Há pais e filhos que não se limitam a compartilhar a mesma aparência e o mesmo temperamento. Muitos deles transferem a ideia de herança própria da paternidade para o esporte. E neste Dia dos Pais, você verá três casos que mostram que as semelhanças familiares podem ultrapassar a genética para se expressar de outra forma: pelo amor a uma mesma modalidade esportiva.
Pai e mestre
Professor de várias gerações de atletas e até de professores de jiu-jitsu, o faixa-preta 5º grau Luciano Vieira trata seus alunos como filhos, mas também tem filhos entre seus alunos: a faixa-branca Vitória, iniciante no esporte, e o faixa-roxa Yuri Vinicius. Segundo Luciano, Yuri cresceu dentro da academia. “Quando ele era menor, eu não tinha com quem deixá-lo. Eu ia para a academia e a mãe trabalhava. Então ficava com ele das 14h às 22h no tatame. Criei nele o hábito de ter o tatame como casa antes mesmo da nossa própria casa”.
Apesar de ter ganhado de presente da avó um mini-quimono assim que nasceu, Yuri conta que chegou a se aventurar por outra modalidade até sentir que deveria mesmo seguir os passos do pai. “À medida que fui crescendo, vi que não tinha habilidade no futebol. Então tive que correr pro jiu-jitsu e pro judô. Vi que ali estava meu futuro, porque além de poder trazer medalhas pro meu estado, eu poderia honrar meu pai, que me colocou no caminho, e minha mãe, que sempre me incentivou”.
As trajetórias de pai e filho dedicadas à Arte Suave foram marcadas por vários encontros. Árbitro de judô e jiu-jitsu, Luciano conta que já foi juiz de diversos combates do filho, mas revela que isso não facilitou em nada a vida do jovem lutador. “Sempre converso com ele sobre isso. Não gosto de arbitrar as lutas dele. Mas quando o faço, digo a ele para não deixar a luta terminar empatada, pois senão dou a vitória para o adversário. Porque não quero ninguém comentando que ele só venceu por ser meu filho. É preciso deixar claro que ele chegou à vitória porque pontuou mais. Prefiro não arbitrar as lutas dele, mas se eu for escalado, sempre digo a ele: não deixe acabar em empate”.
Yuri reconhece a pressão, mas destaca o orgulho de ter um pai que é mestre no seu esporte. “Por ele ser faixa-preta e ser meu pai, às vezes é um pouco puxado sim. Há essa responsabilidade nas costas. Mas é motivo de alegria também, pois sei que ele vai me apoiar sempre. Se eu deixar de treinar ele vai me apoiar e se eu continuar treinando ele vai me apoiar mais ainda”.
Nadando com a corrente
Colecionadora de medalhas, destaque em todas as competições que disputa e prodígio da natação sergipana, Manuela Abdias entrou no mundo das piscinas graças ao pai Mauro. O detalhe, porém, é que o pai da atleta não é um mero entusiasta do esporte: nadador desde os 12 anos, ele compete até hoje, detém diversos títulos e até registrou recordes.
Apesar de sua forte relação com a natação, Mauro destaca que foi a filha quem escolheu a vida de atleta. “Foi por livre e espontânea vontade dela. Como eu já tive casa com piscina, ensinei minha filha a nadar, mas ela mesma quis competir. Acho que isso vem de família. Já tive sobrinho que nadou com Tiago Pereira, e lá em casa todos gostam de natação”. Mauro destaca ainda que apesar de ainda viver intensamente a natação, não faz papel de técnico com a filha. “Gosto e entendo um pouco, mas essa parte deixo mais para os professores. Mas é claro que a gente sempre dá um palpitezinho sobre a saída, a virada”. Manu confirma. “Ele atua mais como incentivador e torcedor. Se eu pedir alguma dica, ele me ajuda”.
A jovem nadadora também ressalta a importância de ter um pai nadador. “Significa muito para mim, me orgulho de ter um pai atleta. Serve como inspiração e é importante porque ele já passou por algumas coisas que eu passo, como nervosismo na hora da prova, e me ajuda por saber como é essa sensação”. Orgulhoso, Mauro se derrete ao falar da filha campeã. “Ter uma filha que faz o mesmo esporte que você é a melhor coisa que existe. É uma grande alegria”.
Jornada dupla
Com vasta carreira no futsal sergipano, Fabinho, ex-ala do Real Moitense e atual treinador do Baden Powell, se vira para conciliar os papeis de pai e treinador de Vitor Luis, 12 anos, e Vinicius Luis, de 7. Assim como o pai, o mais velho, Vitor, atua como ala no futebol de salão – uma modalidade que, segundo o pai, o próprio Vitor escolheu. E se seguir os passos do pai ex-jogador é lidar com a pressão de estar sendo observado em dose dupla, para Fabinho, a situação é difícil para o pai também.
“Meu filho tem que saber dividir entre o técnico e o pai para não levar para o lado pessoal. Quando a orientação é sobre futebol, é o treinador que está falando. No lado educacional, comportamental, é o pai. Mas na hora da substituição de jogador em quadra, quem tem que se policiar sou eu. Tenho que ver a parte técnica e tática dele”.
Fabinho fala com a experiência de quem já viveu o outro lado: seu pai, Manuel Cruz, foi seu treinador na seleção sergipana de Beach Soccer que foi vice-campeã brasileira em 2001 – um feito até então inédito para equipes nordestinas. “Meu pai foi meu treinador e sempre me dizia isso: ‘você tem que saber que você tem que estar sempre bem, porque vão te questionar por ser filho do treinador. Vão te questionar por achar que você só joga porque é o pai que manda no time’. A pressão é sempre maior”, disse.
Mas apesar do cuidado de não misturar as coisas ao lidar com seu próprio filho, Fabinho ressalta que o papel de treinador também inclui a paternidade. “A gente nunca deixa de tratar os outros atletas como se fossem nossos próprios filhos”.
Por Igor Matheus
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