, mas não era Deus. Era um sinal que Deus estava com eles”, explica o padre. Assim, ele diz que a devoção não deve ser feita à imagem, e sim ao que ela representa. “A fé é diferente da idolatria porque na fé acreditamos em algo que não vemos, mas sabemos que existe. Já a idolatria refere-se a um objeto, uma pessoa e até mesmo uma imagem que colocamos acima de nós. Ao olhar para imagem de um santo devemos apenas lembrar quem ele foi”, adverte. Para o padre, outra característica importante da fé é que ela faz as pessoas mudarem de atitude e ajuda na superação das dificuldades. “Não se pode ter uma fé alienada. Viver na igreja, escondido atrás das orações e sem querer assumir uma doença ou indiferente com as tarefas familiares, por exemplo”. Portanto, ter fé é também ter coragem. E é mais ou menos assim que um tratamento de saúde complicado, como o de câncer, pode ser superado. O oncologista pediatra Anselmo Mariano Fontes garante que o exercício da fé é importantíssimo, mas é preciso disciplina, apoio, carinho e força de vontade. No caso das crianças, que não entendem bem a gravidade do problema, é papel dos pais transmitir a fé. E como isso pode ser feito? Doutor Anselmo, que trabalha no setor de Oncologia do Hospital João Alves Filho, diz que fazer o tratamento corretamente já é um grande passo. “Tem gente que mora no interior, muito longe, pega ônibus, vem de ambulância, mas não deixa de comparecer no dia marcado. Ajuda bastante acreditar que se tratando vai melhorar”, orienta o médico. Aliás, médicos também precisam ter fé. “Não adianta passar um remédio já achando que não vai ter efeito”, acrescenta. O “eu quero ficar bom” também está relacionado à mudança de vida. É o que garante a psicóloga Maria Cristina Cavalcanti, também do setor de Oncologia do João Alves. “O paciente deve abandonar aquela vida de estresse, maus hábitos alimentares e problemas afetivos que geraram o câncer”, orienta a psicóloga. Ela também alerta para a fé que chama de irresponsável. “O paciente não pode largar o tratamento e pensar ‘seja o que Deus quiser’. Acredito na fé, mas aliada à disciplina”, opina. No dicionário Aurélio, duas das definições de fé estão relacionadas com tudo que já foi dito nesta matéria pelos entrevistados: firmeza na execução de uma promessa ou de um compromisso. Crença, confiança. PROMESSA ATENDIDA – A secretária clínica Rosemary Santos sabe bem o significado da fé em sua vida. Quando o filho mais velho tinha apenas um ano de idade, em 1987, começou a ter crises convulsivas. As pernas do menino ficaram paralisadas e ele perdeu a coordenação motora. Os médicos não davam muita esperança de vida para a criança e os exames não apontavam o problema exato. “Um dia, em frente à médica, eu disse chorando que meu filho não ia morrer. Prometi à Nossa Senhora Aparecida que adotaria uma criança se ele continuasse comigo”, lembra Rosemary. “Hoje ele tem 19 anos. É atleta, jogador de futebol de salão. Nunca mais teve nada, nem uma crise convulsiva sequer. E eu atribuo isso à promessa que fiz. A fé foi a melhor solução. Até o último instante temos que perseverar, pois a fé realmente move montanhas”, enfatiza Rosemary. Por Janaina Cruz Da redação do Portal InfoNet
O Brasil vai testemunhar, amanhã e quarta-feira, duas grandes manifestações de fé: o Círio de Nazaré, que reúne mais de dois milhões de pessoas em Belém (PA), e a comemoração do dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país. Mas o que leva essas pessoas a acreditarem em santos e promessas? O que é a fé e como ela pode mudar a vida de alguém? Religiosos e profissionais da área de saúde têm opiniões parecidas sobre o assunto. Para Itamir Oliveira é necessário acreditar
EU QUERO – Foi a partir dessas duas palavrinhas que os milagres feitos por Jesus, e contados nos vários livros da Bíblia Sagrada, aconteceram. “Jesus perguntou ao cego: o que você quer? O cego então respondeu: eu quero enxergar. Deus não se impõe na vida de ninguém, se propõe”, enfatiza o padre Cássio. Padre Cássio diz que fé é diferente de idolatria
Cristina lembra do caso de um garoto que se tratava de câncer e, às vezes, não podia tomar a medicação por conta da febre. “Ele chegava para doutor Anselmo e dizia: ‘quero que essa febre baixe porque quero tomar a medicação’. Ele tinha convicção que ia ficar bom. E ficou”. A psicóloga Cristina e o oncologista Anselmo compartilham do mesmo conceito de fé
Ela não esperou a graça chegar. Procurou o Juizado de Menores e adotou uma menina, que morava na invasão do bairro Almirante Tamandaré e a mãe, muito pobre, não tinha condições de criar. Isso tudo aconteceu no mês de maio. Quando a festa de Nossa Senhora Aparecida chegou, em outubro, o garoto já estava curado. Rosemary exibe feliz a foto do filho que recebeu um milagre
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