Depoimentos – Seixas Dória

Edvaldo Nogueira

Edvaldo Nogueira
“Eu acho que Seixas é um exemplo de político para o Estado e para o Brasil. Poucos políticos enfrentaram a mesma situação que ele e saíram com a mesma dignidade. Seixas foi deposto e não aceitou voltar por uma declaração política contrária ao que ele pensava. Ele preferiu perder o mandato de governador a perder a dignidade. Ele merece o nosso maior apoio e é muito importante que os sergipanos da nova geração conheçam Seixas Dória, para verem que ele dignificou a política”

 

 

 

Luiz Antonio Barreto

Luiz Antonio Barreto
“Eu acho que 1964 é um ponto de referência na vida de Seixas Dória porque deu a Sergipe uma oportunidade de participação no plano nacional. Foi com ele que, a partir da campanha de Jânio Quadros, e da participação da campanha de mudanças da reforma de base do governo João Goulart, Sergipe entrou no noticiário nacional, e cumpriu um papel que coroou sua carreira de parlamentar. Como deputado federal em dois mandatos, ele foi o parlamentar que mais falou, deu entrevistas e fez conferências em todo o país. Defendendo as riquezas nacionais, denunciando o roubo das jazidas monazíticas no Espírito Santo, a questão do tório e de outros minérios. Por conta disso, ele foi um homem visado. Acho até que a sua punição em 1964 foi menos por sua posição ideológica, e mais pelo que ele incomodou durante anos, fustigando os maus brasileiros que vendiam tudo do país, e que estavam mancomunados com os interesses internacionais. Acho que houve em 1964 um linchamento, porque Seixas Dória não tomou nenhuma atitude, enquanto governador, que justificasse a perda do governo. O fato dele ter participado do comício da Central do Brasil não deveria fazer dele uma vítima do golpe, porque aí teriam que prender todo mundo que estava lá. E até hoje, 43 anos depois, o Brasil ainda clama pelas reformas que não fez antes. Enfim, eu atribuo a prisão e o envio dele pra Fernando de Noronha à vingança dos núcleos de empresa, atravessadores e lobistas, que tiveram influência na revolução de 1964. A desavença de Dória com Leandro Maciel também pode ter contribuído para a queda no golpe”.

Representatividade

“O efeito de Seixas Dória na política atual eu não identifico com muita nitidez. Explico. Seixas Dória se candidatou de novo, depois de cumprir a suspensão de direitos políticos, e não venceu. Em 1983 ele se candidatou a senador, e mais uma vez não se elegeu. Não acho que houve uma conscientização do povo sergipano sobre o que Seixas Dória representou. Porque, em Pernambuco, o Miguel Arraes voltou ao governo mais de uma vez, e constituiu um grupo político firme, tanto que o neto dele agora está no poder. Aqui não houve isso. Quem acompanha Seixas Dória? Que deputado estadual, ou vereador, ou deputado federal que tem um vínculo político com ele? Nenhum. Não tinha antes, porque ele é que atuava, e não teve depois como um efeito da sua grande e vitoriosa participação no cenário nacional. Eu vejo com cautela este desdobramento, essa imagem posterior, porque as urnas desmentiram qualquer ilusão a esse respeito”.

Veja Luiz Antônio Barreto contando como foi o 1º de abril de 1964


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João Oliva

Joao Oliva
“A minha experiência com o governo Seixas Dória foi uma das mais felizes da minha vida. Em 1963 eu nem pensava em fazer parte da equipe do governo, quando subitamente chegando em casa fui convidado por uma pessoa, através do telefone da parte do governador Seixas Dória, para ser o seu secretário de Imprensa. Tenho a impressão de que a indicação partiu de Luís Rabelo Leite, que depois foi secretário de Saúde. Aceitei, e começamos a lida. Uma coisa interessante que eu gostaria de frisar foi que o Seixas, em seu primeiro encontro comigo, me advertiu: “Eu não quero que você faça puramente um trabalho de elogios gratuitos ao governador. Quero que você registre os fatos do governo e as modificações que eu tiver de fazer para o bem do povo, e que você divulgue na imprensa. Sem precisar daquela forma laudatória”. Era comum naquela época exaltar o governador, mas Seixas achava que eu deveria entrar com prudência. E assim eu agi. Distribuía notícias, primeiro para o Diário Oficial e depois para os jornalistas creditados no Palácio. Era um tempo trepidante de vida política. Estávamos atravessando uma fase democrática, mas com perturbações. E Seixas ao se instalar no Governo procurou fazer um esforço de adequação à política nacional, mas sempre fiel às suas pregações democráticas. Sempre desejando as reformas e procurando meios de saída para o seu Estado. Viajava pra fazer convênios, para obter ajuda do Presidente da República e de altas autoridades federais. Logo ele começou um conjunto residencial e já tinha planos de ampliar as estradas. Nomeou um secretariado dos mais criteriosos, com pleno apoio e aplausos da sociedade. Nomes como Luís Rabelo Leite, Coronel Arivaldo Fontes, José Rosa de Oliveira Neto, Paschoal Maynard e Orlando Dantas. Enfim, deu uma infra-estrutura pronta para o deslanche do Estado”

