Motoristas e cobradores também sofrem

Dores e depressão são motivos de afastamento dos profissionais
Não são só aqueles que precisam do transporte público para se locomover que sofrem com a precariedade do sistema. Quem precisa tirar o sustento trabalhando como motorista e cobrador também é vítima. “Nossa ferramenta de trabalho é muito ruim”, afirma o motorista Sandoval Silva.

 

Há três décadas trabalhando no sistema de transporte urbano Sandoval já sente na pele os efeitos desta triste realidade. Ele sofre de artrite há cinco anos, sente fortes dores na coluna diariamente e já perdeu 60% da audição de um dos ouvidos. “Ás vezes não ouço que o passageiro deu o sinal, passo do ponto e acabam me xingando. Como tenho esse problema peço sempre pra o cobrador me ajudar”, conta.

 

Sandoval sofre há cinco anos com a artrite
A perda da audição foi conseqüência de anos trabalhando ao lado de um barulhento motor. A artrite foi adquirida com os movimentos repetidos feitos o volante. As dores na coluna são o reflexo de horas sentado numa cadeira inadequada. Todos os problemas, que atingem não só Sandoval, são agravados pelo excesso de horas trabalhadas. Há profissionais que chegam a trabalhar quase 20 horas seguidas, às vezes com intervalos de apenas uma hora.

 

As principais queixas destes profissionais são as dores, principalmente na coluna. Os bancos dos motoristas e cobradores são os principais vilões. Em muitos casos não possuem regulagem e casos em que são improvisados. “Nosso material é péssimo. A minha cadeira é quase solta, não pode ajustar, não tem condições nenhuma de uso”, conta Jadson da Silva, que trabalha há seis anos como cobrador.

 

“Nosso material é péssimo”, afirma o cobrador Jadson
Jadson, que é deficiente físico, revela que ao final do expediente “se pudesse trocava o corpo por um novo”. Um motorista, que não quis se identificar, conta que sofre de insônia, entre outros problemas de saúde, e à noite, quando chega em casa após uma dura jornada, não consegue relaxar. “Durmo com o motor no ouvido”, afirma. “Quando a gente não agüenta mais pede atestado!”, salienta o cobrador José Joaquim Neto.

 

Afastamentos

 

O motorista que não quis se identificar com medo de represálias, conta que sofre de gastrite, doença adquirida com a má alimentação. “Não temos tempo para nos alimentar bem e quase nunca bebemos água”. Ele

Em alguns veículos as cadeiras são improvisadas
explica que isso ocorre por causa da carga horária corrida, “nem sempre é possível ter intervalo”, acrescenta. Por conta dos seus problemas de saúde, ele já teve que ficar afastado do volante por 10 dias.  

 

Já Sandoval precisou ficar afastado 90 dias por conta da artrite, que provoca fortes dores nas mão. Além disso, vários colegas de profissão estão afastados por conta de um outro grande problema, que atinge a categoria: a depressão. Esta é a segunda causa de afastamento de trabalhadores do transporte coletivo, de acordo com uma pesquisa do Conselho Nacional de Informações Sociais, realizado em 2007. A depressão perde apenas para os problemas ósseo-musculares.

 

 

Medico acredita que as paradas minimizariam os problemas
O presidente da Sociedade de Medicina do Trabalho do Estado de Sergipe, José Rivaldo dos Santos, aponta a depressão como o principal problema da categoria, já que é uma doença que eleva em 15% a probabilidade de suicídio. “É importante que o Ministério do Trabalho e a Previdência Social cobrem assistência médica e psicológica para esses profissionais, até como uma medida preventiva”, afirma, acrescentando que “com cada Real que é investido em Saúde e Segurança o empregador economiza de três a seis reais. Não é gasto, é investimento”. 

 

A parada

 

Rivaldo afirma que uma medida simples poderia minimizar a maioria dos problemas: a parada. “Atualmente não existem mais os finais de linha, onde os

Adierson: “Os empresários são sempre os mais cobrados”
profissionais podiam parar entre uma corrida e outra”. Rivaldo explica que o trabalho sentado por um longo período é o grande agravante e pode causar problemas irreversíveis como o aparecimento de hérnia de disco, além do estresse.

 

O presidente do Sindicato das Empresas do Transporte Público (Setransp), Adierson Monteiro, explica que  realmente não existe parada em algumas linhas de ônibus. “Depende da demanda de passageiros”, revela.  Ele disse ainda que a chamada “dobra” – quando o motorista e cobrador trabalham mais de 12 horas seguidas – acontece “às vezes”. “Acredito que essa não é uma constante no setor”, afirma. 

 

Medidas

 

 

Série de reportagem segue durante a semana
Adierson revelou que algumas empresas estão fazendo investimento para trocar os bancos dos motoristas e cobradores. “Essa é uma medida para melhorar a postura e conseqüentemente a saúde e qualidade de vida do colaborador”, afirma. Ele acrescentou que só não pode estabelecer um prazo de quando vão tentar solucionar esses problemas. “Os ônibus mais novos já vem com adaptação para a saúde do colaborador”, ressalta.

 

Ele fez questão de ressaltar que as empresas prestam um serviço público essencial e como todos, existem carências. “Não seria o transporte público um oásis de qualidade no país. Os empresários são sempre os mais cobrados”, afirma.

Esta é a terceira reportagem da série SOS Transporte Público, para conferir as reportagens que já foram publicadas e para enviar imagens da precariedade do transporte clique aqui.

Por Carla Sousa

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