Desabrigados de Maruim esperam casas para dezembro

Ana, Maria Dória e outras duas mulheres no abrigo em Maruim
Das mais de 200 pessoas que lotavam a Escola Municipal Cel. Sabino Ribeiro, na cidade de Maruim, muitas alugaram uma casa ou estão vivendo em casas de parentes. Hoje, 138 vítimas da enchente que assolou o município no último mês de maio vivem no Centro Escolar Maruinense (Cema). O endereço é novo, mas o desejo de ter uma casa para si ainda é o mesmo de 132 dias atrás.

 

Dona Maria Dória está no abrigo com os seis filhos e conta que sonha todos os dias com a casa prometida pela Secretaria Estadual de Inclusão e Desenvolvimento Social (Seides). “Disseram que em dezembro, no dia de Natal, entregam a chave para a gente. Tô numa ansiedade enorme”, disse a ‘Diu’, como é mais conhecida.

 

A ansiedade da turma de contemplados é tanta que eles já cogitam uma manifestação em frente ao Palácio dos Despachos em Aracaju. “Não é para fazer bagunça. É pra agilizar e transformar em realidade o sonho”, disse Maria Dória. A assessoria da Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas (Cehop) foi questionada sobre o cumprimento do prazo pela equipe de jornalismo do Portal Infonet, mas não enviou uma resposta até o fechamento dessa matéria.

 

Inquilinos ganham, donos não

 

José Jorge não terá direito a outra casa
A mesma esperança não podem ter alguns companheiros de luta de dona Maria, como o guarda municipal José Jorge. Antes da forte chuva ele alugou a sua residência para morar com a mãe cega, aproveitando para aumentar a renda familiar. “Depois do desastre, no cadastro do Governo pra ver quem ia receber casa, disseram que quem pagava aluguel teria direito, não o dono”, explicou Jorge.

 

Assim como Jorge, a doméstica Nivalda Santos diz estar em situação semelhante. Duas semanas antes de sua casa ir ao chão, ela se mudou para o lar da sogra, pois seu marido havia sido demitido do emprego. “Fiquei revoltada quando falaram que eu não teria esse direito. Sou pobre, recebi a casa de herança, era meu único bem e agora não tenho mais nada. A enchente deu minha casa de presente pro meu inquilino”, lamentou.

Boa assistência…

 

Cozinheiras servem almoço no abrigo
Desde o dia 10 de maio, os desabrigados não deixaram de serem assistidos socialmente. Ganharam roupas, vindas de todo o Estado através de doações, receberam colchões e diariamente são alimentados três vezes, cujas refeições são preparadas por funcionárias municipais.

 

Os materiais de limpeza são freqüentemente enviados pela prefeitura ao grupo, que precisa organizar e dividir as tarefas de limpeza do local. Mas em um lugar aonde 19 pessoas chegam a dividir o mesmo espaço como lar, manter um clima de harmonia é quase impossível.

 

…péssimo convívio

 

Cachorro é motivo de brigas no abrigo
O principal motivo de tanta discórdia? O melhor amigo do homem. Quer dizer, o melhor amigo da dona Diu. “Quase todas as brigas são por causa dessa desgraça de cachorro. O bicho está doente, fica pra lá e pra cá , botando nossa saúde em risco. Já saiu tapa aqui, inclusive o guarda levou na cara também. Aí teve que chamar a polícia pra dar um jeito”, descreveu dona Ana, uma moradora do Cema, cuja declaração foi rebatida pela dona do cão. “Ele é limpo e vacinado. Ninguém tira daqui”, disse.

 

Nesses últimos quatro meses, as vítimas da chuva em Maruim vão levando suas vidas de forma provisória em um prédio escolar desativado. A tristeza parece ter sido afundada pela esperança de terem novamente uma casa. Apesar dos desentendimentos, torcem para que as residências sejam em uma vila. “Todo mundo junto não vai ser ruim, mas cada um com seu cachorro preso em casa”, falou aos risos dona Ana.

 

Por Glauco Vinícius e Carla Sousa

 

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