“O Seixas praticamente ditou todo o manifesto. Ele apenas me disse: ‘Eu vou ser coerente com minhas idéias. Passei por Salvador e o Lomant me disse que tinha aderido, mas eu não aceito isto. Tenho que ser correto comigo mesmo. Eu quero fazer um manifesto à nação’. Nós tínhamos um gravador perto e eu peguei. Isso foi à noite, depois que chegamos do aeroporto, e o Luís Rabelo estava presente. Mas foi o Seixas quem ditou todas as palavras. Foi uma noite de afirmação e definição de ideais, uma noite marcante que ficou na história do Estado. Acabamos de fazer a gravação, emitimos a mensagem através da Rádio Difusora e ficamos à espera do que acontecesse. Já sabíamos que o Jango tinha sido derrubado, e viajado. Logo depois da mensagem divulgada, o destacamento do Exército chegou e deu voz de prisão. Ele foi julgado incompatível com os novos ideais da revolução”.

“A vida no Palácio era muito austera. Ele tomou toda a providência para manter a disciplina dos gastos e tudo. Certa vez viajamos para o interior, e o Palácio não tinha carros nobres, muita coisa era quase sucata. O carro oficial do governador pifou quando chegamos em Itaporanga. O chefe da Casa Militar ficou vexado para providenciar um outro carro de governo. Mas Seixas apressado disse que não iria esperar, que tentássemos parar o primeiro carro que passasse. Passou um ônibus e o Machado deu com a mão. Quando entramos no ônibus, eu e o Machado tratamos de tentar arranjar um lugar para o governador sentar. Mas ele não quis, preferiu se segurar nos suportes do teto do ônibus e vir em pé. Viemos nós três: o governador, o chefe da casa militar, e o secretário de imprensa em pé no ônibus até Aracaju. As pessoas se levantaram para tentar achar um lugar, mas ele não quis. E pode-se perguntar o motivo: o governador era uma pessoa natural. E em todos os gestos ele queria mostrar que tinha começado uma época nova para o Estado. Então ele exigia um governo de austeridade, em que os auxiliares compreendessem que essa era a palavra de ordem do governador. Ninguém procurasse viver nos cargos como uma comodidade, como regalia, mas sim como um serviço público”.

Veja João Oliva falando sobre Seixas Dória


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Ivan Valença

“Quando conheci João de Seixas Doria ele era ainda deputado federal por Sergipe. Integrava o que se chamava na época, entre 1961 e 1962, a chamada “bossa nova” da UDN, ao lado de outro político famoso já na época, José Sarney. Essa “bossa nova” remexeu os corações empedernidos dos udenistas históricos porque tomava posições claras, um pouco à esquerda dos triviais. Por exemplo: defendia o fato de Cuba escolher o governo que lhe conviesse e não apoiava nenhuma intervenção americana na ilha. Candidato ao governo de Sergipe pela Oposição – o seu partido, a UDN, era situação, na pessoa do governador Luiz Garcia – ele empolgava as massas através de comícios movimentados e muito bem freqüentados. Seixas sabia levar a massa ao delírio. No Governo, ele tentou imprimir uma marca própria, o que não foi fácil por vários motivos. Um deles, o conservadorismo no Estado era presença muito forte e, certamente, não apoiava o governador. O Estado era, como ainda hoje, pequeno e pobre – o petróleo descoberto em 1962 era ainda um sonho – e naturalmente qualquer projeto tinha que buscar dinheiro no país ou no exterior. Não era uma vida fácil, mas nem por isso Seixas vendeu a alma. Tanto que, no alvorecer do golpe militar de 1964, Seixas preferiu manter suas idéias intactas e seu coração ao lado das reformas de base. Preso, exilado, só sabia dele pelo que os jornais da época podiam noticiar. Até hoje, Seixas é um ícone da Política – e grafe-se política com P maiúsculo – sergipana e brasileira. Ao chegar aos 90 anos, ele mantém-se honrado e íntegro como sempre foi. Por isso faço questão de dizer que sou seu amigo”.

Veja o Histórico de Seixas Dória

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